Quando dona Delícia Maria Trevisan, de 73 anos, chegou em casa no final da tarde de segunda-feira (26) depois de ter ido ao oculista, não encontrou Cota ao abrir a porta de casa. As janelas e portas estavam com sinais de que alguém as havia forçado, o telhado ido abaixo e objetos de valor e o animal com quem divide a vida há cinco anos haviam sido levados. “Eu tenho esperança que vão devolver a caturritinha porque...” e abaixa a cabeça, umedecendo as vistas sem terminar a frase na tarde de terça-feira (27).
Delícia vive há 33 anos na Cohab, onde aconteceu o arrombamento. Em um cômodo ao lado da sala, os forros de PVC ainda estavam entulhados em um canto e quase em sussurros e escolhendo bem as palavras pediu desculpas pela bagunça. Ali mostrou como imagina que entraram em sua casa.
Por não terem conseguido acessar o interior da residência pelas portas e janelas, quebraram as telhas de brasilit, juntaram jaquetas, secador de cabelo, lanterna, cabos, lupa, a caturrita e tomaram a chave da casa para sair da residência.
Segunda-feira à noite Delícia ainda dormiu com o pavor de que fossem voltar – Já que o segredo da porta estava com quem arrombou sua casa. Ontem chamou um chaveiro para que esse pavor não lhe tomasse mais. E ficara apenas com o vazio deixado pelo pássaro levado. “Ela não dura muito sem mim”, sentenciou. “Eu chamava Cota, porque ela também dizia Cota. Quem não quis mais [o pássaro] não dava atenção para ela, então por isso que acabaram não querendo mais ficar com ela. Eu também não queria. Até que eu fiquei com ela. Tinha ela fazia cinco anos. Mas uma criança! Ela ia cestiar comigo. À noite ela dormia na gaiola. Eu só fazia assim [e estica o dedo, como o fazia para a ave] e ela levantava a asa para ganhar beijo. Dava o pé. E ia com qualquer pessoa, desde que a pessoa não tivesse medo dela.”
Vizinhos visitavam dona Delícia nesta tarde para saber como estava.
Uma delas a quis acalentar com uma oferta que lhe silenciou por minutos e a fez pensar. “Eu vi que levaram sua cocotinha. Viu, nós temos duas. Não sei a se a senhora tem interesse. Não quer mais? Até se a senhora quiser nós damos as duas!” Delícia não respondeu. Nos vídeos que mostrou no celular e nas lágrimas que levou aos olhos se entendia: Delícia ainda espera pela devolução da sua Cota.