A convite do presidente a Associação dos Diários do Interior do Rio Grande do Sul, a ADI-RS, Kamal Badra, o governador Tarso Genro recebeu os representantes dos jornais integrantes da entidade para uma entrevista exclusiva na quarta-feira à tarde. Acompanhado dos secretários de Infraestrutura, Beto Albuquerque, de Habitação e Saneamento, Marcel Frison, e de Comunicação, Vera Spolidoro, do secretário substituto de Obras Públicas, Oscar Escher, e do presidente da Corsan, Arnaldo Dutra, Tarso respondeu aos questionamentos dos diários.
ADI-RS – O que o governo pensa a respeito da possibilidade de abertura de uma investigação na Assembleia sobre supostas irregularidades em licitações para compra de controladores de velocidade em cidades gaúchas e da participação de um funcionário ligado ao Daer nesse processo?
Tarso – Acho que pode investigar, claro. Mas os grandes jornais estão fazendo disso algo que pessoalmente não acho bom para democracia. É claro que as reportagens trazem uma carga importante de informações e verdade, não há dúvida. Mas deveriam ser melhor produzidas junto ao Ministério Público. Nos três anos em que passei no Ministério da Justiça, as investigações da Polícia Federal deram os resultados porque havia um rigoroso respeito aos preceitos jurídicos. Flagrantes armados são facilmente derrubados nos tribunais. Faço esse reparo, mas acho que deve ser investigado.
ADI-RS – E o aumento para o magistério e o funcionalismo?
Tarso – Estamos trabalhando nisso. A proposta que faremos ao magistério é simbológica. Daremos a inflação do período e um percentual de ganho real levando o piso da categoria em direção aos patamares do piso nacional.
ADI-RS – O governo Yeda Crusius orgulhava-se de sua austeridade com os gastos públicos e a conquista do déficit zero. O senhor já havia dito que isso era uma falácia. É mesmo?
Tarso –Quando se corta os gastos em saúde pública para pouco mais de 3% do orçamento quando deveria ser 16%, quando se investe menos em educação do que o previsto na Constituição, quando se arrocha brutalmente o salário dos professores e do funcionalismo e ainda começa uma série de frentes de obras que não são pagas na ordem de R$ 150 milhões, se chega a isso que o governo que nos antecedeu chama de déficit zero. Mas na prática, ele não existe. Era uma unanimidade no Estado durante todo o ano passado. Todos acreditaram nele, mas não existe. Não passa de uma falácia neoliberal, só isso.
ADI-RS – Recentemente o senhor recebeu representantes de uma fábrica de caminhões que quer instalar-se em solo gaúcho. Em que pé está a negociação e em que cidade o investimento deve acontecer?
Tarso – Primeiramente, a área pretendida fica no município de Charqueadas. Eles reivindicam uma área de 100 hectares, o que não é um problema para o Rio Grande do Sul.
ADI-RS – E os incentivos e a guerra fiscal, governador, como ficam nesse caso?
Tarso – Tenho dito a brincadeira de que a guerra fiscal acabou: todo mundo já deu tudo que podia dar. O governo tem uma margem de renúncia possível, mas não é isso que resolve por si só a atração do investimento. Precisamos alinhar isso a uma política de desenvolvimento, geração de empregos, de renda. As vezes concerder R$ 100 milhões em renúncias a uma empresa ou um grupo de empresas pode ser um bom ou mau negócio para o Estado. Mas estamos estudando mecanismos que podem contribuir com essa discussão. Já há um grupo de trabalho sobre isso no Conselho de Desenvolvimento Social que empossamos aqui no Palácio na terça-feira.
ADI-RS – Qual a política do governo para desenvolver a Metade Sul e contribuir com o crescimento de oportunidades nas áreas de fronteira, por exemplo? Em Santana do Livramento se pensa na criação de uma Zona Franca.
Tarso – Nas áreas de fronteira é preciso uma negociação trilateral do governo do Estado, do governo Federal e com os países envolvidos. Podemos contribuir com isso, é claro. Mas não passa por uma decisão exclusivamente nossa. A Metade Sul já está em crescimento. Os investimentos do governo Federal no Polo Naval de Rio Grande, por exemplo, trazem outra perspectiva para região. A Petrobrás também participa disso trazendo investimentos e preparando para o Pré-Sal. Além disso, devemos enaltecer as vocações tradicionais da região, como o turismo, a agricultura, a pecuária.
ADI-RS – Cachoeira do Sul tem projeto para receber um campi da Universidade Federal de Santa Maria. A negociação acontece diretamente com o Governo Federal. O Estado pode ajudar?
Tarso – Não há dificuldade para isso. Estamos trabalhando com o Pacto Gaúcho pela Educação, que envolve o Conselho de Desenvolvimento. Podemos estabelecer discussões e parcerias com universidades comunitárias e até com federais a partir disso.