Romoaldo Schauren, de 51 anos, recebeu alta do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) na quinta-feira (12) à tarde. Dois dias antes, na terça-feira dia 10, ele era feito refém por três assaltantes que o obrigaram dirigir da frente de uma concessionária no bairro Vera Cruz até a ERS-324, onde foi baleado. Por telefone, na tarde de sexta-feira (13), ele disse estar “muito bem, sem trauma, sem rancor, sem nada no coração e nenhuma deficiência” e lembrou detalhes dos minutos que passou em poder dos assaltantes dentro da sua caminhonete GM/S10.
“As coisas começaram no domingo”, contou Schauren. No dia, ele e o filho fizeram uma postagem nas redes sociais anunciando a venda da caminhonete GM/S10. A ideia era vendê-la por R$ 70 mil, mas às 10h de terça-feira (10) um suposto empresário de Vacaria ofereceu-lhe R$ 55 mil à vista, o fazendo baixar o valor e querer fechar o negócio.
Segundo Schauren, o combinado era se encontrar com o comprador no mesmo dia em frente à uma concessionária de Passo Fundo, onde fechariam o negócio. “Se fosse um lugar que eu não conhecesse, desconfiaria. Mas foi em frente à uma concessionária e pensei que [o comprador] fosse cliente da concessionária. É coisa que a gente não entende. A inocência da gente não suspeita de quem tá do lado da gente”, refletiu ao lembrar.
Era pouco depois das 14h, de acordo com Schauren, quando ligou para o comprador. Na ligação, ele disse que se atrasaria, mas que o filho, que estava próximo, iria ao encontro dele. E não demorou para que ele e mais dois jovens chegassem.
Junto com os três, Schauren disse que entrou na caminhonete, na intenção de mostrar o veículo. Mas ao sentar ao volante, percebeu que se tornara uma vítima. “Um deles sacou uma arma e mandou eu ficar calmo e dirigir. Tudo o que eles mandavam fazer eu fazia. Sou cristão, evangélico, tenho família, não fiquei nervoso, o que eles diziam eu fazia. Só pensava em Deus. Mas tudo o que eu queria ver era um policial para chamar atenção. Sabia que não poderia ter uma atitude que demonstrasse isso [aos assaltantes], e tentava manter a calma com eles”, conta. “Durante todo o trajeto eu aconselhava eles que Deus tava vendo tudo isso. ‘Deus ta vendo tudo o que vocês estão fazendo comigo. Deus está vendo lá do alto’. E acho que ainda acalmei esses guris.”
Schauren não soube dizer se os três estavam armados, mas lembra-se que o homem que disparou contra ele sentara no lado direito do banco de trás.
Já na ERS-324, próximo à Vila Jardim, e ainda com o desejo de passar por alguma viatura, Schauren viu a primeira. Ele conta que os indivíduos que estavam com ele pediram que mantivesse as mãos no volante e não chamasse atenção. Porém uma segunda viatura, do Batalhão Ambiental da Brigada Militar, apareceu à vista, momento em que Schauren agiu. “Eu tava muito bem ciente quando vi a viatura passar e quando vi a segunda viatura eu quis atravessar na frente, cerca de 20 metros de distância. Então quando ela veio eu atravessei na frente, coisa de reflexo, sem planejar, chamando a atenção deles. Eu sabia que ia fora da estrada, mas que estaria protegido. Quando a caminhonete parou no valo, eu não sei como explicar, eu imobilizei um que estava com a arma, eu imobilizei dentro do carro, não sei como, mas ele disparou logo em seguida. E foi o segundo disparo que me pegou.”
Schauren foi atingido na região da cintura, em um disparo que atingiu a região das nádegas de cima para baixo. Ainda no local, disse que conseguiu sair da caminhonete e ver um dos homens ser algemado, desmaiando em seguida. Outro indivíduo também foi preso no local e um terceiro fugiu pela mata.
Quanto a Schauren, ele foi encaminhado ao Hospital São Vicente de Paulo, onde permaneceu internado até quinta-feira. “E nasci de novo!”, comemorou ao telefone. “A segurança da gente hoje é Deus e agora estou muito bem!” Schauren disse que caminha bem e que na próxima semana também já deve voltar ao trabalho.