Maria*, de 25 anos, acabara de sair da terapia e seguia pela rua Benjamin Constant, em direção a Avenida Brasil na noite de quarta-feira (3), quando teve o caminho interrompido. A movimentada rua fazia parte da sua rotina desde novembro passado, quando começou as sessões na Faculdade Meridional (Imed), e sentia-se tranquila em voltar sozinha todas as quartas-feiras. Não ligava se caminhava pelo lado mais escuro ou pelo mais claro da rua. Exceto anteontem, quando decidiu passar para o lado mais iluminado.
“Eu passei e nem sei por que. Mas no meio da quadra eu vi um guri atrás. A primeira vez ele tava longe. Na segunda ele tava mais perto, apressando o passo. E nisso já tava em cima de mim. Meteu a mão no meio das pernas. Me chamou de gostosa. Me virei na hora bati nele. E ele fez isso e simplesmente saiu”, contou Maria.
Abalada, viu o rapaz ir embora e permaneceu parada. Com medo. Com raiva. Com ódio. Ao que viu ele sumir, correu também. Foi até o sinaleiro. Enviou mensagens a amigos.
A princípio não iria denunciar. “Para quê?”, pensou. Sem saber quem era o violador e se ele seria pego, achou melhor deixar o caso se esquecer, embora ela mesmo não o fosse.
Foi quando quatro amigos (sendo três meninas) chegaram até ela, que Maria procurou a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).
“A gente sempre passa por vários tipos de coisa na rua. O cara te chama de gostosa... mas alguém que encosta no teu corpo de uma forma tão agressiva... A verdadeira sensação é a de não poder fazer nada. Se sentir frágil, indefesa, ter que mudar o caminho, a rotina, porque pode acontecer algo pior. E isso acontece todos os dias, mas comigo nunca foi de uma forma tão agressiva”, desabafou.
A violação foi registrada na DPPA como tentativa de estupro
Na sua rede social, Maria publicou um desabafo, seguido pela enquete: Você já sofreu algum tipo de assédio.
Ela escreveu: “Passei por algo que me deixou com ódio, raiva e MEDO. E o medo é por não poder fazer absolutamente nada para reverter o assédio que sofri por um desconhecido na rua. Cara, de verdade, o que passa na cabeça de um homem que viola uma mulher pelo fato dela estar sozinha na rua? Mano, de verdade, tocar, encostar, falar algo de nível sexual pejorativo para uma mulher é crime, é imoral e é nojento. Pais, ensinem a seus filhos a RESPEITAREM AS MULHERES, pois hoje senti na pele e realmente não vejo alternativas para esse mundo machista do caralho onde uma mulher pode e é assediada a todo instante.”
Após o ocorrido, Maria disse que não passará mais por esta rua. Acredita que deve mudar o caminho ou começará a pedir carona. Pois por ter tido o corpo violado disse que apenas lhe restou perder o caminho de toda a quarta.
“A sensação é de não poder fazer nada e se sentir violada (... ) A gente nunca sabe o que vai acontecer.”
*Maria - nome fictício para não não indentificar a vítima