Mesmo com convênio encerrado, policiamento comunitário continua

Trabalho é desenvolvido desde 2011 no município, com duas ampliações em 2013 e 2014, quando se regularizou o convênio entre Prefeitura e Estado

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Ao desembarcar da viatura para realizar a visita em um mercado do bairro, os policiais se deparam com um conhecido, que passava pela frente do estabelecimento. O homem já foi preso pela guarnição no passado, por ações reiteradas de violência doméstica. Ao invés de atravessar a rua, a fim de evitar o encontro, o popular vai em direção aos militares e os cumprimenta, com um aperto de mão.


Uma rápida conversa ocorre entre eles, antes que o pedestre siga o caminho. Entre as palavras ditas, se pode ouvir do policial: “Não está indo lá né?!”, ao se referir à casa da vítima das agressões do passado e ex-cônjuge do homem. A resposta é dada prontamente: “Não! Eu vou pro outro lado.Pode ficar tranquilo que não vou mais lá”. Eles se despedem como antigos conhecidos e o homem retoma seu percurso.


A situação foi presenciada pela reportagem, ao chegar no bairro São Luiz Gonzaga, imediações do Presídio Regional, justamente quando buscávamos informações sobre a atuação da Brigada Militar, através dos Núcleos de Policiamento Comunitário, e a aproximação dos policiais junto aos moradores dos bairros. “É assim mesmo, eles já conhecem a gente e nós os conhecemos”, justifica o policial, satisfeito com a resposta recebida.


Essa proximidade criada com a comunidade, até mesmo com os autores de delitos, é um dos pontos altos do programa iniciado ainda em 2011, enquanto Território da Paz. Inicialmente a polícia comunitária atuou em dois bairros da cidade: no grande Integração e no José Alexandre Zachia, considerados de maior vulnerabilidade. Dois anos depois, observando os resultados obtidos através da polícia comunitária, o programa foi ampliado.


Com a assinatura de um convênio entre Prefeitura e Governo do Estado, os bairros São Luiz Gonzaga e São José também receberam um reforço na segurança e o projeto foi denominado como Núcleo de Policiamento Comunitário. “Antes assaltavam o mercado duas vezes por mês. Depois que começaram as visitas, ocorreu mais uma única vez”, diz o gerente de um estabelecimento instalado próximo ao Presídio Regional de Passo Fundo, ao se referir aos últimos cinco anos.


Já em 2014, ao considerar a pronta resposta obtida com os novos núcleos, os bairros Santa Marta e São Cristóvão também passaram a fazer parte do programa. Os recursos financeiros foram ampliados, através da regularização dos membros, que deveriam residir nas imediações da área de atuação.


Pertencimento
Os 24 policiais militares que integram o programa residem nos bairros onde atuam. O trabalho é realizado com exclusividade nas áreas, como forma de atender a uma estratégia que prevê aproximação, permanência, envolvimento e comprometimento com o local de trabalho e com a comunidade.


“Como eles pertencem ao bairro, todo mundo os conhece. Não é um policial que foi até o local para atender a ocorrência, virou as costas e nunca mais foi visto. É um policial que está lá enquanto trabalha e nos horários de folga e isso inibe a criminalidade”, esclarece o comandante dos Núcleos, tenente Daisson de Andrade.


Residindo nas áreas de abrangência, os policiais ainda atendem as ocorrências com maior mobilidade e rapidez, pois ficam com as viaturas em casa, caso precisem realizar um atendimento, e são acessíveis aos moradores. “Eles nos procuram sempre que precisam, independente de horário ou dia da semana”, relata outro militar. “Dias atrás eu cheguei do serviço e fui para o banho. Mal havia entrado embaixo do chuveiro, vieram me chamar porque um vizinho agredia a mulher. Eu fui até o local, contive o agressor e acionei uma viatura”, exemplifica.


Dessa formase percebeu, conforme o comandante,uma verdadeira redução nos índices de criminalidade. “Eles são respeitados pelos moradores. Inclusive por quem já foi preso por eles. Dificilmente vão resistir a uma abordagem do policial comunitário”, acrescenta.


Convênio encerrado
Com a condição de residir nos bairros de abrangência da polícia comunitário, os policiais passaram a receber, através do convênio, recurso financeiro para auxiliar com os custos. Há pouco mais de um ano, entretanto, os integrantes dos Núcleos de Policiamento Comunitário deixaram de receber o auxílio moradia.


De acordo com o tenente Daisson houve um impasse burocrático com a documentação do convênio, que foi encerrado. “Nós renovávamos a cada semestre o programa, mas em novembro de 2017 ocorreu uma mudança na Lei, em relação aos termos, através de decreto e o nosso aditivo precisava ser reescrito”, esclarece.


A documentação foi refeita, encaminhada a Secretaria de Segurança do Estado, inclusive com parecer favorável do prefeito Luciano Azevedo, mas não teve retorno até então. Durante um ano inteiro, os papéis ficaram parados e os policiais mantiveram-se nos mesmos endereços, dando prosseguimento a atuação. “Agora temos que aguardar as decisões e entendimento do novo Governo, em relação ao policiamento comunitário e ao convênio”, pondera o tenente.


Trabalho tem continuidade
Independente do convênio, o policiamento comunitário será mantido, conforme o comandante do 3° Regimento de Polícia Montada, Volnei Ceolin. “O policiamento comunitário é uma modalidade muito importante que se desenvolve em Passo Fundo, porque trabalha com a aproximação. E a gente só consegue levar segurança estando próximos da comunidade, como estão os integrantes dos núcleos”, afirma.
A estratégia de atuação, ainda conforme Ceolin, permanece a mesma. O que se pretende é buscar, mais uma vez, o auxílio financeiro para os policiais, que também funciona como forma de estímulo. “O que existia até pouco tempo atrás era um convênio, que dava algumas vantagens aos servidores em relação à moradia. A Prefeitura já se posicionou pela renovação da parceria, que havia sido expirada. Também já encaminhamos a documentação. Dependemos de um retorno da Secretaria de Segurança do Estado, mas, de qualquer forma, o policiamento continua acontecendo nos bairros”, garante.

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