Há cinco meses um detento do Presídio Regional de Passo Fundo foi encontrado morto no banheiro do alojamento Seguro – onde ficam os presos que correm alguns riscos em relação aos demais. Na época, o óbito foi registrado como suicídio, mas, após denúncias feitas pelos próprios familiares, a Polícia Civil apurou que Douglas Lima de Almeida foi assassinado.
Três apenados foram indiciados por homicídio qualificado. Do trio envolvido no crime, dois realizaram a ação e o terceiro deu a ordem. Segundo a delegada responsável pelas investigações, Daniela de Oliveira Mineto, as testemunhas foram determinantes para a conclusão das investigações, já que o laudo pericial apontou somente enforcamento. “Colhemos relatos de testemunhas que viram quando Douglas foi gravateado por colegas de cela e, também, de presos que ouviram quando um dos suspeitos mandou mata-lo”, esclarece.
As investigações também contaram com algumas provas, entregues pelos familiares de Douglas à polícia. O print screen da tela do celular da mãe do detento, que mostra o horário e o tempo das ligações recebidas pelo filho, horas antes da sua morte, e, também, das que ela realizou à casa prisional, foram anexados às investigações. O inquérito policial foi concluído nesta semana e remetido ao Poder Judiciário.
O caso
No segundo final de semana deste ano, “Dôga”, como é conhecido, realizou ligações para mãe dele, pedindo socorro. “Ele dizia ‘tão fazendo um buraco na parede da cela, pra passar a corda. Eles vão me matar’”, contou a mãe, à época do fato, ao O Nacional.
Marli Pereira de Lima realizou duas ligações para a penitenciária e relatou a uma agente penitenciária sobre o que havia ouvido do filho. A mãe também pediu para que tirassem o detendo do alojamento, antes que fosse morto, mas depois que desligou o telefone, não conseguiu mais contato com o presídio.
A mãe continuou a conversar com Douglas até às 2h da manhã, quando o filho finalmente se acalmou e dormiu. Depois de então, o próximo telefonema que atendeu foi ao amanhecer, de um colega de cela do filho, informando sobre sua morte.
Motivação
Apesar do envolvimento com droga, Marli afirma que o filho foi morto por uma disputa de espaço dentro da casa prisional. Dôga teria um desentendimento com outro preso, o “Prefeito” – aquele que comanda o espaço – da galeria B. “O prefeito foi transferido para Erechim, mas de lá, continuava mandando na B, por telefone. Quando ele voltou, meu filho estava na cantina. Ele não aceitou. Disse que meu filho não ia ficar circulando ali”, relata.
Almeida teria sido tirado da cantina, por ordens do detento conhecido como “Prefeito da B”. Marli conta que foi ao Ministério Público e denunciou o esquema dos detentos na casa prisional, o que motivou a transferência de Dôga ao alojamento seguro, afinal, corria risco. “Ele – o prefeito – quem deu a ordem pra matar meu filho”, completa.
Segundo a titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) o indiciamento foi por motivo torpe: “Ficou claro que o assassinato foi praticado para mostrar poder”, esclarece Daniela. Os três acusados foram ouvidos no decorrer da investigação e negaram autoria.
Susepe
A Corregedoria Geral da Susepe instaurou sindicância para apurar as circunstâncias da morte do apenado ainda no dia 15 de janeiro, um dia após o fato. De acordo com o Corregedor-Geral, Bruno Carlos Pereira, a investigação está em andamento. “A sindicância vai apurar se houve conduta irregular de funcionários que possa ter ocasionado a morte do detento, naquela ocasião, sob custódia do Estado”, esclarece. Ainda, conforme Pereira, não há prazo para conclusão das diligências.