Codepas cogita eliminar linhas de ônibus

Medidas devem ser tomadas para reduzir o déficit orçamentário, com dívidas que chegam a R$ 11 milhões. Coleta de lixo é a aposta lucrativa da empresa pública

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Com uma dívida que se acumula há mais de oito anos, a Companhia de Desenvolvimento de Passo Fundo – Codepas dá início a um processo em busca da recuperação financeira, poucos dias após oassaltado aos cofres da empresa pública. Em coletiva de imprensa realizada no início da tarde desta quarta-feira (23) o diretor presidente da Codepas Tadeu Karczeski apresentou a situação econômica da companhia e as prováveis diretrizes para um plano de gestão.

O saldo negativo chega a R$ 11 milhões. Parte da conta, R$ 4 milhões, é resultado de investimentos e a maior fatia, R$ 6,9 milhões, resulta de dívidas tributárias. “Nosso maior credor é o fisco. Os fornecedores e o leasing (para a compra de veículos) estamos pagando em dia. O que não está sendo pago são as contribuições previdenciárias, Pis e Cofins”, apontou Karczeski. Associado ao débito acumulado nos últimos anos, um déficit mensal de 160 mil degringola ainda mais os cofres da companhia.

A amortização do passivo através do aumento das tarifas não é uma possibilidade a ser adotada, segundo o diretor. “Sou contra o aumento de passagens, da outra vez que estive aqui rejeitei o aumento”, relembrou sobre o período anterior, em 2006, quando em que também dirigiu a empresa. “Eu justifico: o que nós precisamos é aumentar o número de usuários do transporte coletivo e sou daqueles que acha que a passagem pode ser até reduzida”. Para Karczeskia médio prazo as gratuidades devem ser revistas. Conforma avalia, a resolução definitiva para as fraudes e o comércio irregular de passes está na implantação da bilhetagem eletrônica, que possibilita o controle total.

 Transporte e arrecadação

O ativo gira em torno de R$ 1,1 milhão mensais e o transporte coletivo é responsável por 70% da arrecadação. Mesmo assim o serviço é apontado como o mais dispendioso. “O gargalo que temos aqui é o transporte coletivo, que está dando um prejuízo muito grande e por isso vamos rever algumas linhas”. Na visão do gestor existem linhas que foram criadas e não oferecem rentabilidade nem utilidade à população. Karczeski preferiu não revelar quais são estes itinerários,o que prometeu fazer após a conclusão do diagnóstico, previsto para ser finalizado em 15 dias.

Neste período, o monitoramento será feito em cada rota para identificar quais são as deficitárias e os motivos. Embora tenha frisado por diversas vezes a necessidade de reduzir os gastos com o transporte urbano, o diretor também mencionou que alternativas menos restritivas podem ser adotadas, como a mudança de itinerários.No transporte coletivo, o gasto com folha de pagamento chega a 49,78% da arrecadação.

 Leasing

O leasing foi a modalidade de crédito adotada para a aquisição de ônibus e caminhões para coleta de lixo, como alternativa à impossibilidade de dispor de subsídios do Governo Federal. “Como não temos a certidão negativa, não podemos aproveitar os subsídios que existem, por exemplo, para o transporte coletivo na compra de ônibus e, até, na compra de caminhões para a coleta de lixo e (para compra destes equipamentos) temos que fazer leasing com um juro bem mais alto”, esclareceu.

São 60 prestações, das quais apenas duas já foram quitadas. Os investimentos incluem R$ 1,362 milhão em parquímetros, R$ 700 mil em chassis de ônibus e mais de R$ 1 milhão destinado à aquisição de quatro caminhões de coleta de lixo.

