INTOLERÂNCIA RELIGIOSA: Entidades repudiam incêndio criminoso em espaço religioso de matriz africana

Manifestações condenaram o crime que aconteceu na madrugada de quarta-feira (8)

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Um incêndio criminoso registrado na madrugada de quarta-feira (8), no bairro Lucas Araújo, em Passo Fundo, mobilizou entidades religiosas e de direitos humanos na cidade. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso.

Câmeras de videominitoramento localizadas nas proximidades  gravaram imagens de um homem entrando no pátio da residência denominada de Ecolar, por ser construída com materiais recicláveis. Ele  vai em direção a um espaço conhecido como “Casa dos Exus”, na parte da frente do terreno. Momentos depois,  percebe-se o início das chamas.

O idealizador e morador  do Ecolar, Alexandre Giusti, disse ter percebido a entrada de alguém no terreno e que momentos depois percebeu as chamas no local reservado ao culto religioso. Então correu e conseguir controlar as chamas.

A parte mais atingida foi a porta de acesso ao espaço.  Alexandre acredita que o suspeito jogou gasolina e ateou fogo. Ele afirma ter sofrido  diversas ameaças nos últimos dias, inclusive havia registrado um boletim de ocorrência na polícia contra o suspeito.

Os motivos, afirma, é porque ele não aceita a existência de um espaço destinado à religião de matriz africana perto da casa dele, inclusive já o ameaçou de morte.

 “A intolerância com a religião de matriz africana, com os Orixás, com os Exus, é de muito tempo, e aqui a casa é de religião, que está à disposição de muitas pessoas, que inclusive já foram ajudadas”, disse ele.

O caso ganhou notoriedade nas redes sociais, depois que o responsável gravou um vídeo e compartilhou, denunciando o vandalismo. O vídeo de desabafo de Alexandre ganhou notoriedade em todo o Rio Grande do Sul e também fora do Estado.

A Comissão dos Direitos Humanos de Passo Fundo se manifestou sobre o ocorrido e lançou uma nota repudiando o incêndio criminoso.

“O ataque é uma clara expressão da intolerância fruto do fundamentalismo religioso contra religiões de matriz africana. Inaceitável que fatos como este sigam acontecendo”, diz a nota. A entidade ainda ressalta que o direto à liberdade de crença e a proteção dos locais de culto é direito constitucional de todos. “Numa sociedade democrática e que respeita os direitos humanos, estas práticas não podem ser admitidas, tem que ser denunciadas e seus autores responsabilizados”, diz a nota.

Além disso, a Comissão faz um apelo às autoridades para que tratem o caso com a mais profunda seriedade e tomem as providências necessárias para que cessem o mais rápido possível os riscos e as ameaças aos moradores e moradoras do Ecolar, e que a apuração seja realizada com rigor e as responsabilizações feitas exemplarmente. A nota é assinada por mais de 50 entidades.

A ocorrência foi encaminhada para a 1º Delegacia de Polícia de Passo Fundo, que informou que o delegado responsável, Gilberto Dumke irá instaurar um inquérito policial para investigar o caso.

Ecolar

A casa ganhou o nome de Ecolar por ter sido construída com material reciclável. Para erguer as paredes foram utilizadas mais de oito mil garrafas. O local, que está sendo ampliado, já recebeu dezenas de estudantes. 


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