Um novo momento ao partido

O foco central dos candidatos à presidência do PT, tanto em Passo Fundo como no Estado, visa a retomada do contato com a militância e distinção entre partido e governo

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A poucos dias do segundo turno das eleições para presidente do diretório municipal e estadual do PT, os candidatos que disputam a presidência do partido, apresentam como propostas a reaproximação das bases e a recuperação de antigas ideologias que embasaram a construção do partido. Diante disso, é unanime na avaliação de cada um deles que a construção da sigla não deve acontecer dentro de estruturas fechadas e atreladas ao governo, mas deve voltar a atuar junto a sua militância, descentralizando o poder e rompendo a burocratização interna . Ambos consideram que essa estratégia não atende somente uma demanda levantada pelos filiados, mas é um mecanismo vital para delinear novos rumos.

Passo Fundo conta com mais de dois mil filiados, e desses 1.035 estão aptos ao voto, mas apenas pouco mais de 600 filiados compareceram às urnas no primeiro turno do pleito, que aconteceu há cerca de duas semanas. Agora o desafio de Neri Gomes e Adelar Aguiar, candidatos que disputam o segundo turno, é mobilizar os militantes que ainda não participaram do processo eleitoral. Aguiar, que contava com o apoio de quatro correntes do partido, somou 256 votos enquanto Gomes totalizou 239, mas nessa segunda disputa ele conta com o apoio unanime do grupo que apoiou Rodrigo Roman, que obteve 151 votos. Além desse grupo, Gomes conta com o apoio de nomes de peso internamente no partido como de Rene Ceconello e da maioria dos vereadores da bancada do partido como Rui Lorenzato, Claudia Furnaletto e Isamar Oliveira. Enquanto isso, Aguiar conta com o apoio do vereador Gleison Consalter e mobiliza ainda mais as correntes que o apoiam para conquistar a confiança daqueles eleitores que não compareceram no último pleito. Ele afirma que em avaliação realizada pelo o grupo, haveria a possibilidade de vitória ainda no primeiro turno, mas não houve estrutura e organicidade dentro das chapas que trabalharam pela sua candidatura.

Projeções
A reaproximação dos militantes, uma das principais projeções apontadas pelos candidatos, deverá ser traçada a partir de processos de formação política e da construção da comunicação interna. Além disso, o novo líder, juntamente com todo o grupo partidário, assumirá no próximo ano, o desafio de trabalhar na reeleição da presidente Dilma e do governador Tarso Genro.

O PT no RS
Buscando essa aproximação, os candidatos estão trabalhando diretamente com os filiados. No cenário estadual, o prefeito de Canoas, Jairo Jorge e o ex-prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, traçam a mesma estratégia e viajam pelo estado para dialogar diretamente com as bases. Jairo Jorge esteve no final da tarde de terça-feira na cidade conversando com as lideranças que apoiam Gomes à presidência do PT. Com um projeto alinhado ao do presidente reeleito no cenário nacional, Rui Falcão, ele destaca a necessidade de desenvolver quatro pontos vitais: a interiorização, organização estrutural, politica de comunicação e a construção de politicas de coalizão. Segundo ele a interiorização visa a aproximação com as bases do partido do interior do Estado, área na qual o PT mais cresceu nos últimos anos. Para isso será criado um conselho de presidentes, o desenvolvimento de uma assembleia virtual mensal, para que os filiados possam acompanhar o que vem acontecendo no partido. Ainda compondo a interiorização, ele propõe a criação de uma caravana mensal para visitar as 28 regiões do Estado. A organização estrutural do partido visa rever as finanças internas. Além disso, ele frisa a necessidade de construir uma politica de comunicação massiva, utilizando as redes sociais, e o desenvolvimento de um jornal, que possa chegar a todos os gaúchos. Ele salienta a necessidade de uma política de coalizão ampla e sem distinção. Essa pratica é uma das estratégias fundamentais, segundo ele, para buscar a reeleição do governo nacional e estadual.

Já Vanazzi, candidato que agrega forças partidárias como a de Paulo Pimenta, Estela Farias e de todos os ex-presidentes, que conduziram o partido no Estado desde seu surgimento, possui um perfil mais critico e carrega como principal proposta a ruptura da burocratização, a descentralização do poder e discorda com a condução que o partido, em nível nacional, vem assumindo. Além disso, ele frisa a necessidade em reincorporar antigos temas, que foram fundamentais no crescimento e na construção ideológica do partido. Entre eles, Vanazzi destacou a reforma agrária, taxação das grandes fortunas, trabalhar na construção de projetos de iniciativa popular, visando propostas de reforma política, tributária, fiscal e a democratização da mídia. “Essas questões devem ser reincorporadas no discurso, mas também nas práticas cotidianas”. Outra proposta é o fortalecimento das regionais e dos diretórios. Esse caminho é um dos fundamentais para mobilizar os militantes na condução do processo eleitoral no próximo ano. Para ele é vital para o partido dar clareza política e ideológica para o debate interno. “O PT já se misturou demais com setores da sociedade que não representam o nosso ideário político”. Para isso, seria preciso reincorporar debates que os movimentos sociais desenvolvem, além de ser um mecanismo de reaproximação desses grupos. Ele critica a condução que o partido vem tendo. “A direção nacional transformou o PT em um partido de eleição, mas o ele é mais do que isso. Pois sempre foi uma ferramenta de luta permanente para a transformação da sociedade”. Esse novo enquadramento, segundo Vanazzi, traçou a burocratização da sigla principal fator que levou ao distanciamento dos filiados. Em Passo Fundo, Aguiar apoia a candidatura de Vanazzi.

“O PT ficou grandão”
Nesse sentido, tanto Aguiar como Gomes, destacam a necessidade interna de distinguir o papel do governo e o do partido e o dever de fazer cobranças da estrutura governamental nos momentos necessários. Gomes destaca que isso deve acontecer mediante um debate interno que construa direcionamentos que contribua para que o governo possa criar avanços.

De acordo com eles, essa postura está sendo sinalizado pelos filiados que demonstram o desejo da mudança de perfil da atuação do PT. “As lideranças precisam sair das quatro paredes e voltar para o fundo de vila e dialogar com a militância”, declarou Gomes. Segundo ele, algumas lideranças “se encastelaram” na máquina governamental e não retornaram para suas bases resultando nesse processo. Diante disso, Aguiar destaca que o partido precisa ser essencialmente mais militante, e esse perfil precisa ser retomado.
 

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