Por decisão da família, o corpo do senegalês, Cheikh Cisse, 22 anos, será transladado para seu país de origem. O jovem morreu soterrado, na manhã de ontem, enquanto trabalhava na costrução de um galpão, às margens da BR 285, saída para Carazinho. Peritos do Instituto Geral de Perícia (IGP), fizeram levantamento no local. O caso será apurado pela Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos de Passo Fundo (DEHD).
Natural da cidade senegalesa de Touba, Cheikn estava há cerca de três anos e meio no Brasil. Ele era funcionário da empresa Traçado-Andreta e residia em Erechim. Ontem, por volta das 8h45min, o imigrante trabalhava no nivelamento de uma valeta, no fundo do terreno, perto de um muro, de aproximadamente 2,5 m de altura por 1,5m de largura e 40 metros de extensão.
De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima estava acompanhada de outros dois colegas dentro da valeta. Em um determinado momento, Cisse se deslocou para buscar a mangueira de medir nível, quando parte da parede de terra desmoronou. Segundo testemunhas, o jovem ainda tentou correr, mas acabou soterrado. Equipes de bombeiros e Samu foram acionados, mas a vítima não resistiu e morreu no local. Para evitar novos riscos de desmoronamento, o local foi isolado.
Acionado, o Ministério do Trabalho deve vistoriar o local ainda hoje. Chefe de investigação da DEHD, Volmar Menegon, disse que será instaurado inquérito por acidente de trabalho para apurar possíveis responsáveis. O representante jurídico da empresa, Gismael Brandalise, chegou em Passo Fundo no final da tarde. Ele informou que ainda não havia conversado com os funcinários, mas adiantou que a empresa estava dando todo o suporte necessário.
Tristeza na comunidade senegalesa
O acidente que provocou a morte de Cisse ocorreu no dia seguinte à celebração feita por toda a comunidade senegalesa, em homenagem ao nascimento do profeta Maomé. "Ontem, (segunda), a gente tava lá comemorando e agradecendo, hoje (ontem), recebemos essa notícia triste para todos nós", declarou emocionado, o presidente da Associação dos Senegaleses de Passo Fundo, Aliou Thiam. Ele informou que a entidade vai tomar todas as providências do traslado do corpo para Senegal.
Bastante abalado, o tio de Cisse, Mbacke Kebe Cisse, acompanhado de outros imigrantes, aguardava, ontem à tarde, a liberação do corpo do sobrinho, no Departamento Médico Legal, na Universidade de Passo Fundo. Momentos antes, ele havia ligado para o irmão, em Touba, informando a morte do filho. "Ficou desesperado. A decisão de levar o corpo para lá foi dele, vamos respeitar. Se preciso, nossa comunidade se reúne e paga as despesas, como fizemos em outras oportunidades", declarou. Mbacke reside e trabalha em Veranópolis. Tio e sobrinho se comunicavam quase que diariamente pelas redes sociais. "Falei com ele no sábado. Era como um filho". Como a maioria dos imigrantes, Cisse deixou a esposa no Senegal para trabalhar no Brasil. Ele não tinha filhos.
Segundo caso
Cisse foi o segundo senegalês morto por acidente em Passo Fundo, desde a chegada dos primeiros grupos, em 2007. Em maio do ano passado, Serigne Diakhate, de 32 anos, morreu carbonizado durante incêndio na residência em que morava, na Rua 7 de Setembro, esquina com a Rua Duque de Caxias, Vila Cruzeiro. Na oportunidade, a comunidade senegalesa se reuniu e conseguiu recursos para transladar o corpo do imigrante ao país de origem.