Cauã de Lima Camargo, de 14 anos, ainda vestia a camiseta e a bermuda cinza com a qual deixou o segundo pavimento do número 57 da rua Joaquim Nabuco, do bairro Jerônimo Coelho, quando as chamas começaram a destruir o terceiro andar do prédio. Já depois das 15h ele assistia, da rua, os bombeiros fazerem o rescaldo, em um local que ficou inabitável.
“Fiquei apavorado”, disse. Ele estava em casa quando as chamas começaram. Dentro do quarto, “digitava no celular”, fazendo o whatsapp registrar às 13h45 a mensagem que chamara seus quatro amigos para a rua Joaquim Nabuco. “Minha casa está pegando fogo!”, anunciou. “Eu ouvi gritos da minha mãe e saí do quarto. Ela desceu correndo para o andar de baixo. Ela estava descendo com os cabelos queimados e com meu irmão”, relembra.
Sua avó estava com ele no segundo andar, que não foi atingido pelas chamas. Os quatro desceram rapidamente e chegaram à rua, abrigando-se frente a um salão de beleza vizinho. Os bombeiros não tardaram e uma ambulância levou a mãe, Daiane Cristina de Lima, de 36 anos, mais o irmão de Camargo, de apenas cinco anos, ao Hospital São Vicente de Paulo (HSVP). No meio da tarde, o guri já havia recebido alta, já a mãe inspirava cuidados.
“A mãe se queimou porque foi salvar a criança”, contou o experiente bombeiro, sargento Joarez Fagundes, que há 30 anos atua na corporação. “Ela estava bem preparada. Com um pano que usou para proteger o rosto. Mas se queimou. Mais um pouco perderia a consciência. Ela não tinha saída.”
As queimaduras, segundo Fagundes, estavam nas mãos e no rosto da mulher. Muito por ter protegido a criança.
A vítima é sobrinha do bombeiro aposentado Afonso Volmir Lima, de 62 anos. Próximo à cerca de um terreno baldio ao lado, ele via as últimas chamas se apagando. Foi avisado por telefone do incêndio, deixando imediatamente sua casa, no bairro Nenê Graeff. Fazia anos, disse, que a família morava ali.
No primeiro pavimento funciona um mercado, e no segundo e no terceiro andar vivem seus parentes. Ele buscava informações no local e procurava sobre o estado dos seus familiares.
Mas nem Camargo, que presenciou a cena, falava muito sobre ela, usando apenas meias palavras.
Combate ofensivo
O incêndio, que terá as reais causas apontadas só após o laudo da perícia – o que pode levar até 30 dias – começou no terceiro andar, onde estavam Daiane e a criança.
Pela experiência do sargento Fagundes, ele acredita que tenha se originado por uma máquina de lavar roupa ligada ou por uma panela ao fogo.
O capitão Estevan, do Corpo de Bombeiros, reconheceu que a localização do fogo foi um fator determinante para a dificuldade da operação. “Porque era no terceiro pavimento e o fogo estava no início. A cozinha ficava na entrada, então precisávamos ir apagando o fogo da entrada para chegar ao fim”, explicou.
Esse tipo de trabalho é chamado de combate ofensivo, quando os agentes precisam entrar no local. As chamas, calcula Fagundes, fora contidas em cerca de 30 minutos com 12 mil litros de água e apoio de quatro carros: dois Auto Bomba Tanque (como é chamado o caminhão que carrega água), uma escada mecânica e mais uma ambulância.
A escada mecânica foi aposta ao lado do prédio para conter as últimas labaredas que se viam pelas janelas laterais. Quando cessaram, o rescaldo foi iniciado para garantir que não começassem novamente, fazendo da tragédia que deixou uma mulher gravemente ferida e destruiu um andar inteiro, piorar.