?EURoeEu errei do começo ao fim?EUR?, diz madrasta do menino Bernardo

Madrasta do menino, Graciele Ugulini, foi a primeira a falar na manhã de quinta. Com fim dos depoimentos dos réus, julgamento segue com debate entre acusação e defesa

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O depoimento da madrastra, Graciele Ugulini, abriu o quarto dia de julgamento do caso Bernardo, na Comarca de Três Passos. Nas mais de duas horas em que respondeu questionamentos da juíza Sucilene Engler e dos advogados de defesa, em meio a crises de choro, disse que “a maioria dos fatos são verdadeiros”, mas que Leandro Boldrini não teve envolvimento no assassinato do filho, em abril de 2014. Ré confessa, ela é acusada de aplicar a dose letal do medicamento midazolam. “Eu errei do começo ao fim”, sintetizou. 

 

Em relação à morte de Bernardo, defendeu que foi acidental, após agitação do enteado durante a viagem a Frederico Westphalen, em 4 de abril. Informou que havia dado ritalina ao menino e como a agitação havia supostamente continuado, jogou a bolsa para trás e mandou ele tomar mais remédio. Ao chegar a Frederico Westphalen, teriam trocado para o carro de Edelvânia. Então, percebeu que o menino não reagia, não acordava, estava babando. Segundo ela, a participação de Edelvânia foi apenas para esconder o cadáver e que a amiga tentou levar o menino no hospital. Disse que não ofereceu nenhuma quantia em dinheiro pela ajuda e que o crime não foi premeditado. Também alegou que não conhecia Evandro, irmão de Edelvânia e que ele não auxiliou na ocultação do corpo. A defesa de Graciele assume que o crime foi homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

 

Graciele optou por não responder aos promotores do Ministério Público (MP). Além dela, os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz também foram ouvidos ontem (14). Boldrini depôs na tarde de quarta-feira (13). Os quatro respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. O pai do menino ainda responde por falsidade ideológica.

 

Relacionamento com Bernardo
Graciele defendeu que havia proximidade com o menino no início de seu relacionamento com Leandro. “Eu me apeguei muito a ele. No começo, éramos muito próximos”, pontuou. Porém, disse que tinha o desejo de constituir família e, quando foi morar na casa, alguns fatores passaram a sobrecarregá-la. Entre eles, um aborto espontâneo que teve antes do nascimento de sua filha, Maria Valentina. Além disso, disse que Boldrini sofreu um acidente e precisou de cuidados especiais. Com isso a atenção destinada a Bernardo ficou de lado. Porém, pensava que estava educando o menino. “Era a forma que eu achava que era o amor”, disse.

 

“Foi o fim da minha vida”
Advogado de Graciele perguntou sobre particularidades da vida da enfermeira, após a prisão. Disse que passou mais de dois anos em isolamento, em uma cela cuja janela não fechava, de modo que chovia dentro e entravam insetos. Disse que precisou ser internada diversas vezes e que alucinava. Afirmou não ser o "monstro" criado pela "imprensa sensacionalista". Sobre o dia em que foi presa, declarou: "foi o fim da minha vida".


"Eu não matei o Bernardo", diz Edelvânia
A segunda ouvida na manhã de quinta-feira (14) foi Edelvânia Wirganovicz, amiga da madrasta. Ela é acusada de auxiliar Graciele nos crimes. Ela começou o depoimento dizendo que não matou o menino de 11 anos, mas que cavou a cova onde o cadáver foi colocado. Ela enfatizou, diversas vezes, que seu irmão, Evandro, não teve envolvimento.
A assistência social contou que teve uma infância difícil, que ajudava os pais na colônia e por esse motivo tinha força física suficiente para abrir o buraco sozinha. Edelvânia alega que comprou midazolam a pedido de Graciele. Nega que tenha comprado soda cáustica. Sobre a pá, admitiu a compra.

 

Ela sustentou a versão apresentada por Graciele, de que o crime não tivesse sido premeditado. Ela disse que Graciele havia ido para Frederico Westphalen para encontrar um amante e por esse motivo Bernardo havia sido medicado. O objetivo é que o menino dormisse enquanto ela se encontrava com esse homem. Contou que, depois da troca de carro, Bernardo começou a ficar agitado e Graciele mandou ele tomar remédio. O menino logo ficou inconsciente. Queria pedir socorro, mas Graciele disse que não havia mais o que fazer. "Então tu acabou de matar o Bernardo", Edelvânia disse a ela, à época.

 

Também negou ter recebido dinheiro para ajudar Graciele, mas alegou ser ameaçada pela amiga em virtude de sua condição financeira. “Se nós formos para a delegacia, a culpa vai ser toda tua porque tu é pobre”, lembra a assistente social.
Confissão

 

Sobre decisão de fazer confissão, entendia que o menino merecia um enterro decente ao lado da mãe. "Vou tirar aquele inocente do meio do mato", contou. Ainda, disse que foi induzida a dar depoimento e ser gravada, sem a presença dos advogados. "A delegada me coagiu" durante depoimento, afirmou a ré.

 

Desmaio
Edelvânia chorou durante todo o depoimento. Em determinado momento, ela passou mal e desmaiou. A equipe médica foi chamada e prestou atendimento à ré. A sessão foi interrompida e retomada à tarde. O médico disse que ela não teria condições de voltar a ser ouvida, porém, apesar dos batimentos cardíacos acelerados, ela afirmou que voltaria. A defesa de Edelvânia disse que ela não responderia mais nenhum pergunta.

 

"Eu nunca fiz nada de errado", diz Evandro

O último réu a depor foi Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia. Em um depoimento breve, ele negou qualquer envolvimento com o assassinato de Bernardo. Disse que mentiu ter estado no local do crime por medo, e que soube dos fatos pela imprensa. Preso há quase cinco anos, réu diz que não viu a filha crescer. Emocionado, Evandro também chorou durante o depoimento. Disse que quer voltar para os filhos. "Eu não devo. Eu não fiz. Eu perdi tudo". "Não sou contra a justiça, mas eu não fiz, eu não devo". O único dos réus que não chorou durante depoimento foi o pai do menino, Leandro Boldrini.


Fase dos debates
A fase de debates começou à tarde, por volta das 15h30. Ministério Público e defesa têm, cada um, quatro horas para apresentar argumentos e teses aos jurados. Quem abriu a etapa foi o MP, representado pelos promotores Bruno Bonamente, Ederson Vieira e Sílvia Jappe.

 

Bonamente disse a jurados que as provas são mais do que suficientes para pedir a condenação e penas máximas, pelos requintes de crueldade. Os promotores alegam que sociedade deu uma chance aos réus com a audiência na Justiça, entre pai e filho, meses antes do crime. "Ali já estavam tramando a morte do menino". O depoimento de confissão de Edelvânia, que levou os policiais até a cova onde estava o corpo de Bernardo também é levantado pelos promotores.

 

Sobre a assinatura do receituário do midazolam, promotores voltam a confrontar parecer do perito contratado pela defesa de Boldrini. Eles defendem laudo do IGP estadual, que atesta a dificuldade de identificar se a assinatura no receituário é o ou não de Leandro. Perito particular, contratado pela defesa, afirmou que assinatura não era do médico. 

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