Índice da criminalidade se mantém na média

Com exceção do roubo à residência, que registrou aumento relevante este ano, os demais crimes mantiveram a média ou até apresentaram redução

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Para o delegado, o ano de trabalho é avaliado como positivoPara o delegado, o ano de trabalho é avaliado como positivo
Para o delegado, o ano de trabalho é avaliado como positivo
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Considerado o crime mais violento, por se tratar de roubo com morte, o latrocínio manteve a mesma média do ano anterior, em Passo Fundo. Foram seis roubos que resultaram na morte das vítimas, para cinco, no ano passado. Desses, quatro casos foram esclarecidos e dois ainda são investigados pela equipe da Delegacia Especializada em Furtos Roubos Entorpecentes e Capturas (Defrec).


De acordo com o delegado titular, Diogo Ferreira, um conjunto de fatores leva o marginal a agir de forma mais grave, durante um assalto. A reação das vítimas aparece em primeiro plano como motivação e é seguida pela inexperiência do autor, bem como o provável consumo de drogas. “Em São Roque, por exemplo, os autores disseram que viram a vítima pegar o telefone e acharam que estava armado. Eles também eram todos novos, ou seja, é um pouco de imaturidade, afobação e inexperiência, somado ao receio da reação da vítima”, explica.


Ainda, em outros dois exemplos, é possível identificar os fatores principais, citados por Ferreira. “No caso do Bom Recreio, na boate, a vítima estava fugindo. É provável que eles tenham achado que o proprietário pegaria uma arma para reagir”, diz e acrescenta: “E no caso do Boqueirão, a vítima também reagiu”, completa.


Já sobre o uso de drogas, não se pode afirmar que os autores agiram sob efeito dos entorpecentes, mas, segundo o delegado, invariavelmente há uma ligação com os ilícitos. “Ou são usuários, ou atuam influenciados pela droga ou até traficam”, conclui.


LINHA DO TEMPO:
15 de janeiro: Sergio Augusto Vieira, 60 anos, foi morto covardemente dentro da própria casa, que fica no bairro Jerônimo Coelho. Ele era cadeirante e morreu durante a madrugada de um domingo, vítima de golpes de faca.
29 de abril: Lucas Rodrigues de Felipo, 23 anos, foi atingido por um tiro no peito, durante uma tentativa de roubo de veículo. O fato ocorreu na rua Paissandu, Petrópolis.
29 de junho: Felipe Raiher, de 27 anos, foi morto na rua Miguel Vargas, bairro Boqueirão, por marginais que roubaram o celular da vítima.
30 de setembro: Rudinei Soares da Silva, de 29 anos foi esfaqueado durante um assalto, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. O crime ocorreu na rua Gervásio Annes, na Vila Luiza, próximo à escola Antonino Xavier.
25 de outubro: Antônio Roberto Lubian, 58 anos, foi atingido por um tiro na cabeça, no momento em que acionava a Brigada Militar para informar sobre o roubo do seu veículo. O fato ocorreu na localidade de São Roque, interior de Passo Fundo.
08 de dezembro: José Valdecir de Moraes, 54 anos, foi morto a tiros no Bairro Bom Recreio, também no interior de Passo Fundo. O fato ocorreu em uma boate, às margens da ERS 153.

Veículos
Responsável por investigar roubos e furtos de veículos, além das recuperações e das receptações de automóveis, a Defrec encerra o ano com saldo positivo no que se refere a esses crimes. “Mantivemos a mesma média de 2016”, diz. Conforme Ferreira, os furtos ficaram perto de 580 registros e, somadas as recuperações da Brigada Militar e da Polícia Civil, se chega a uma média de 50 a 60 veículos por mês.
Já em relação aos roubos, as caminhonetes foram o grande alvo dos marginais. “A partir de agosto, quando foi deflagrada a ‘Operação Hermanos’, o número diminuiu bastante em comparação ao ano anterior, mas, como no início do ano teve uma elevação, os números permaneceram os mesmos”, esclarece.
A Operação Hermanos atacou um grupo de assaltantes, que roubava caminhonetes ou veículos de grande potência. Em sete meses de investigações que resultaram em duas fases da operação, 26 pessoas envolvidas no esquema foram presas, inclusive, os líderes.

 

Hermanos : a organização criminosa

Dois moradores de Marau comandavam o esquema. Os cabeças atuavam como batedores. Em Passo Fundo estavam os assaltantes, que subtraiam os veículos, escondiam e trocavam as placas. Aqui também estava o fabricante das placas falsas. Elas eram clonadas de veículos similares, que rodavam pelas ruas.


Após o roubo da caminhonete, os marginais escondiam em um determinado mato, adulteravam os sinais de identificação do veículo e saíam em viagem, sempre no período da noite, em direção à Argentina. Pouco a frente do veículo roubado, viajava o batedor. Ele sinalizava se havia polícia na estrada e se havia abordagens no caminho.


Quando chegavam aos municípios da fronteira, entregavam o veículo. Eles recebiam R$ 5 mil em espécie e o restante do valor em cigarros. “Algumas vezes trocavam por armas e drogas”, conta o delegado.


Ao chegar em Passo Fundo, a mercadoria era repassada por um valor menor do que a do mercado. “Vendiam os cigarros para revendedores ou nos próprios mercadinhos e bares de bairros. Já as armas eram entregues para os criminosos”, esclarece.
Na fronteira, o receptador atravessava a caminhonete para Argentina, pelo Rio Uruguai. “Não usavam a balsa normal. Chegavam a encostar dois barcos e carregavam o veículo neles. Acreditamos que algumas caminhonetes tenham caído no rio, pois não se preocupavam muito se havia correnteza no momento da travessia”, conclui.

Comércio e residências
Outra boa notícia é em relação aos roubos em estabelecimento comerciais, que tiveram uma redução de 7,5%. No ano passado se chegou a 172 registros, para 159 este ano. Em contraponto, o número de assaltos à residência aumentou significativamente. De 49 roubos registrados no ano anterior, o número passou a 64 este ano, contabilizado até novembro. “Houve um salto entre agosto, setembro e novembro, meses que destoaram totalmente dos demais”, relata.


Para Ferreira, a alteração nos índices pode ter ocorrido devido ao tipo de criminoso que está nas ruas. “Quem pratica roubo a estabelecimento comercial, não pratica roubo a residência, pois são formas diferentes de agir: o primeiro é, teoricamente, mais fácil de praticar e o segundo demanda uma organização maior dos autores”, esclarece e continua: “Entre 2015 e 2016 foram presos muitos envolvidos com roubos a estabelecimentos comerciais, que eram da faixa entre 15 e 30 anos, e que, possivelmente, ainda estejam e cárcere, um dos motivos que auxiliou nessa redução”, afirma.


Por outro lado, a maioria dos envolvidos nos assaltos a residências, que foram identificados pela polícia, já tinham antecedentes e, inclusive, eram foragidos do sistema prisional: “Não só daqui, mas também de Carazinho, Três Palmeiras e demais casas prisionais”.
Os envolvidos que cometeram os assaltos de maior repercussão – com violência, usando uniforme da polícia ou levando um valor relevante – foram identificados e a maioria dos envolvidos já está presa. “Pelos resultados efetivos, avalio este ano como positivo. Encerramos 2017 com um número recorde de prisões na Defrec, que contabiliza quase 200. Fizemos prisões importantes, tanto no combate ao tráfico, em que foram presas pessoas chaves, como, também, no furto e roubo, o que reflete imediatamente nos índices”, conclui.

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