A trágica morte do candidato à presidência da república pelo PSB, Eduardo Campos, provavelmente dará novos rumos à corrida presidencial. Campos estava a bordo de um avião executivo que caiu em Santos na manhã desta quarta-feira (13). Para o cientista político Benedito Tadeu César, a campanha eleitoral começa do zero e o caminho natural é que a candidata à vice de Eduardo Campos, Marina Silva (PSB), assuma a cabeça da chapa na concorrência às eleições deste ano. “Neste momento de perda, temos dois sentimentos. Um é de perplexidade de todo mundo, tanto dos partidos da coligações, quanto dos eleitores, quanto dos adversários. O segundo é de dúvida, porque podemos ter uma boa reviravolta do quadro eleitoral. De fato, a substituta natural é a Marina”, analisa.
Politicamente, muitas questões precisam ser discutidas nos próximos dez dias, prazo que a coligação tem para definir e registrar a nova chapa. A primeira delas é o posicionamento do partido de Campos, já que o PSB ao entrar na corrida presidencial pretendia assumir um papel protagonista na política nacional, já que há anos estava abraçando as causas do PT (Partido dos Trabalhadores). “Render a cabeça de chapa à Marina Silva seria abrir mão do protagonismo que tanto o PSB vinha almejando nestas eleições. A Marina é considerada muito centralizadora e o PSB pode não ter muita alegria em ceder a cabeça de chapa para ela”. Para não passar a ser coadjuvante, o partido poderia indicar outro socialista, mas segundo César, não há nenhum nome com força política para concorrer com os atuais adversários Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). “A Luiza Erundina é conhecida nacionalmente, mas é da ala mais a esquerda do partido. O Beto Albuquerque teria mais trânsito no partido e era muito próximo do Eduardo Campos, mas não é conhecido nacionalmente”.
Polarização dos votos
Marina Silva sempre esteve melhor colocada nas pesquisas de intenção de votos do que Eduardo Campos, mas sua candidatura foi inviabilizada depois que sua Rede Sustentabilidade não conseguiu o registro na Justiça Eleitoral. Para não ficar de fora das eleições deste ano, filiou-se ao PSB no limite do prazo. Ao lado de Eduardo Campos, eles estavam em terceiro nas intenções de voto nas eleições de 5 de outubro. Segundo a mais recente pesquisa de intenção de voto do Ibope, divulgada no dia 7 de agosto, ele tinha 9% das intenções de voto, atrás de Dilma, com 38%, e Aécio, com 23%.
Para o especialista, não há como antecipar quem vai ganhar mais pontos e quem perderá com a eventual substituição por Marina. “Com a Marina, fica mais fácil de transferir votos de comoção, ou seja, daquelas pessoas que ficam tocadas com a morte e que passam a render seu voto como tributo ao candidato morto”. Estes votos viriam de eleitores indecisos ou daqueles que votariam em branco. “Dificilmente ela tiraria votos de Dilma. Talvez conseguisse tirar de Aécio, mas se tirar dele não muda o quadro para o segundo turno”. A candidata ainda desagrada empresários e investidores por ter suas posições percebidas como favoráveis ao mercado. “Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo o setor do agronegócio não vê com bons olhos a Marina”, complementa. Por outro lado, a ex-ministra do Meio Ambiente tem em seu currículo um capital político de 20 milhões de votos arrecadados nas eleições presidenciais de 2010.
Dez dias
Segundo a Resolução 23.405, de fevereiro deste ano, a coligação Unidos para o Brasil tem dez dias para registar a composição da nova chapa. Os candidatos a presidente e a vice devem aprovados em convenção e precisam integrar a coligação Unidos para o Brasil PSB, Rede Sustentabilidade, PPS, PPL, PRP e PHS. Em caso de morte do candidato que for de coligação, a lei eleitoral dá preferência à substituição por outro do mesmo partido, neste caso, o PSB, e orienta para que a mudança seja definida por maioria absoluta dos partidos coligados. A legislação também diz que é obrigação do partido dar ampla divulgação à troca de nomes e esclarecer o eleitorado sobre as mudanças da coligação. A propaganda eleitoral em cadeia nacional de TV e rádio começará na próxima terça-feira (19).
As regras para substituição de candidatos constam da, e também permitem a troca de candidato caso o registro da candidatura tenha sido indeferido - inclusive por ineligibilidade - cancelado ou cassado. Nesses casos, a coligação tem até 20 dias antes do pleito para indicar o nome do substituto na chapa concorrente.