Com um discurso em defesa da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e críticas a medidas unilaterais adotadas por alguns países em situações de crise como a vivida pela Síria, o ex-chanceler Antonio Patriota foi aprovado por unanimidade, pelo Senado, para assumir o cargo de representante permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).
Ao deixar o colegiado com o resultado que deve ser confirmado em plenário na próxima terça-feira (1º), Patriota elencou algumas prioridades de sua atuação em Nova York, lembrando que o governo brasileiro defendeu recentemente a solução para os casos de investigações internacionais. No discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, a presidenta Dilma Rousseff disse que o Brasil vai apresentar propostas para estabelecer um marco multilateral civil para tratar dessas questões.
Patriota explicou que a ideia é definir mecanismos multilaterais para lidar com essas situações, garantindo conquistas já implementadas pelos diversos órgãos das Nações Unidas (ONU) como a soberania e privacidade dos países. O diplomata acredita que a resistência de alguns países, como os Estados Unidos, perdeu força com as denúncias recentes de que o governo norte-americano também espionou as atividades da Petrobras. “A cortina caiu. Toda espionagem e interferências eram justificadas pelo suposto combate ao terrorismo e proteção de vida. Isso caiu por terra porque você não espiona a Petrobras para proteger contra o terrorismo”, disse.
Durante quase duas horas de sabatina, o diplomata destacou o papel de liderança do Brasil sobre temas prioritários no cenário internacional e lembrou, por exemplo, que o governo brasileiro foi responsável por iniciar o debate sobre a responsabilidade das nações em proteger civis em regiões de conflito. A iniciativa ocorreu em uma crítica à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na situação do Afeganistão que perdurou por quase 10 anos. Apenas no período entre janeiro e junho de 2010, mais de 1,2 mil pessoas morreram em decorrência do confronto, segundo dados da ONU.
“Alguns países acham que tem carta branca para fazer o que entende como moralmente correto. O debate foi lançado”, disse, afirmando que o novo conceito não vai substituir o conceito da responsabilidade de proteger. “É uma semente que está germinando que vou acompanhar na ONU”.
Patriota disse que outra tarefa que vai levar entre as prioridades na representação na ONU será a defesa pela reforma do Conselho de Segurança do organismo. “Espero que a reforma se concretize num futuro relativamente próximo. O debate está colocado na pauta há 20 anos”, disse. O diplomata destacou que o Brasil, ainda que não tenha assegurado um assento permanente no conselho, foi responsável por conquistas significativas sobre decisões do grupo. Patriota citou, por exemplo, o esforço feito, ao lado de países africanos e a Índia, para evitar que o colegiado internacional fechasse definitivamente as portas para uma participação permanente de países em desenvolvimento.
“A primeira vitória foi evitar déficit de representatividade que está na ausência de um membro da América Latina e África”, disse. Antonio Patriota ainda explicou que o Brasil “não está fazendo barganha, em termos de perdoar dívidas de países africanos, para obter apoio para ocupar a cadeira”, afirmando que o Brasil é o candidato natural da região para o Conselho pela liderança que vem destacando em diversos debates internacionais.
Antonio Patriota, 59 anos, foi ministro das Relações Exteriores por dois anos e oito meses, e foi indicado pela presidenta Dilma Rousseff para o ocupar o cargo em Nova York, logo que deixou a pasta, em agosto desse ano. Com 34 anos de carreira diplomática, Patriota serviu na missão permanente do Brasil em organismos internacionais em Genebra, na Suíça (1999-2003) e integrou a delegação brasileira no Conselho de Segurança da ONU (1994-1999).
Agência Brasil