Como foi a ação da BM em Trindade do Sul

Policiais apostaram, durante quatro dias, que o grupo de assaltantes estava em um mato, no interior do município. Alguns sinais como a interceptação veículos que fariam o resgate do grupo deram a certeza de que a estratégia estava correta

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Sargento da BM foi uma das que comandaram a operação desde o inícioSargento da BM foi uma das que comandaram a operação desde o início
Sargento da BM foi uma das que comandaram a operação desde o início
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Aguardar distante duas quadras das agências bancárias até que a ação criminosa fosse concluída e seguir a quadrilha com um afastamento seguro, que não colocasse os reféns em risco, foi a primeira estratégia adotada pela Brigada Militar, durante o assalto às agências bancárias de Trindade do Sul, na semana anterior.


A decisão tomada pelos policiais do pequeno município gaúcho, embora criticada logo em seguida por alguns moradores locais, teve como objetivo resguardar a vida dos reféns. “Nós não íamos colocar em risco a vida de um inocente e nem eles – os assaltantes – queriam o confronto naquele momento”, diz a sargento Nelde Ciqulero, que coordenou a ação.


Com a certeza de que as vítimas haviam sido liberadas cinco quilômetros distantes da cidade, as viaturas aumentaram a velocidade e se aproximaram do veículo em fuga, um C3 bordô. Foram os pregos retorcidos que pararam a perseguição. “Nós desviamos dos miguelitos até que deu, mas como eram muitos, em determinado momento os pneus furaram”, conta.


A pé e sem outro recurso para continuar o acompanhamento, os policiais decidiram abordar e pedir carona em outros veículos que passavam próximo, enquanto o reforço da região não chegava. Foi numa dessas abordagens, que a sargento se deparou com um homem suspeito. Ele estava em um automóvel Gol rebaixado, visto pela comunidade nas imediações, pouco antes do ataque. Ele seria o responsável por dar apoio na fuga da quadrilha.


O motorista do veículo admitiu o envolvimento, mas não revelou a rota tomada pelos comparsas. “Nós sabíamos que estávamos no caminho certo, mas eram 25 mil hectares de mato em reservas indígenas e muitos quilômetros a percorrer. Não sabíamos se eles estavam a pé, se tinham mais reforço e não havia qualquer outra informação que nos ajudasse. Nós os perdemos de vista”, relata.


Logo outras viaturas, além de um helicóptero da Polícia Civil de Chapecó/SC, chegaram. As buscas seguiram noite adentro, com forte aparato policial. “Havia policiais de toda a região, inclusive foram chamados os que estavam de folga ou de férias”, diz. Foi feito contato com a comunidade, para que contribuíssem coma polícia e traçado mapa com todas as possíveis rotas de fuga, mas os bandidos não haviam deixado rastro.


Quanto mais o tempo corria, menos policiais se mantinham no cerco. Na sexta-feira, todas as estradas possíveis, das principais aos pequenos acessos, já haviam sido percorridas pelas guarnições que restaram – policiais do próprio município e o reforço das cidades mais próximas, como Nonoai, além de alguns policiais da inteligência da Capital Gaúcha. “Nós não tínhamos certeza de que eles estavam escondidos no mato. Achamos várias vezes que eles já estivessem longe, mas resolvemos insistir mais um pouco”, diz.


Foi na insistência em manter as viaturas circulando entre Liberato Salzano e Trindade do Sul – região onde poderiam estar – que a polícia soube de uma movimentação no entardecer da sexta-feira. “Foram ouvidos assobios dentro do mato. Eles se movimentaram, queriam sair para a rodovia naquela noite ainda, mas se mantiveram escondidos, porque perceberam que estávamos no cerco.”


Já no sábado um veículo de Chapecó foi localizado circulando nas imediações, com dois indivíduos suspeitos. “Eles revelaram que receberiam para resgatar a quadrilha em um ponto próximo da rodovia”, diz. A prisão dos suspeitos confirmou que a estratégia da polícia estava certa. Guarnições de toda a região se deslocaram mais uma vez, em apoio.


No sábado as buscas foram intensificadas. Como sabiam que os bandidos pretendiam sair na rodovia, guarnições montaram barreiras na ERS 324, onde abordaram todos os veículos. “Ninguém passava”, afirma. Outras guarnições circulavam pelo interior da cidade, na Linha Baú. “Trabalhamos mais de 24h ininterruptamente, porque sabíamos que a noite aumentam as chances de eles se movimentar, o que não ocorreu”, pontua.


Foi somente no domingo à tarde, depois que o segundo resgate foi encontrado pelos policiais, com mais um veículo de apoio, que o grupo criminoso finalmente saiu do matagal. “Nesse momento já havia todas as guarnições necessárias na região”, completa.

Ação do 3° BOE
Uma das guarnições referidas era do 3° Batalhão de Operações Especiais de Passo Fundo (BPchoque). Eles estavam nas margens de um mato e próximos da rodovia quando se depararam com os suspeitos. Houve troca de tiros entre os quatro policiais e os cinco assaltantes. Toda a quadrilha morreu. Os policiais não se feriram.

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