Cabo Verde: "O caso é uma violação dos direitos humanos"

Advogado Paulo Oliveira avaliou como importante a mobilização feita por familiares, amigos pelas redes sociais, pedindo a libertação dos brasileiros

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encaminhadas por Daniel Guerra ao amigo Fábio durante a travessiaencaminhadas por Daniel Guerra ao amigo Fábio durante a travessia
encaminhadas por Daniel Guerra ao amigo Fábio durante a travessia
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Atuando na defesa dos velejadores, Daniel Guerra e Rodrigo Lima Dantas, desde agosto de 2017, quando eles, juntamente com Daniel Dantas e o francês, Oliver Thomas, foram presos em Cabo Verde, em agosto de 2017, acusados de tráfico internacional de drogas, o advogado Paulo Oliveira avaliou como importante a mobilização feita por familiares, amigos e artistas, através das redes sociais, pedindo a libertação dos brasileiros.


"Para mim o caso é uma violação dos direitos humanos. Há muitas aberrações jurídicas no processo. Essa mobilização toda, essa percepção social é fundamental na defesa dos direitos, não somente deste caso, mas sempre que acontecer situação semelhante", declarou.


Na semana passada, a Justiça de Cabo Verde anulou a decisão em 1ª instância, que condenou o gaúcho e os dois baianos a uma pena de 10 anos de prisão. O Tribunal entendeu que houve violações ao direito de defesa dos réus, quando o juiz Antônio Lopes Tavares, responsável pela sentença, negou o pedido feita pela defesa para que as testemunhas fossem ouvidas. Um novo julgamento será marcado.


Com isso, a expectativa é de que o passo-fundense, Daniel Guerra seja libertado nos próximos dias. Ele foi preso em flagrante em agosto de 2017, quando estava embarcado, juntamente com o capitão francês Oliver. No caso do veleiro tripulado por eles havia uma tonelada de cocaína.


Com a anulação da condenação, a prisão deles volta à condição de preventiva. Como o prazo da preventiva prevista na lei de Cabo Verde é de 14 meses, Daniel e Oliver devem ser libertados. Já Daniel Dantas e Rodrigo Dantas foram presos em dezembro do mesmo ano. Para eles, o prazo se estende até abril próximo. "Eles têm todos os requisitos para serem soltos. Já expirou o limite, não podem interferir nas provas, a família tem residência fixa, não têm possibilidade de fuga, estão numa ilha. Se as provas forem lidas corretamente a inocência é o caminho natural", disse o defensor, que também criticou a lentidão da Justiça cabo-verdiana. "Só uma procuradora extrapolou 25 vezes o prazo que tinha para dar um despacho. Por isso, não posso afirmar categoricamente quando serão soltos".

 

Artistas pedem liberdade aos velejadores brasileiros
Uma campanha, denominada "A Onda", pedindo pela libertação dos três brasileiros presos em Cabo Verde, através das redes sociais, ganhou a adesão de amigos, artistas e velejadores de todo o Brasil. Um deles é o músico Carlinhos Brown, que gravou um vídeo com o texto abaixo.


“Acredito que esse povo muito sensato de conhecimento cultural do qual o Brasil inteiro deseja visitar, inclusive eu quero visitar. Acredito que esse sonho não pode se exterminar com uma dúvida em algo que o outro não fez. Tenho certeza que isso virá às claras porque a justiça e a inteligência desta gente farão com que tudo isso livre o nosso Rodrigo e seus companheiros de algo no qual, por tudo que indica, estão sendo vítimas".


A cantora Margareth Menezes também gravou um vídeo interpretando um trecho de uma canção de Césaria Évora, considerada a principal cantora de Cabo Verde. Logo em seguida, mandou seu recado.


“Povo de uma beleza e de uma cultura incrível, que eu tive a oportunidade de visitar e cantar. Façam justiça aos velejadores brasileiros que estão aí, nós estamos morrendo de saudade, estamos nos mobilizando e pedindo simplesmente que olhem com o coração para essa situação que está acontecendo, porque é injusto para com eles. Foram cumprir um trabalho e foram acometidos de uma desventura, uma injustiça. É um pedido de coração, um pedido de fraternidade, um pedido de compreensão e um pedido de justiça também. Estão aqui os pais, família, amigos, precisando da presença deles aqui. Estamos com saudade".

 

Amigo de infância guarda mensagens da viagem
Enquanto fazia a travessia com destino à Ilha de Açores, em Portugal, Daniel Guerra encaminhou mensagens via o aplicativo WhatsApp, ao amigo de infância Fábio Strapasson Faccio. Colegas no time de basquete do Instituto Educacional, os dois se tornaram grandes amigos. Mesmo com a vida aventureira de Daniel, sempre mantiveram contato.


"Todos os anos em minhas férias, nos encontrávamos na praia. Inúmeras vezes fiquei na casa dele, quando vinha visitar os pais em Passo Fundo. Ele sempre me manteve informado de suas viagens, seus planos, por onde andava, sobre seus sonhos. Nos últimos anos acompanhei de perto seu projeto liberbike. Em 2017, estava no apartamento dele quando estudava e planejava uma ida à Europa para trabalhar com navegação. Ele precisava conseguir milhas e poder dar a volta ao mundo velejando. Era seu sonho inspirado em Amyr Klink", revela. O espírito libertário do amigo também acabou influenciando Fábio a pegar a estrada. "Me inspirou a fazer meu primeiro mochilão em 2010, pela Europa.


Mesmo antes da campanha Onda ter se alastrado pelo Brasil, Fábio já vinha realizando manifestações em Passo Fundo pela liberdade do amigo. "Sempre acreditei na inocência dele. No convívio com pessoas 'aventureiras como ele, tu aprende outros valores na vida. Seu sonho não era ganhar milhões. Era conhecer pessoas, culturas, paisagens, lugares e, principalmente desafiar seu corpo, fazendo isso de bicicleta, de barco, etc..."

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