Como continuar sendo a mãe, o padre, o evangelista, o professor, o agricultor, o servidor público, o advogado, o artista, o empresário, o pai, o marido, o filho e ser um legislador? Como levar a responsabilidade de legislar com as atividades particulares? Como harmonizar tudo isso? Esse é o desafio dos vereadores que não abriram mão de suas profissões para serem representantes da sua sigla partidária, mas principalmente da população.
Conforme o procurador da Câmara de Vereadores, Ari Domingos Baldissera, o vereador é uma das atividades que possibilita certa flexibilidade, ou seja, eles podem exercer uma atividade profissional desde que cumpram seu papel como legisladores, comparecendo nas reuniões de comissão, sessões plenárias e todas as atividades que competem ao vereador. “Nosso horário foi compatibilizado para as 17h, justamente para dar chance a eventual possibilidade dos servidores públicos municipais participarem das sessões sem deixar de exercer sua atividade profissional e não dar choque de horário com as sessões”, comenta.
Eles não são diferentes de cada um de nós, são pessoas com trabalho, família, amigos, bandeiras de luta, além de uma dinâmica de vida ligada a movimentos sociais e a comunidade como um todo. Mas são pessoas que se desafiaram a representar a sociedade, e mais do que isso, a sua classe trabalhadora. O segredo para conciliar um ritmo de vida intenso é o amor, o carinho e a dedicação. Isso é possível?
Vereadora a todo o momento
Conforme a legisladora, intérprete e professora Claudia Furnaletto, PT, o vereador não deixa de ter sua função no momento que está fora da Câmara. Cada umpossui a função durante as 24h do dia, durante os sete dias da semana. “Tive que abrir mão das interpretações, faço elas somente quando há pessoas com deficiência auditiva em alguma atividade que estou presente, mas não consigo dedicar um tempo somente para isso. Mas continuo lecionando, trabalho nas sextas-feiras à noite e no sábado de manhã. Contudo nesse espaço não deixo de ser vereadora, bem pelo contrário, ali consigo perceber muitas politicas publicas necessárias para a sociedade. O contato com a comunidade é fundamental para nosso trabalho dentro da Câmara de Vereadores, pois é a partir disso e da vivência das diferentes realidades que conseguimos apontar as demandas que o município carece”, disse.
Levando o evangelho e a política
O vereador e padre, Wilson Lill, PSB,comenta que não deixou de levar o evangelho e a palavra de Deus aos seus fiéis. Seu trabalho intenso como religioso acontece aos sábados e aos domingos, mas não se desliga da sua tarefa de vereador, pois nesse espaço é possível perceber o que é necessário para trazer melhorias para a vida das pessoas. “Vejo que tem coisas que a oração, a fé e a Bíblia não resolvem, tem coisas que exigem decisões políticas e Executivas. Quando vou de um lugar para o outro como padre, estou sendo muito vereador, por que vejo as demandas e as faço ecoar aqui na casa”, afirmou. O vereador Lill, possui sua equipe que o assessora no gabinete e uma que o ajuda na Paróquia. Na segunda e na quarta-feira dedica tempo integral na casa, e através das redes sociais e por celular também define questões relacionadas à Paróquia. Na terça-feira a situação se inverte e na quinta e na sexta-feira dedica meio turno para cada atividade.
Artista + professor = vereador: um desafio constante
Gleison Consalter, PT, vive uma rotina agitada. Ele não exerce uma atividade profissional, mas sim duas atividades. Além dos trabalhos desenvolvidos na Câmara de Vereadores, ele é educador físico e artista, com seu conhecido personagem, o Palhaço Uhu. Gleison considera um desafio constante, mas extremamente positiva a experiência que está vivendo nesses três meses. A carga horária nas escolas de educação infantil que trabalha continuam as mesmas, sua atividade como Palhaço Uhu acontece todas as sextas-feiras ou aos sábados à tarde. Ele ressalta ainda que realizar essas atividades contribui muito para seu trabalho como vereador, pois isso possibilita um contato direto com a população. “Mesmo na brincadeira, com o personagem, há uma mescla com o trabalho da câmara. Acontece uma cobrança saudável da população, que vem pedir como estão os trabalhos no legislativo. Então estou encarando positiva essa divisão de trabalhos, pois todos se interligam. Além disso, fui taxativo durante a campanha: continuaria exercendo as minhas atividades mesmo depois de eleito”, ressalta.
Uma política profissionalizada e profissões politizadas
O médico e vereador Ernani Laimer, PPS, considera que não existe desafio em conciliar uma atividade profissional com a legislatura. Conforme ele, o médico como profissional liberal tem plenas condições de conciliar com outra atividade, devido a flexibilidade de horários que possui. Ele ainda considera extremamente importante o vereador permanecer com sua atividade profissional original, já que a legislatura não é profissão. Além disso, afirma que o país teria outro panorama se os governantes fossem profissionais antes de serem políticos. “Quanto mais politizado e mais profissionalizado for o nosso país, mais evolutivo nós vamos ser. Como médico, vejo de perto a necessidade de novas políticas públicas para a saúde e tenho um contato direto com a população e isso contribui muito com o trabalho na Câmara”, comenta.
Dedicação integral ao legislativo municipal
Alguns vereadores observam a legislatura como uma condição que precisa de atenção especial, por isso, optaram por dedicar o tempo integralmente as atividades parlamentares. Claudio Sodá, PMDB, é um exemplo de quem dedica tempo integral às atividades do plenário. Segundo ele, isso permite mobilidade para que possa visitar e receber a comunidade estabelecendo um diálogo amplo.
O comunista Alex Necker, é formado em Direito, não advoga, mas mesmo dedicando seu tempo integralmente com a comunidade e nas bandeiras de luta que o levou ao legislativo, pretende no decorrer dos próximos quatro anos atuar na sua área de formação.
Na mesma perspectiva Renato Tiecher, PCdoB, considera importante a atuação diária nas atividades da casa e com a comunidade, mas não descarta a possibilidade de voltar a atuar nas pedreiras onde trabalhou nesses anos.
O petista Isamar de Oliveira considera impossível conciliar as atividades parlamentares com a profissional. Por isso, dedica tempo integral as atividades, assim pode receber e visitar a comunidade, além de elaborar propostas e projetos.
Eduardo Pelicioli, PSB, preferiu focar seus trabalhos somente no legislativo. Segundo ele as atividades da casa exigem tempo, e se conciliasse com outra atividade não conseguiria dar a mesma atenção que dedica. Também considera que o tempo integral à Câmara ainda é curto diante de todas as demandas que a casa exige.
O progressista Marcos Silva obrigou-se a optar somente pelos trabalhos legislativos. Anteriormente trabalhava no transporte coletivo urbano e pela incompatibilidade de tempo das duas atividades teve que optar apenas pelos trabalhos da Câmara. “Desde a campanha, estava ciente que caso fosse eleito teria que deixar a minha profissão”, esclareceu.
Paulo Neckle, PMDB, considera que a dedicação integral aos trabalhos na legislatura depende de cada parlamentar. Ele é servidor municipal aposentado e dedica tempo integral aos trabalhos do legislativo.
João Pedro Nunes, PMDB, também dedica tempo integral aos trabalhos na Câmara. Essa decisão se deu frente aos resultados que obteve realizando a mesma prática no mandato anterior. Ressalta, que esse trabalho exclusivo vem de encontro com as demandas da sociedade como um todo e faz refletir em bons resultados.
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