Nós estamos abandonados

Diretor interino do Presídio Estadual de Sarandi, Adinaldo Piazza, diz que falta de efetivo dificulta trabalho na casa prisional

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Presos tiveram acesso ao pátio externo através de túnel de aproximadamente três metros de extensãoPresos tiveram acesso ao pátio externo através de túnel de aproximadamente três metros de extensão
Presos tiveram acesso ao pátio externo através de túnel de aproximadamente três metros de extensão
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Quatro dias após a fuga de oito detendos do Presídios Estadual de Sarandi, nenhum deles havia sido recapturado até o final da tarde de ontem. O grupo escapou durante a madrugada da última sexta-feira, por um túnel aberto no piso da cela, de aproximadamente três metros de extensão. Em junho passado, outros nove presos já haviam escapado do local.


Diretor interino da casa prisional há cerca de 4 meses, Adinaldo Piazza, afirma que o número reduzido de agentes penitenciários para fazer a segurança no local é o principal problema. Com capacidade para 107 presos no regime fechado e 64 no albergue, a população carcerária ontem à tarde era de 236 presos. Todo o efetivo é de apenas 15 servidores que se dividem nos plantões. "Em alguns turnos temos apenas dois agentes para fazer a segurança em todo o complexo. Como vamos entrar numa cela de 30 presos durante a madrugada para saber se estão escavando um túnel? Nós estamos abandonados" diz o diretor.

Mesmo em número reduzido, os plantonistas na madrugada de sexta-feira, conseguiram evitar a fuga de outros sete presos que estavam na mesma cela. Também impediram a ligação, através da parede, com a cela vizinha, onde havia outros 14 detentos. Através das câmeras de monitoramento, a servidora percebeu a movimentão no lado de fora e alertou o colega. Ao correr para o lado externo, ele foi recebido a balas por ocupantes de dois veículos que aguardavam os fugitivos na rua.

Construído ainda na década de 60, a estrutura do presídio de Sarandi não oferece resistência. Com as paredes internas das celas deterioradas pela umidade ocasionada pelas infriltrações, os presos não encontram dificuldades nas escavações. Prova desta facilidade foi a fuga ocorrida em junho deste ano. Na ocasião, eles abriram um buraco no teto de uma das celas e nas paredes, interligando outras três celas. Dos 40 presos que estavam nestes espaços, nove deles conseguiram escapar.

"Temos apenas um postigo para olhar no interior das celas. Num local com 28 a 30 presos, não se consegue ver nada. Já tivemos situação de emergência com apenas um agente sozinho no presídio" revela.

Proximidade com a rua

Além das condições precárias de prédio, a proximidade dele com a rua e a falta de uma tela de proteção sobre o pátio, têm sido um facilitador das fugas. Segundo o diretor, é cada vez maior o volume de objetos arremessados sobre a cerca para o pátio interior. Além de drogas e celulares, os presos recebem via arremessos, ferramentas como brocas, chaves de fenda, pedaços de ferro e outros objetos utilizados na escavação de paredes e túneis. "Já encaminhei essa situação para o Ministério Público de Sarandi, existe um projeto para instalação de uma tela protetora, mas por enquanto, não saiu do papel" comenta Piazza.
Segundo ele, essa situação teria facilitado a rebelião ocorrida em fevereiro deste ano, provocando a morte de dois presos. "Com pouco efetivo fica difícil fazer revistas periódicas nas celas, quem vem sofrendo com esta situação são os próprios agentes" comenta o diretor.

Presos da região metropolitana

As constantes prisões realizadas, principalmente pela Polícia Rodoviária Federal, nas rodovias da região, têm levado para o Presídio Estadual de Sarandi, presos da região metropolitana do Estado, considerados de alta periculosidade. Boa parte destas prisões ocorre por tráfico de drogas. "Acontece que os presídios de lá estão lotados, então dificulta muito a transferência. São presos com perfil perigoso que acabam organizando as fugas", observa.



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