A Câmara dos Deputados homenageou, na quarta-feira, os 30 anos das Diretas Já – maior luta do povo brasileiro pela democracia –, o líder do PSB, deputado Beto Albuquerque (RS), pediu o compromisso constante de toda a população com o aperfeiçoamento do sistema democrático. Por iniciativa de Beto, o Plenário da Casa recebeu autoridades, parlamentares, artistas e representantes de movimentos sociais durante Sessão Solene em comemoração a esse movimento nacional, ocorrido entre os anos de 1983 e 1984, que levou a mudanças fundamentais na estrutura política do País.
"Nosso desafio é aprofundar o sistema democrático, estimulando a participação cidadã no processo decisório, envolvendo cada vez mais no processo político aquele que deve ser o seu principal agente, o seu guia, o seu condutor, que é o povo brasileiro, como manda a Constituição", afirmou o parlamentar socialista. Em breve recordação dos acontecimentos que envolveram o movimento Diretas Já, Beto citou nomes como o de Miguel Arraes, um dos grandes líderes políticos da época; de atrizes e atores, como Milton Gonçalves, presente na cerimônia; e de intuições como a União Nacional de Estudantes, que fizeram parte e foram porta vozes dessa luta pela liberdade, conforme disse o deputado. "Relembrar a história é assumir compromissos com um novo legado para frente, é aprender a não cometer os erros do passado e jamais esquecer que só a luta vence."
Durante o movimento, a população brasileira foi às ruas de todo o País para reivindicar a volta das eleições diretas para presidente – a última eleição antes desse período aconteceu em 1961, quando Jânio Quadros foi eleito. A manifestação ocorrida em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1984, levou mais de 1,5 milhão de pessoas, ao centro da capital paulista, em apoio ao movimento. Foi a maior manifestação popular pela democracia já vista no Brasil. O líder do PSB reiterou a importância da participação popular ao falar da Emenda Constitucional apresentada pelo deputado Dante de Oliveira, em 1983, que implantava as eleições diretas, mas que foi rejeitada à época, causando grande frustação a todos que lutavam pela redemocratização. "Apesar da primeira derrota, a população brasileira venceu. É de baixo para cima que o Brasil avança e o Congresso pode rever seus erros", argumentou Beto. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), à época, dava conta de que 84% dos brasileiros eram favoráveis à aprovação da Emenda Dante de Oliveira.
Os protestos representavam a vontade popular pela liberdade. O País completava 20 anos de ditadura militar, regime que já dava sinais de enfraquecimento. A inflação era alta e a recessão também. O surgimento de novos partidos e o fortalecimento dos sindicatos contribuíram para reforçar a oposição ao regime. Após a derrota da emenda no Congresso, as eleições indiretas pelo Colégio Eleitoral consagraram o candidato da oposição, o civil Tancredo Neves em 1985. Mas Tancredo morreu sem tomar posse. Foi na gestão de seu vice, José Sarney, que as eleições voltaram a ser diretas. Seu governo marcou o período de transição democrática. Em 1989, cinco anos após a rejeição da Emenda Dante de Oliveira e um ano depois da Constituinte, Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito por voto direto em 30 anos.
Politização
O ator Milton Gonçalves, que participou ativamente das Diretas Já em comícios e nas manifestações públicas ocorridas em vários locais, classificou o movimento como "um rastro pelo País que chamou todos à razão". O ator também lembrou da população negra no Brasil e afirmou faltar melhor politização dessa parcela da população. "Dos brasileiros negros falta uma atitude mais positiva no sentido de ir para a rua, e reclamar, e ajudar a construir ou reconstruir a democracia, com uma melhor divisão de renda, melhor divisão de trabalho, melhor divisão de assistência à doença, melhor divisão de brasilidade. É o que nós somos. Nós somos 52% da população e nós não temos ciência disso", lamentou Milton.