A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul (SSP/RS) divulgou ontem (9) os índices de criminalidade do primeiro semestre de 2019. Em Passo Fundo, os crimes de roubo e roubo a veículo tiveram as maiores quedas, em contrapartida, homicídios subiram 10% em relação ao mesmo período de 2018 e delitos relacionados ao tráfico de entorpecentes cresceram 30,6%, passando de 98 casos para 128. Delegado da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Diogo Ferreira avalia que o aumento em mais de 30% nos indicadores de crime de tráfico aponta para um combate maior no delito por parte das polícias. “Quanto mais se combate, mais ocorrência tem”, defende.
Segundo os dados, depois de crimes relacionados ao tráfico de drogas, o segundo maior aumento foi nos casos de homicídio, que passaram de 10 para 11 (10%), e furto de veículos, de 215 para 230 (6,97%). Latrocínio (roubo seguido de morte) teve um caso, tanto no primeiro semestre de 2018 quanto em 2019.
Já entre os indicadores que tiveram queda, o dado mais acentuado é o de roubo de veículos, que passou de 64 para 40 (-37,5%) e roubo, de 483 para 380 (-21,32%).
A reportagem analisou apenas os indicadores de homicídio, latrocínio, roubo, furto e roubo de veículo e tráfico.
Combate ao tráfico
De acordo com Ferreira, o aumento em 30,6% nos registros de tráfico de entorpecentes está diretamente ligado à ação das polícias, já que o crime em si, “não gera ocorrências”. “A justificativa é o combate. Quanto mais se combate, mais ocorrência tem. Até porque o tráfico não gera ocorrências. Ele só demonstra o quanto as polícias atuam ou não no combate. E um aumento maior demonstra que as policiais estão combatendo mais ferrenhamente”, destacou.
No primeiro semestre, a Draco trabalhou nas operações “Tosquia” e operação “Cavalo de Fogo”, em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), no combate ao tráfico de drogas.
Em março também foi preso um traficante conhecido por “Titi”, considerado pelas polícias como um dos maiores traficantes do município.
Na época, a polícia chegou a ele após receber um vídeo em que ele aparecia em frente a sua casa, no bairro Parque Farroupilha, portando um fuzil e fazendo uma série de disparos.
Segundo Ferreira, ele possuía contato com facções de Porto Alegre, o que torna marcante sua prisão no combate a esse delito em Passo Fundo
Titi já havia sido preso na segunda fase da operação Cataratas, em novembro de 2017, mas estava em liberdade desde o final de 2018, quando, segundo a investigação, voltou para o tráfico. Na sua casa, no dia da apreensão, foram encontrados dois tabletes de maconha pesando 36 gramas, R$ 4.430 em dinheiro, uma motocicleta esportiva e um veículo GM Cruze.
Na residência em frente à casa de Titi, onde funcionava o ponto de tráfico comandado por ele, foram apreendidos um revólver calibre 38, 10 buchas de cocaína, 5 pedras de crack, diversas porções de maconha prontas pra venda, balança de precisão, R$ 937 em dinheiro, 15 quilos de moedas, uma motocicleta e um Fiat Uno.
Desafio logístico
Ferreira destaca que a maioria das drogas consumidas e distribuídas na cidade vem da região da fronteira, sobretudo do Paraguai, com exceção das sintéticas, que também são distribuídas pelo litoral catarinense.
A nova lei de drogas sancionada em junho, não determina quais as quantidades que fazem alguma situação ser avaliada como posse de drogas ou tráfico. Nessas situações, embora não haja um texto específico, Ferreira aponta que se leva em conta a investigação por de trás da ocorrência fim, que leva a pessoa a ser presa.
“Às vezes você faz uma investigação com vários outros elementos de prova, mas no dia que tu prende apreende pouca quantidade, mas já comprovou, anteriormente, que é uma pessoa ligada ao tráfico. A quantidade não é só o fator determinante, mas a investigação.”
Do tráfico é que Ferreira aponta que surgem outros delitos, como furtos e roubos, para levantar dinheiro para manter a dependência química, e mesmo homicídios.
O que ele vê como desafio em Passo Fundo é a manutenção das prisões dos indiciados no crime de tráfico.
“O que ocorre: muitos traficantes que prendemos ficam dois meses e são postos em liberdade. E qual a consequência lógica? Voltam a traficar. Porque infelizmente temos alguns indivíduos que a vida deles é o crime. Eles não querem trabalhar licitamente. Então nosso principal desafio é que os traficantes presos fiquem presos. Porque se estiverem presos não estarão traficando na rua. Poderão traficar dentro do presídio, às vezes com uso do celular, comandando do presídio, mas não estarão traficando na rua”, defendeu.