Redação ON
O ano novo celebra também o início de uma nova fase para o Brasil. Às 14h30 desse sábado, 1º de janeiro de 2011, inicia a cerimônia de posse da primeira mulher presidente do Brasil. Dilma Rousseff foi eleita no segundo turno com 55,5 milhões de votos, correspondentes a 56,01% dos votos válidos. Economista, ex-ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma se destacou nas conquistas dos dois mandatos do governo do presidente Lula, que a indicou para concorrer à Presidência.
A posse de Dilma Rousseff comemora também os 25 anos de redemocratização do Brasil. O discurso de posse da presidente deve durar 45 minutos. Dois meses atrás, proclamada sua vitória nas urnas, em seu primeiro discurso à Nação, ela prometeu erradicar a miséria, honrar as mulheres, zelar pela liberdade de imprensa e de religião e lutar pelos direitos humanos. E anunciou seu compromisso de governar para por fim às desigualdades e criar oportunidades de trabalho para todos. Na solenidade, Dilma discursará logo depois que o presidente do Congresso, José Sarney, declarar que ela e Michel Temer estão empossados na presidência e na vice-presidência do Brasil.
Dos 12 chefes de Estado que já confirmaram presença na posse da presidente eleita Dilma Rousseff, oito são da América do Sul. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, será a grande ausência entre os representantes dos países vizinhos. Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, anunciaram conjuntamente a sua participação na posse da nova presidente brasileira. Também estará na capital brasileira o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, outro representante dos partidos de esquerda sul-americanos, assim como o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. Ainda confirmaram presença na posse presidentes ligados a diversas correntes políticas, como Sebastián Piñera, do Chile; Alan García, do Peru; Juan Manuel Santos, da Colômbia; e Desiré Bouterse, do Suriname.
Os quatro outros chefes de Estado que estarão em Brasília são os presidentes de El Salvador, Maurício Funes; da Guatemala, Álvaro Colom; da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas; e da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.
Dos Estados Unidos, a representante de Washington será a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton. Entre os demais convidados que já confirmaram participação na cerimônia de posse estão o príncipe D. Felipe de Bourbon, representando a Espanha, e dez primeiros ministros. Entre eles, José Sócrates, de Portugal; Souleymane Ndéné Ndiaye, do Senegal; Kim Hwang-sik, da Coreia do Sul; e Boyco Borissov, da Bulgária, terra dos antepassados de Dilma Rousseff.
Temas recorrentes
Não é possível antecipar o que a presidente Dilma Rousseff falará em seu discurso. Entretanto, alguns temas não ficarão de fora. Mudanças, justiça social, economia e cenário mundial são os temais mais frisados pelos presidentes em seus discursos.
Congresso ao seu favor
Dilma Rousseff assume a Presidência da República tendo a seu favor um Congresso predominantemente governista. As últimas eleições coroaram a força dos partidos da base tanto na Câmara quanto no Senado. Na Câmara, o PMDB e o PT, os dois maiores partidos de apoio ao governo, passam a ter, respectivamente, 79 e 88 representantes. No Senado, o PMDB somará na nova legislatura 20 parlamentares. O PT, 14. Para o consultor legislativo Gilberto Guerzoni Filho, ainda que a maioria governista tenha se tornado muito mais folgada no Senado, é na Câmara que a influência maior do governo tende a ser sentida. Ele explicou que, do ponto de vista da fidelidade partidária, a relação do senador com o governo passa por uma série de variáveis.
Para Guerzoni, se repetirá, porém, o quadro de extremo controle do governo sobre a pauta legislativa, seja por meio de medidas provisórias, seja pelo impedimento da apreciação de matérias que não são do seu interesse. No entanto, não se espera da nova presidente uma grande mobilização em relação ao Legislativo. Guerzoni afirma que o próximo governo será "mais de continuidade do que está sendo feito". Ele não acredita que as "grandes reformas" (política, tributária, previdenciária) sejam votadas, "porque não há um consenso na sociedade em torno dos temas ou porque é complicado politicamente".
Reformas
Para os senadores, Dilma precisa abraçar a agenda das reformas. Os desafios são as reformas política, previdenciária e trabalhistas. Os temas são polêmicos e estão em discussão no Senado há muitos anos. Na questão tributária o debate gira em torno da necessidade de um sistema tributário mais simples e menos oneroso para o setor produtivo, essencial à competitividade do país.
Quanto ao sistema político, o que se buscam são caminhos para fortalecer os partidos e a representação popular, para impedir as legendas de aluguel e para reduzir os custos dos processos eleitorais.
Os desafios
O Brasil que a presidente Dilma Rousseff começa a governar apresenta a maior taxa de crescimento econômico em 25 anos e o menor nível de desemprego da série histórica utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até mesmo no campo da economia, onde florescem indicadores animadores, o aumento da inflação e a persistência do país na primeira colocação mundial em juros reais, além do câmbio sobrevalorizado, são sinais de alerta. Se o ritmo de crescimento for mantido, isso acentuará os frequentemente citados gargalos em logística, infraestrutura e, sobretudo, na educação, com a exigência de ampliar a formação de mão de obra qualificada para atender a demanda.
A violência e a expansão do crack por todo o país ameaçam a juventude. Antigos problemas, como a desigualdade regional e a pobreza, têm diminuído, mas continuam em patamares elevados. A corrupção é apontada como o segundo maior problema do país, atrás da extrema pobreza. Esses certamente são desafios para Dilma.
Traje gaúcho
Vem de Porto Alegre o modelo que a presidente irá usar na cerimônia de posse. A gaúcha Luisa Stadtlander é a responsável pelo traje da posse, guardado a sete chaves. O pacto de confidencialidade impede que a estilista revele algum detalhe da roupa. Os modelos de Luisa já são velhos conhecidos do público. O terno vermelho com detalhes em preto, usado pela presidente no dia em que saiu vitoriosa das urnas é de Luisa. Assim como um terno cinza e outro laranja que frequentemente vestem a presidente.