Caso Kiss: “Tenho a consciência que não foi o meu ato que tirou a vida desses jovens”, diz Luciano Bonilha Leão em seu interrogatório

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Divulgação/TJRS Divulgação/TJRS
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Segue o interrogatório dos réus no plenário do júri do caso Kiss nesta quinta-feira (9). Luciano Bonilha Leão, o roadie da banda Gurizada Fandangueira, foi o primeiro interrogado. O réu, que chorou em vários momentos da sua fala, confirmou que fazia a compra dos artefatos pirotécnicos para serem usados pelo grupo musical em suas apresentações. E que foi ele quem acionou o artifício que, em contato com a espuma aplicada no teto da boate, provocou o incêndio na Kiss, em 27/01/13. Naquela noite, 242 morreram e outras 636 ficaram feridas.

Segundo Bonilha, o pedido partiu de Danilo, o líder da banda (falecido no incêndio). A compra era efetuada na loja Kaboom, por unidade. “Nunca tive essa informação (se poderia ser usado indoor)”, afirmou.

O réu explicou como foram montados os efeitos especiais para o show na Boate Kiss na noite do incêndio. “Foram colocados dois (fogos de artifício), um em cada ponta do palco, e um terceiro era dado para o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos”. Foi Luciano quem colocou a luva na mão do vocalista e colocou o artefato na mão dele. “Fui eu que acionei”.

Alguém avisou Luciano que estava pegando fogo. “Era bem azul”. Luciano tentou apagar o foco com água, foi quando se propagou. Uma pessoa pegou um extintor de incêndio debaixo do palco, tentou usar, mas não funcionou. Marcelo fez o mesmo, mas sem sucesso. Luciano disse que o extintor “não tinha lacre e parecia vazio”.

Não ouviu ninguém da banda anunciar fogo. “Eram 26 microfones no palco. Se os microfones estivessem abertos, lá do fundo teriam percebido o desespero”. Quando o tumulto já tinha se generalizado, Luciano disse que Danilo queria proteger a gaita. Mas Luciano aconselhou que seguissem em fuga.

Disse que as pessoas gritavam: 'Abre a porta que tá pegando fogo'. Não sabe dizer o porquê estava fechada. Quando a porta se abriu veio uma força de vento e a fumaça baixou. “Daí, eu fui indo e me prendi num ferro no chão, rente ao bar. Pensei que seria esmagado”. Luciano disse que não conseguia mais enxergar, nem respirar. Usou a camiseta para proteger o nariz. “Pedi a Deus, que me tirasse dali”. O roadie foi arrastado para fora da boate. Luciano disse que os bombeiros já estavam chegando. “Todo mundo se ajudando. Se não fosse isso, a tragédia seria muito maior”.

O roadie também relatou que a boate estava cheia naquela noite. “Era muito apertado mesmo”.

 

O começo na banda

 

Luciano contou ao magistrado, o Juiz Orlando Faccini Neto, que estudou até a 6ª série do ensino fundamental e que trabalha desde os 12 anos de idade. Ele era office boy, em 2012, quando conheceu Danilo (falecido no incêndio), o líder da banda Gurizada Fandangueira, que também tinha uma empresa de sonorização com o irmão, Bruno. Depois, passou a acompanhar o grupo musical exercendo a função de roadie. “Eu dava suporte em cima do palco”.

Disse que participou de uns 14 shows da banda e que houve uso de artefatos pirotécnicos em cerca de 9 dessas apresentações. “Na Boate Kiss foram de 3 a 4 shows. No palco novo, foram duas vezes usando artefatos pirotécnicos, se não me engano”. Luciano não conhecia Elissandro Callegaro Spohr, o sócio da casa noturna. Só foi conhecer o empresário no dia anterior à festa onde ocorreu no incêndio. Afirmou que não acredita que Danilo não teria comunicado o uso dos artefatos para o dirigente da Kiss.

Não soube dizer qual era a relação de Mauro Londero Hoffmann com a boate. Ele informou que a banda Gurizada Fandangueira já tocou na Absinto Hall, mas que não sabia que a casa noturna também era de Mauro.

 

Relação com os pais

 

“Eu sei que o coração dos pais não entende a minha dor. Se eu tivesse morrido lá, hoje aqui sentado, tenho a maior joia da minha vida, minha mãe. Ela está ali sentada com eles. Esses pais não têm mais o abraço, o carinho dos filhos. É legítimo deles lutar por justiça. Mas eu tenho a consciência de que não foi o meu ato que tirou a vida desses jovens. Se for para tirar a dor dos pais, tô pronto, me condenem”.

 

Luciano afirmou que alguns familiares de vítimas o procuraram e o consolaram, por entenderem que ele também é uma delas. Emocionado, contou sobre os momentos em que passou na prisão e mostrou aos jurados a quantidade de medicamentos que toma hoje, após a tragédia. “Hoje, moro num lugar em que ninguém me conhece. Meu choro é em casa”.

A seguir haverá o interrogatório do réu Mauro Londero Hoffmann, sócio da Kiss. Encerrando essa etapa, será ouvido o vocalista da Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos. Ontem, o primeiro a falar foi o sócio da boate Elissandro Callegaro Spohr.

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