Com quase 80 anos e mãe de quatro filhos, dois com necessidades especiais, dona Lurdes Pilatti Ambros não esconde o nervosismo ao lembrar-se do susto que passou no início da manhã dessa sexta-feira (09). “Nunca na vida passei por um medo tão grande. Não desejo uma coisa dessas pra ninguém”, diz.
Eram por volta das 8h quando o trio armado e encapuzado chegou à propriedade, rendendo a mãe e os três filhos que residem na comunidade de Vila Colussi, interior de Passo Fundo.
Dona Lourdes estava na frente de casa realizando as atividades diárias, enquanto um dos filhos – com necessidade especial – procurava a foice no depósito de objetos agrícolas da família. “Ele ia cortar o pasto para alimentar as vacas. Não faz muitas coisas, mas sempre que pode, ajuda”, conta ela, visivelmente abatida.
Os criminosos renderam a idosa e o filho que estava mais próximo. Um dos marginais dirigiu-se ao depósito, para render a terceira vítima. “A gente escutou o barulho do tiro vindo do paiol. Fiquei assustada e só pedia pra que eles não matassem meu filho. De tanto que implorei e disse que ele tinha necessidades, me deixaram ir socorrê-lo. Ele estava todo ensanguentado”, conta.
O sangue saia do braço, na altura do peito, onde o homem foi atingido pelo disparo. Havia sangue na cabeça, já que também foi agredido com coronhadas. Mesmo com os ferimentos, não foi poupado e precisou deitar no chão, ao lado dos irmãos e da mãe, enquanto os assaltantes reviravam a casa em busca de dinheiro e de armas. “Eles bateram também no Abel (filho que cuida da casa). Estava quieto, deitado que nem se mexia, coitado”, aflige-se.
Enquanto a ação ocorria, o telefone tocou. Era a filha de dona Lourdes. Ninguém atendeu e ninguém atenderia tão logo, afinal, o telefone foi quebrado em pedaços. Foram trinta minutos de angústia, vividos pela família. Os criminosos saíram do local somente depois que acharam as duas espingardas, além do dinheiro. “Meu filho disse onde estava a espingarda que foi do meu pai. Eles pediam da outra, que sabiam que tinha outra. Até que acharam”, narra.
Todos os móveis foram revirados. O 13° salário que a família recebeu e que seria usado para trocar as telhas da residência foi levado. “Eu tinha o dinheiro guardado em três lugares diferentes. Eles acharam e pegaram o dinheiro da carteira. Mexeram até nos sabonetes, onde eu guardava uma quantia do dinheiro. Parece que sabiam”, relata.
Além disso, a aliança de noivado, outro anel e a gaita que distraia a família foram levados. O trio só não mexeu na bíblia, onde tinha um “trocado”, junto com alguns documentos. Antes de saírem, desligaram a luz da propriedade e fizeram ameaças: se a polícia fosse chamada, retornariam para matá-los. Foram vizinhos que acionaram a Brigada Militar e as ambulâncias. No final da tarde o filho atingido pelo tiro deu alta do hospital e retornou para casa, para alívio da idosa.
A equipe da Defrec, responsável pelas investigações, esteve no local realizando levantamentos. Câmeras de monitoramento instaladas nas propriedades flagraram o veículo utilizado na ação e devem auxiliar nas investigações. Dona Lourdes acredita que a casa foi monitorada pelos bandidos. “Nas duas últimas semanas sempre tinha um carro que vinha até o portão, dava meia volta e ia embora. A gente não deu bola”, lamenta.