Brasil teve 175 assassinatos de transexuais em 2020

São Paulo, Ceará e Bahia foram os estados com maior número de vítimas

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Foto: Tomaz Silva/Agência BrasilFoto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Em 2020, foram assassinadas 175 pessoas transexuais no Brasil. O levantamento foi divulgado na sexta-feira (29) pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O número representa aumento de 29% em relação às 124 mortes registradas em 2019.  

O ano passado foi o segundo mais violento da década para transexuais, com um número de assassinatos menor apenas que os verificados em 2017, quando ocorreram 179 casos.

A média é de um assassinato de transexual a cada 48 horas no Brasil.

Em números absolutos, São Paulo foi o estado com mais casos em 2020, com 29 mortes, seguido pelo Ceará, com 22 assassinatos, e a Bahia, com 19.

Os três estados foram também os que apresentam o maior número de mortes nos últimos quatro anos (de 2017 a 2020). Nesse período, foram registrados 641 assassinatos de transexuais, sendo 80 em São Paulo, 62 no Ceará e 59 na Bahia.


Negros e jovens

A maioria das pessoas transexuais mortas no ano passado no Brasil 2020 eram negras (78%). “Os índices médios se mantêm em uma faixa de 80% desde que iniciamos o levantamento”, enfatiza o relatório. Mais da metade das vítimas (56%) tinha entre 15 e 29 anos.

Os crimes registrados em 2020 ocorreram principalmente em espaços públicos (71%), e oito das vítimas eram pessoas em situação de rua. As profissionais do sexo também estão entre os mais expostos, totalizando 72% dos transexuais assassinadas ao longo do ano passado.

“É exatamente dentro desse cenário que se encontra a maioria esmagadora das vítimas, tendo sido empurradas para a prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, encontrando-se em alta vulnerabilidade social e expostas aos maiores índices de violência, a toda a sorte de agressões físicas e psicológicas”, destaca o relatório.

O documento chama a atenção para a necessidade de políticas e ações que promovam a inclusão e proteção dos transexuais a partir de suas complexidades. “Os assassinatos de pessoas trans não nos revelam uma única explicação/resposta. É preciso analisar o transfeminicídio e a violência que ele admite contra pessoas trans sob um olhar transversal, que entenda a complexidade do contexto em que essas pessoas são colocadas e os processos que enfrentam devido à sua condição enquanto pessoas não cisgêneras”, ressalta o texto.

Segundo a Antra, é necessário naturalizar a diversidade na sociedade brasileira. “É preciso naturalizar as relações sociais com as histórias, vivências e corpos LGBTI+ [lésbicas, gays, bissexuais, transgênero ou trans, queer, intersexuais+] em todos os ambientes e espaços, institucionais ou não, de forma a romper com a subalternização desses indivíduos e para que as relações sociais, afetivas, românticas ou mesmo sexuais deixem de ser um tabu”, diz o relatório.


Banners

Para exaltar personalidades históricas e atuais da luta por visibilidade e direitos, foram exibidos no Rio de Janeiro banners com fotos de 25 pessoas transexuais que se destacaram na história do movimento trans, como Marsha P. Johnson, uma das protagonistas da Revolta de Stonewall, e João W. Nery, o primeiro homem trans brasileiro a passar por uma cirurgia de redesignação sexual. 

A ativista e atriz Dandara Vital foi a responsável pela seleção das homenageadas e homenageados. Para ela, o Dia da Visibilidade Trans não é um dia de comemoração, porque os assassinatos de pessoas trans ainda são frequentes no país e grande parte das travestis e transexuais está na "prostituição compulsória", como única forma de ter renda e sobreviver.

"Isso mostra que aqui no Brasil, apesar de a gente ter conquistado algumas coisas, ainda temos muito a evoluir, ainda mais quando falamos de direito à vida e direito à sua essência", disse Dandara. "A gente espera que em um futuro bem próximo seja uma data de comemoração". 



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