O Sindicato dos Bancários de Passo Fundo deve apresentar, durante reunião com o Sistema Diretivo da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Finaceiras do RS, Fetrafi/RS) na próxima semana, em Porto Alegre, um pedido de esclarecimento sobre as circunstâncias da morte do bancário Rodrigo Mocelin da Silva, 37. O documento deverá ser encaminhado à Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Funcionário da agência do Banco do Brasil, em Ibiraiaras, Mocelin foi feito refém pela quadrilha que atacou duas agências segunda-feira à tarde no município. Colocado no porta-malas de um dos veículos usado pelos criminosos, ele acabou sendo atingido por um disparo durante a fuga do bando.
"Já passamos um relato do caso para a Federação. Não sabemos o que aconteceu no momento, mas como havia reféns na fuga, não poderia ter troca de tiros. O Banco tem seguro sobre o dinheiro. Tem que zelar pela vida das pessoas. Talvez tenha ocorrido imprudência da Brigada. Queremos esclarecer os fatos", declarou Nelson Antônio Fazenda, integrante da diretoria do Sindicado dos Bancários de Passo Fundo.
No dia seguinte ao ataque em Ibiraiaras, o titular da Delegacia de Repressão ao Roubo, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado João Paulo de Abreu já havia declarado que um dos principais focos da investigação seria justamente o de apurar de onde partiu o disparo que matou o bancário. "Há duas possibilidades, uma delas é o tiro ter partido dos criminosos, ou dos policiais. Vamos trabalhar para esclarecer o evento. De que forma ele foi ferido, como e por quem", declarou o policial na oportunidade.
O município de Ibiraiaras está dentro da área de atuação do Sindicato dos Bancários de Passo Fundo, juntamente com outros nove municípios da região norte do Estado. Pelo menos a cada duas vezes por mês, um grupo de sindicalistas percorre essas cidades para visitar as agências. A intenção é verificar as condições de trabalho e se as normas da legislação estão sendo cumpridas.
Na primeira quinzena de novembro, Nelson Fazenda esteve na agência do Banco do Brasil de Ibiraiaras e conversou com Rodrigo. Na oportunidade, a visita teve como pauta, a possibilidade de privatização da instituição durante o mandato do presidente eleito, Jair Bolsonaro. "Era uma pessoa tranquila, demonstrou uma visão muito consciente sobre o futuro do país. Apesar do pouco tempo trabalhando na cidade, já havia se entrosado com os colegas, inclusive da agência do Banrisul, que fica ao lado", observou.
Pesadelo
No entendimento do sindicalista, a onda de ataques que as agências da região vêm sofrendo nos últimos meses, pode iniciar um processo de resistência dos funcionários em atuar nos pequenos municípios. A possibilidade de fazer carreira dentro da instituição e criar os filhos em uma cidade tranquila, está deixando de ser uma opção atraente para se tornar pesadelo.
"Há muito pouco, ou nenhum policiamento em algumas cidades. Elas estão completamente desprotegidas. Essa situação propicia a ação das quadrilhas. É a lei do menor esforço. Os bancos públicos existem nessas localidades para cumprir uma função social, auxiliar essas comunidades no desenvolvimento econômico e condições sociais. É uma obrigação estar nesses locais".
Segurança
Fazenda afirma que a questão da segurança é uma pauta constante nas reuniões que acontecem entre representantes da Fetrafi/RS e Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf). São pelo menos cinco encontros durante o ano entre os dirigentes sindicais. Uma das reivindicações da categoria, para reduzir a exposição dos funcionários, segundo ele, é a instalação da porta giratória nas entradas das agências, antes da sala de autoatendimento. A medida dificultaria o acesso e também protegeria funcionários que trabalham no autoatendimento sem proteção alguma. "É uma reivindicação antiga. A alegação dos bancos é que demanda custos", afirma.
Outra medida solicitada é a instalação de vidros blindados na frente das agências. "Acredito que com os últimos acontecimentos essa reivindicação vai fervilhar na pauta dos banqueiros. Segurança é um item que sempre está sendo debatido com eles (banqueiros). Não visa só a segurança dos trabalhadores, mas também dos clientes, que podem virar reféns nessas ações", observa.