'Foi um ato covarde', diz diretor de escola

Educandário instaurou sindicância para apurar autoria de bilhete ofensivo deixado em mochila de aluna

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A Polícia Civil deve solicitar exame grafotécnico para analisar a caligrafia utilizada no bilhete, com conteúdo discriminatório, deixado na mochila de uma estudante, de nove anos. Os policiais também pretendem analisar imagens externas registradas pelo sistema de monitoramento do educandário. A investigação é da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).


O caso foi descoberto na manhã de terça-feira, quando a mãe da estudante preparava o material escolar da filha. A menina é portadora da síndrome de down e frequenta o 2º ano de uma escola da rede particular de ensino, em Passo Fundo. Entre os cadernos, estava o bilhete com as seguintes frases ofensivas: "Negro na senzala, gay no armário, retardado na Apae". Logo abaixo das frases a inscrição B17.


Revoltada com as mensagens, a mãe disse ter amassado o papel. Inicialmente pensou em jogá-lo no lixo, mas mudou de ideia. "Não podemos baixar a cabeça toda vez que levamos uma paulada. Resolvi dar minha cara a tapa e enfrentar", revelou.


Os pais procuraram a direção da escola e registraram um boletim de ocorrência na Polícia Civil. Ontem à tarde, ela elogiou a postura da escola e disse que a filha nunca havia sofrido nenhum tipo de bullying anteriormente. "Muito pelo contrário, ela é sempre bem recebida pelos colegas, funcionários e professores. Participa de todas as atividades, assim como outras crianças especiais que estudam lá. Por isso, nos pegou de surpresa", comentou.


A mãe suspeita de que o bilhete tenha sido colocado na mochila da filha como forma de intimidação por motivações políticas. "Chegaram ao cúmulo de dizer que eu mesma havia deixado o bilhete na pasta dela. Usaram a minha filha para me atingir", diz.


A notícia divulgada na imprensa ontem à tarde, gerou uma enxurrada de comentários ofensivos nas redes sociais. Indignada, ela e o marido estão encaminhando os conteúdos ao advogado da família. "A gente perde o medo, a vergonha, qualquer coisa para defender um filho". Por outro lado, as manifestações de solidariedade aos pais chegaram de várias partes do Brasil, inclusive de outros países.

Direção apura o fato

"O conteúdo do bilhete ofende a todos, porque também sou negro". A frase do diretor da escola, traduz o sentimento de indignação da comunidade escolar. Ele disse que a escola se solidariza com a família e está dando todo o apoio necessário.


Além disso, várias medidas já foram adotadas desde que o fato veio à tona. Ainda na quarta-feira, os estudantes levaram para os pais um comunicado onde a direção repudia veementemente o ato de cunho racista, homofóbico e preconceituoso. "... não pode compacturar com tal atitude, pois contraria todos os seus princípios ao qual está regido durante todos os seus 98 anos de permanência na cidade de Passo Fundo", diz um trecho do texto.


Ainda conforme o diretor, uma sindicância interna já foi instaurada para apuração dos fatos. A intenção é ouvir professores, funcionários e demais servidores. Algumas imagens registradas pelas câmeras instaladas na portaria já foram analisadas pela direção e serão repassadas à polícia. Fotos da mochila da menina serão comparadas com as imagens gravadas no sistema.


O diretor definiu o ato como 'covarde' e enfatiza que ele precisa ser repudiado e levado às últimas consequências. "A letra não é de uma criança. As frases não são de uma crianças. Usaram uma criança para atingir um adulto. Teremos uma postura muito firme se chegarmos ao autor", desabafou, ao mesmo tempo em que lamentou o fato ter acontecido num educandário, que segundo ele, tem um projeto pedagógico pautado pela inclusão. A escola também acionou o departamento jurídico da rede metodista, em São Paulo, e convocou o Conselho Escolar, para auxiliar no caso.


APAE
Através de nota divulgada ontem à tarde, a APAE de Passo Fundo também se posicionou em relação ao conteúdo do bilhete. Confira a nota na íntegra


"É inapropriado utilizar terminologias pejorativas ao se referir às Pessoas com Deficiência, pois todas, antes de possuírem qualquer diagnóstico, devem ser respeitadas na sua singularidade.


Não é demérito frequentar a APAE e usufruir dos serviços que a Instituição oferece nas áreas da Assistência Social, Saúde e Educação, pois todos são prestados com seriedade, competência e comprometimento.


A APAE cumpre há 51 anos o seu papel na defesa e garantia dos direitos das Pessoas com Deficiência e repudia qualquer tipo de preconceito que venham a sofrer".

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