Respostas em série

Hoje os especialistas Mauro Gaglietti, Eduardo Swartman, Antonio Kurtz Amantino, Mário Maestri, Paulo Carbonari, José Ernani de Almeida e Eliane Colussi respondem à quarta e última pergunta sobre como será o governo de Dilma Rousseff

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Qual a influência de Lula na vitória da presidente eleita e na administração que ela exercerá?

Essa foi a primeira vez que um presidente (Lula) consegue deixar um sucessor (Dilma) na presidência

"Essa também não é a primeira vez que um presidente, de uma forma ou de outra, encaminha a sua sucessão. Os detalhes da escolha de Dilma por Lula provavelmente só saberemos quando eles publicarem suas memórias. No entanto é possível especular. Acredito que pesaram dois fatores: 1) a "queda" de lideranças importantes do Partido dos Trabalhadores depois de 2005 e 2) as habilidades de gestão e de coordenação política de Dilma Rousseff à frente dos ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil. A escolha de alguém com longa trajetória "técnica", mas que até então não disputara cargos eletivos pode ter sido um risco, mas ao mesmo tempo nos faz atentar para o fato de que a atividade política e a democracia não se restringem a eleições." Doutor em Ciência Política e professor de História da UPF, Eduardo Munhoz Svartman

"O fato de Lula ter sido o primeiro presidente que conseguiu eleger seu sucessor, no caso, sucessora, é admirável. Os índices de aprovação de seu governo de oito anos são também admiráveis. É bom que se destaque que não estamos falando de um político qualquer. Estamos referindo a um político que foi alçado à condição de "mito" ainda estando vivo. Digo isso, pois, via de regra, os mitos são construídos quase sempre depois de mortos. Lula, líder operário, melhor expressão da classe trabalhadora, entre outros atributos, chegou ao poder num país de experiência republicana ainda pequena. Doutora em História do Brasil e professora da UPF, Eliane Colussi

"O grande vitorioso das eleições foi Lula. A extraordinária popularidade dele permitiu a vitória de Dilma. Ninguém imaginaria que Dilma seria presidente da República há quatro anos. Com a terceira vitória de Lula, esse tipo de esquerda passa a ser adepto da democracia liberal do Brasil. E isso vai permitir que o Brasil passe a crescer econômica e socialmente sem grandes intranquilidades políticas. Começamos a ver ao que tudo indica que o regime constitucional pluralista no Brasil está se enraizando e isso é muito bom. Não é à toa que desde que se democratizou o Brasil programas econômicos começaram a diminuir a parcela da população que vive abaixo da linha da miséria." Cientista político, Antônio Kurtz Amantino

"O bom momento da economia, a geração de empregos e o consumo em alta não fazem do governo Lula um cabo eleitoral imbatível. Essa, para mim, é a razão principal. O Brasil nunca viveu um momento tão bom. Cerca de 80% a 90% das pessoas subiram um degrau. Quem não comia passou a comer uma refeição por dia, quem comia uma refeição passou a fazer duas, quem nunca teve crédito passou a ter, quem andava a pé passou a andar de bicicleta ou moto, quem tinha carro comprou um mais novo e quem nunca viajou de avião passou a viajar. Os industriais também estão felizes, vendendo o que nunca venderam. Os banqueiros, esses sim, são os grandes beneficiários das políticas dos últimos 16 anos de governo do PSDB e do PT." Cientista político, doutor em História e professor na Imed, Mauro Gaglietti

"Lula da Silva é político relativamente jovem para a posição que ocupou saindo do governo com a melhor avaliação jamais registrada. Certamente não pretende se tornar, como FHC, uma espécie de "cavaleiro de triste figura", vivendo das lembranças da glória, poder e prazeres gozados na presidência. Lula sempre se preocupou em não criar ninguém que lhe fizesse sombra. Dos sindicalistas referenciais que fundaram com ele a CUT e o PT, como Olívio Dutra, praticamente não resta nenhum. Se o candidato petista vitorioso fosse, por exemplo, um José Dirceu, um Olívio Dutra, um Tarso Genro, muito dificilmente ele seria candidato em 2014! Com Dilma Rousseff, o retorno se torna muito mais fácil."
Historiador, Mário Maestri

"Entendo que fazer o sucessor, neste caso, a sucessora, mais do que ineditismo, é demonstração de que a sociedade brasileira amadurece no caminho do compromisso com uma agenda de consolidação das promessas constitucionais de democracia e de justiça social. Mais do que saber se o governo de Dilma terá ou não influência de Lula, trata-se de saber até que ponto a sociedade, através de suas organizações e da cidadania ativa, será capaz de produzir uma agenda positiva e propositiva através da qual poderá orientar o país e as ações do governo." Doutorando em Filosofia, professor de Filosofia do Ifibe e militante na Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo, Paulo Carbonari

"A construção da candidatura de Dilma começou por volta de 2007, quando Lula identificou potencial para fazê-la sua sucessora. Novata no PT, sem nunca ter disputado uma eleição, Lula, com sua incrível sensibilidade de um verdadeiro "animal político" viu nela a candidata com condições de dar continuidade ao seu governo. Dilma não tem um projeto de poder, como tinha o candidato derrotado, e por isso, tem mais condições de, com isenção, governar o país. O desafio, sem dúvida, será andar com suas próprias pernas, saindo da sombra do presidente, embora no primeiro pronunciamento, após a vitória, tenha deixado claro que "baterá quantas vezes for necessário na porta de Lula." Historiador, José Ernani de Almeida

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