“No dia do meu aniversário eu não tive um abraço apertado delas”

Familiares e amigos de Isabel e Thairine realizam protesto no domingo pedindo por Justiça. Mãe e filha foram vítimas de feminicídio em Passo Fundo

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Autor da morte de Thairine e Isabel segue foragido. (Foto: Divulgação)Autor da morte de Thairine e Isabel segue foragido. (Foto: Divulgação)
Autor da morte de Thairine e Isabel segue foragido. (Foto: Divulgação)
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Familiares e amigos de Thairine de Oliveira, 30 anos, e Isabel Cristina Muniz de Oliveira, 63 anos, vítimas de um duplo feminicídio que aconteceu em janeiro deste ano em Passo Fundo, participam de uma manifestação na rua Lava Pés, área central da cidade, neste domingo (24) por volta das 13h30. Eles vão se reunir no local onde aconteceu o duplo feminicídio, para chamar a atenção da sociedade para que este crime não caia no esquecimento, especialmente porque o principal suspeito de matar as duas mulheres está foragido.

 

O crime

O duplo feminicídio, seguido de uma tentativa de homicídio, aconteceu no dia 17 de janeiro deste ano. Duas mulheres, mãe e filha, foram assassinadas a tiros. Thairine de Oliveira, de 31 anos, e a mãe dela, Isabel Cristina Muniz de Oliveira, 63 anos, estavam em casa quando foram surpreendidas por um homem que chegou de motocicleta e disparou diversas vezes contra as duas. O crime ocorreu na Rua Lava Pés, na área central da cidade. Thairine tentou fugir correndo, mas foi alvejada e morreu em um terreno próximo à casa. Uma terceira mulher, cunhada de Thairine, também foi atingida por tiros, mas foi socorrida e sobreviveu.

O principal suspeito é ex-companheiro de Thairine, ele está foragido desde o dia do crime.

 

Manifestação

Segundo a advogada que representa um dos familiares das vítimas, Ana Paula Nonnenmacher, o objetivo da manifestação é chamar a atenção da sociedade, pois duas vidas foram ceifadas de forma cruel, sendo que uma das vítimas era mãe de três filhos pequenos. “Thairine deixou seus pequenos, os mesmos se encontram em um abrigo”, esclareceu a advogada.

Além disso, Ana Paula esclarece que a vítima que sobreviveu, antes do crime, possuía um emprego e uma família, e hoje se encontra em uma situação de vulnerabilidade, pois perdeu o emprego, permanece em situação de medo, e pânico. Ela foi baleada na frente do seu filho. “Estamos nos mobilizando em busca de justiça, para que outras medidas sejam tomadas em prol de justiça nesse duplo feminicídio. Isabel e Thairine foram vítimas, isso não pode ser encarado dentro da normalidade. Se faz necessário que se encontre quem provocou isso”, disse ela. 

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, somente em 2022 já foram registrados três feminicídios em Passo Fundo. Além deste duplo feminicídio registrado em janeiro, outro foi registrado no mês de março. No ano de 2021 o município de Passo Fundo não registrou nenhum feminicídio.

 

Relacionamento conturbado

O principal suspeito do crime é o ex-companheiro de Thairine. A advogada comenta que os dois tinham um relacionamento há mais de 10 anos, porém, a relação sempre foi conturbada. Thairine, inclusive, obteve medidas protetivas contra ele. De acordo com pessoas próximas, a mãe de Thairine, Isabel, sempre buscou proteger a filha, mediando conflitos e buscando que os três filhos menores do casal ficassem bem. Segundo a advogada, ela auxiliava de diversas formas, era uma mulher que tinha um grande carinho e apreço pelos netos. “Infelizmente o genitor tinha um temperamento difícil o que resultava em violência das mais diversas formas ao ponto que Thairine buscou auxilio na lei”, disse a advogada.

 

Filhos

Thairine e o suspeito tinham três filhos, todos menores de idade, que, no entendimento da advogada, também são vítimas deste contexto. Atualmente eles estão sob proteção do estado, ou seja, em uma instituição. Familiares do suspeito chegaram a se habilitar com o pedido de guarda, entretanto, a advogada diz que familiares das vítimas não querem que seja concedido. “A família já passou e passa por uma dor enorme, esse pedido remota uma tristeza maior ainda para os familiares, e no nosso entendimento não deverá ser aceito em hipótese alguma”, disse ela.

 

Familiares com medo

Os familiares das vítimas vivem uma rotina de muito medo, e fazem um apelo para que esse caso não caia no esquecimento. Um familiar aceitou falar com a reportagem do O Nacional, mas não quis se identificar por medo. Ele fez um apelo para que o suspeito do crime seja encontrado, para que desta forma, toda a família fique mais tranquila. “Ele acabou com uma família, acabou com sonhos de pessoas, dos próprios filhos de crescer com a mãe e a avó”, disse o familiar.

Ele lembrou com muito carinho de uma das vítimas, Isabel, que era amorosa com os netos, e tinha um apreço muito grande pelo convívio com eles, o que não será mais possível depois deste crime. “Esse cara precisa ser encontrado para pagar o que ele fez para nossa família”, desabafou.

O familiar conta que recentemente fez aniversário, e que este foi um momento muito difícil, pois relembrou os outros anos, onde tinha as vítimas para comemorar. “No dia do meu aniversário eu não tinha meus familiares do meu lado, não tive um abraço apertado delas, como todos os anos eu tinha. Isabel me abraçava, me desejava feliz aniversário, e agora eu não tenho mais isso. Não temos mais as palavras de apoio delas quando estamos tristes”, comentou.

Ele também destacou que Isabel sempre foi uma mulher que lutou para enfrentar as dificuldades, e que sempre procurou unir a família. “Ela lutou a vida inteira por todos da família, inclusive as crianças. O sonho dela era se aposentar, arrumar a casinha dela e cuidar dos netos, e esse cara acabou com esse sonho. Ela não merecia ser morta deste jeito, ela foi guerreira a vida inteira”, finalizou.

 

Inquérito Policial

Segundo a delegada Rafaela Bier, titular da Delegacia Especializada no Atendimento às Mulheres (DEAM) de Passo Fundo, o Inquérito policial foi concluído com o indiciamento do autor por dois homicídios consumados e um homicídio tentando, todos qualificados pelo motivo torpe (desprezível), pelo recurso que tornou impossível a defesa da vítima e pelo feminicídio (contra a mulher por razão da condição de sexo feminino, praticado no contexto de violência doméstica e familiar). Ainda, com aumento de pena pelo fato de o crime ser praticado na frente dos descentes da vítima e em descumprimento de medida protetiva de urgência. A Polícia segue nas buscas para localizar o paradeiro do autor, inclusive em outros Estados da Federação, qualquer informação deve ser repassada a polícia através do n. 197.

A delegada ainda esclareceu que não há qualquer formalização de ameaças aos familiares das vítimas, porém as crianças seguem em acolhimento institucional (público).

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