Afastado judicialmente da função de delegado da Polícia Federal de Passo Fundo pelo período de 120 dias, sob acusação de corrupção, Mário Luiz Vieira não esperou a conclusão da investigação para se manifestar. No mesmo dia em que o Ministério Público Federal e agentes do Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão em Passo Fundo, ele veio a público dizer que está sendo vítima de perseguição por parte de dois Procuradores, Ricardo Gralha e Fernanda Alves de Oliveira. A entrevista foi dada a Rádio Uirapuru, na quarta-feira à tarde. Mário Vieira demonstrava irritação com o fato de ter sido afastado das funções de forma sumária, ter sua arma, carteira funcional e telefones apreendidos.
Um dia depois, (quinta-feira) esteve no Jornal O Nacional para dar a sua versão dos fatos. Até este dia, era a versão em cima de informações que não haviam sido reveladas integralmente pelo MPF e PF, fato que mudou na sexta-feira depois que o juiz federal Rodrigo Becker Pinto, decidiu aceitar pedido dos Procuradores para a quebra do sigilo do processo.
O delegado afastado alega impedimento dos procuradores para lhe investigar, porque os mesmos foram indiciados na CPI da Funai, do qual participou. “Quero alegar o impedimento dos três contra mim. Os três tinham esse intuito, porque há uma disputa de divergência de opinião há muito tempo em relação a causa indígena. O dr. Ricardo Gralha me perseguia, arrolava gente pra perguntar coisas para mim em juízo com a intenção de mover alguma coisa contra mim. Relatório da CPI cita que o Dr. Ricardo está em acintosa perseguição por conta da causa indígena. Tenho notícia de que todo o advogado que atua nesta área é perseguido”, diz.
Ele também diz estranhar o fato de dois delegados da PF de Passo Fundo terem sido afastados por ordem judicial, num curto espaço de tempo, embora os inquéritos se refiram a investigações completamente distintas. “Eu sou o segundo a ser afastado. Ele (o outro delegado) tem personalidade totalmente diferente da minha, não se expôs. Mas eu me exponho”, completa.
Para ele, todo o investigado inocente e que estiver em condições de se expor em publico, tem de dar a versão. “Só não se expõe em público dois tipos de pessoas: o culpado e o medroso. Eu não sou culpado e muito menos medroso. Eu estou à disposição dos jornalistas para o que quiserem perguntar. Mas eu quero também que a imprensa investigue outras autoridades que não estão fazendo o seu serviço direito. Eu digo que o dr. Gralha não fez o serviço direito e por que ele não fez? Ele tem que dizer que ele é um procurador que cumpre suas obrigações, eu não coloco índio no colo como disse o delegado. A Dra. Fernanda tem que dizer que também só faz a sua obrigação instituição. Os dois são verdadeiros pais de índios”, completou.
Questionado sobre a investigação que motivou o Ministério Público, confirmou que ela tem relação com sua gestão na Casa Terapêutica Maanaim. Ele acredita que os procuradores levaram o juiz a erro ao pedir uma medida drástica de afastamento das funções, alegando que ele estava usando dinheiro da entidade para pagar contas pessoais. Segundo Vieira, como presidente da entidade muitas vezes teve que fazer pagamentos para a manutenção da mesma com o próprio dinheiro. Na medida em que entravam recursos de pessoas que colaboravam com a entidade, os valores eram ressarcidos. Ele reconhece que em algum momento pagou escola dos filhos com cartão da Maanaim, mas para ressarcir valores que ele já tinha emprestado à entidade. Vieira reclama que não teve ampla defesa no caso. “Eu fui afastado da polícia, fiquei sem arma, sem carteira. É uma medida que equivale a uma morte jurídica do servidor. A pena que já me deram, sem uma chance de defesa, pra funcionário público é uma pena capital. Eu não tive nenhuma chance de responder algo e já tive uma pena capital. Eu só não fui preso. Isso é para todos os delegados: o MPF tem que se ater como o delegado se atém a critérios objetivos e à lei. Uma denuncia ou afastamento para um servidor é pena de morte para ele”, reclama. “Meu direito de cidadão foi amplamente violado”, completa.
Vieira reconhece que se exaltou na entrevista dada a Uirapuru. “A única coisa que eu me compadeço, porque eu estava nervoso e de repente eu ofendi alguém de uma forma grosseira como os procuradores. Isso pode reverter em ação, mas eu respondo pelos meus atos. Mas eu tive que dar uma explicação para meus amigos, para todas as pessoas que me conhecem e olhassem imediatamente a minha versão dos fatos”, disse.
Vieira diz que a Maanaim é uma entidade que atende até 30 internos e que o custo mensal pode chegar a R$ 40 mil, com média de R$ 1,5 mil por interno. Muitos deles não tem condições de pagar pelo tratamento e, por isso, busca ajuda através do apadrinhamento mensal. Quando a entidade não tinha dinheiro, ele mesmo fazia o pagamento de despesas. Acredita que tenha desembolsado mais de R$ 65 mil, dinheiro que teria para receber de volta. Lamentou que, os colaboradores estejam envolvidos na investigação.
Sobre os inquéritos contra o advogado Dal Agnol e Salomão, que não estariam na competência da PF, disse que foi questionando no interrogatório e respondeu que não há qualquer ilegalidade na instância de investigação. Vieira disse que uma das primeiras medidas jurídicas que deve tomar é a reintegração do cargo. “Respondo o processo, mas quero ser tratado como cidadão e não como marginal”, disse. Antes de finalizar citou a parábola do rato que pede socorro diante de uma ratoeira, mas não encontra acolhimento nos animais próximos, que acabaram morrendo na história. A lição que fica da parábola, segundo Vieira é que “quando você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos.”