Natália Fávero/ON
A implantação da Ferrosul depende da ação política dos governos. O projeto é uma parceria entre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul para criar uma empresa pública com o objetivo de planejar, construir e operar ferrovias e sistemas logísticos na região do Conselho de Desenvolvimento do Sul (Codesul), interligando os estados ao restante do país. Até o momento, apenas o Rio Grande do Sul e Santa Catarina criaram a Lei autorizando a formação da Ferrosul. Na prática é preciso que os governos dos outros dois Estados também implantem essa Lei. Essa foi uma das questões apresentadas durante a Audiência Pública realizada na Câmara de Vereadores, na tarde de ontem (22), pela Frente Parlamentar de Apoio à Ferrosul, da Assembleia Legislativa do RS.
O debate contou com a presença de lideranças políticas de Passo Fundo, Erechim e Carazinho, do promotor, Marcelo Petry e do ex-presidente da Ferroeste e atual coordenador do movimento de apoio a Ferrosul, Samuel Gomes. O debate foi presidido pelo deputado estadual, Raul Carrion (PC do B).
O coordenador do movimento de apoio a Ferrosul explicou que para a existência da empresa pública é preciso que cada um dos quatro Estados crie uma Lei autorizando a formação, o que ainda não foi feito por dois deles. Mato Grosso do Sul é o mais atrasado e o Paraná já teve a Lei aprovada na Assembleia Legislativa, mas o governador da época, Orlando Pessutti vetou o projeto de Lei. “É preciso limpar o terreno do ponto de vista político e criar uma política clara para o uso dessas ferrovias. Mas acredito que os atuais governadores querem ver as ferrovias funcionando nos seus governos”, declarou Gomes.
O deputado Carrion disse que a Frente Parlamentar composta por cerca de 40 deputados contribuirá para que esses empecilhos sejam resolvidos. Outro fator questionado pelo parlamentar é a situação das ferrovias de concessão da ALL. “As concessões destinadas a essa empresa estão sendo descumpridas e nada se faz. Inúmeros ramais foram desativados e a empresa não tem compromisso com a ampliação no Estado”, questionou Carrion.
O prefeito Airton Dipp também defendeu a implantação da Ferrosul que ligará o norte do país ao Porto de Rio Grande. Segundo ele, é inadmissível que o transporte demore cerca de sete dias para chegar ao Porto. Na opinião dele, a privatização do sistema ferroviário no país tornou a logística ineficiente. O setor ferroviário está estagnado há 30 anos. “É uma piada o que fizeram com a ferrovia no Brasil”, declarou o prefeito.
A Valec, que é uma estatal do governo federal e trata da questão das ferrovias, publicou no início de abril, uma licitação para os estudos de viabilidade da ferrovia. Agora, o grande desafio é incluir na lei orçamentária os recursos para a construção da Ferrosul.
Modelo de ferrovia
O ex-presidente da Ferroeste disse que o monopólio privado, como o existente hoje, não permitirá o desenvolvimento. O modelo mais adequado na opinião dele seria a operação gerenciada pelo Estado. “A privatização da rede ferroviária federal, pelo governo federal, levou a destruição das nossas linhas. Não podemos admitir o monopólio privado. A ferrovia precisa servir ao desenvolvimento e não promover exclusivamente a lucratividade de uma instituição. Precisamos ajudar a presidente Dilma a não repetir o erro de governos passados”, alertou Gomes.
A Ferrosul pretende criar fretes baratos, eficiência no transporte, transportar cargas e passageiros e desenvolver o interior do Estado.
Importância da Ferrosul
Cerca de 80% das cargas no Rio Grande do Sul são transportadas por meio de rodovias, o que gera um alto custo logístico. Dos 28 mil quilômetros de ferrovias privatizadas, 16 mil foram desativadas pelas concessionárias, aumentando ainda mais os prejuízos. A Ferrosul resultaria em trilhos de trem cortando 238 municípios gaúchos.
O coordenador do movimento no âmbito municipal, o vereador Juliano Roso salientou a importância do projeto para o desenvolvimento econômico. A Ferrosul deverá encurtar o caminho até o Porto do Rio Grande. “É uma bandeira importante para o desenvolvimento da região, para a logística dos transportes e diminuição dos custos de insumo. Passo Fundo tem plenas condições de relevo e de economia para fazer parte do trajeto da ferrovia”, salientou o vereador.
Ferroviário sonha com um novo trilho
O diretor do Sindicato dos Ferroviários do RS, João Garcia está aposentado há 54. Mas, o ex-ferroviário ainda quer estar vivo para ver o sistema renovado. Garcia disse que a privatização foi o maior erro do governo e a Ferrosul seria a solução para o trânsito no país. “A Ferrosul fará o transporte de carga e de passageiros. Essa seria a solução para desafogar o trânsito e terminar com o acúmulo de mortes nas rodovias”, declarou o sábio ferroviário aposentado.