 Plano de gestão

“Inauguramos um plano de gestão em que vamos fechar todas as torneiras possíveis”, adiantou. A proposta inicial é centralizar todos os procedimentos administrativos na figura do diretor financeiro, Gilberto Nietzsche.  “Não sai nada daqui, não se gasta uma nota de dez reais sem passar pelo financeiro. Antes cada setor fazia suas compras, agora poderemos ter o controle. Também centralizamos o fluxo de caixa no diretor financeiro”, comentou Karczeski. Dentro de cem dias o diretor presidente estima que estejam definidas as linhas de atuação para a reabilitação da companhia. A proposta, que será analisada pelo Conselho da empresa, é que Gilberto Nietzsche assuma também a função de diretor administrativo.

“A nossa administração vai ser profissional. Vai ser uma gestão de empresa. Já apresentamos um plano de gestão ao prefeito em que vamos atacar diversas áreas para melhorar o fluxo de caixa. Temos certeza de que a empresa vai ser viável”.

 Folha de pagamento

Mesmo com as dificuldades financeiras acentuadas pelo assalto registrado no final de semana que resultou um prejuízo de R$ 72 mil, o diretor da companhia promete que a folha de pagamento vai ser honrada e o próximo salário dos funcionários está assegurado. No transporte público, quase 50% do valor arrecadado mensalmente é destinado à remuneração dos servidores de quadro e terceirizados.

 Funcionários

A Codepas tem 184 funcionários efetivos e aproximadamente 30 terceirizados. Um aspecto preocupante em relação aos servidores é o elevado número de pessoas em auxílio doença ou em atestado. Em alguns setores o índice de afastamentos chega a 20% do quadro.  “Vamos procurar unto aos profissionais que fazem esta avaliação ver o que esta acontecendo”, assegurou. A substituição destes trabalhadores é um problema dada a necessidade de realização de concurso, o que ajuda a inchar a folha. A companhia tem ainda um número significativo de aposentados.

A quantia de trabalhadores que deseja deixar a empresa, porém sem perder os benefícios é significativo. “Temos um problema. Provavelmente vamos propor um plano de demissão voluntária, porque as pessoas querem sair com os direitos, mas temos um passivo muito grande, não há condições de indenizar este pessoal”. Neste processo o apoio dos trabalhadores será fundamental e a insatisfação vai ser combatida também com palestras motivacionais, já previstas para março. “Se a empresa quebrar todo mundo vai quebrar, não tem saída honrosa para ninguém”, alertou.

O saldo dos serviços prestados

Transporte coletivo - Para Karczeski existe uma defasagem entre a ampliação de veículos promovida nos últimos anos e número de usuários. Os dados apresentados pela empresa dão conta que em 2006 foram transportados 3,642 milhões de passageiros com 17 ônibus. Em 2007 a frota foi ampliada para 27 veículos e os passageiros aumentou em seis mil. Com a frota duplicada, os números de 2011 apontam que os atuais 34 coletivos transportam 3,923 milhões de passageiros.

Coleta de lixo - Das cinco áreas em que a Codepas presta serviços, apenas a coleta seletiva é apontada como lucrativa pelo diretor. Por isso, um dos objetivos é investir no setor com profissionalização e treinamento dos trabalhadores. É necessária a realização de concurso para o serviço, seleção em que deve ser valorizada a resistência física dos concorrentes com a realização de provas práticas. Mecanismos para a motivação dos servidores também estão previstos entre as iniciativas.

Parquímetros - Os parquímetros que recentemente começaram a funcionar ainda não possibilitaram o início do retorno do investimento, porém a expectativa é de melhora gradual na arrecadação. “Esta e uma situação que vamos resolver logo”, prevê o diretor.

Outros serviços - A coleta de animais mortos e o monitoramento e detonação de pedreiras são serviços unicamente mantidos pelo fato da Codepas ser uma empresa pública. “Isso não dá lucro. Nós recebemos o que nós pagamos para a empresa que faz as detonações. A coleta de animais mortos é um problema que estamos ainda a solucionar. Estamos fazendo a coleta, mas é preciso definir a destinação. É preciso freezer e uma série de coisas que vamos resolver nos próximos dias”, explicou. 

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