Prestes a completar 85 anos, Pedro Simon não tem mais a voz vigorosa e a oratória inflamada que o caracterizaram em cinco décadas de vida pública. Mesmo assim, sua fala e olhar ainda carregam a experiência de que foi testemunha e protagonista das mais importantes passagens da história política brasileira, desde a campanha da Legalidade no Rio Grande do Sul, passando pelo golpe militar, a transição para a democracia e chegando a conquistas recentes, como a Lei da Ficha Limpa. Em uma trajetória que começou na Câmara de Vereadores de sua terra natal, Caxias do Sul, e passou pela Assembleia Legislativa, Palácio Piratini e Congresso Nacional, tornou-se uma liderança nacional e, nos últimos anos, despontou como paladino da ética. Ainda em 2014, foi atuante na articulação das campanhas de Eduardo Campos, Marina Silva e José Ivo Sartori. Chegou a concorrer a reeleição, por pressão do partido, mas ficou em terceiro lugar. Em paralelo, atuou como advogado, teve quatro filhos (um deles faleceu em um acidente de carro em 1984) e casou-se duas vezes (a primeira mulher morreu um ano após a tragédia).
Simon recebeu a Associação dos Diários do Interior (ADI-RS) nesta sexta-feira em seu apartamento na Avenida Protásio Alves, em Porto Alegre, que fica sobre uma loja que pertence à sua família. Em cerca de uma hora e meia, falou sobre passado, presente e futuro – inclusive com a perspectiva do filho Tiago, que está prestes a estrear na política como deputado estadual – e se mostrou tranquilo quanto ao fechamento de um ciclo. “Valeu a pena”, sentenciou.
ADI – Muitos lamentam que o senhor tenha enfrentado uma derrrota nas urnas na reta final de sua trajetória política. Como o senhor se sente em relação à isso?
Simon – Eu já tinha decidido que era minha hora de largar a política partidária ativa. Meu partido sabia que eu não seria candidato. Eu não tinha condições, vou fazer 85 anos em janeiro. Isso era de conhecimento geral. Na hora final, o (José Ivo) Sartori pediu para mim ficar quieto, porque queria fazer uma aliança e se eu dissesse que não era candidato ia dificultar. Aí foi feita a aliança e o Beto Albuquerque foi o candidato a senador. Com a morte do Eduardo Campos, a Marina (Silva) virou candidata a presidente, a vaga de vice ficou aberta e o PSB chegou a conclusão de que o Beto seria o nome que uniria o partido e ele foi. Aí foi uma confusão, porque ninguém queria concorrer a senador no lugar dele e acharam que devia ser eu. Mas no fundo, fui candidato sem ter sido.
ADI – Então o senhor entrou na campanha sem perspectiva de ganhar?
Simon – Não tinha a mínima possibilidade. E eu praticamente não fiz campanha. Não fui ao interior, fiquei em Porto Alegre. Minha prioridade era fortalecer a campanha da Marina e a do Sartori.
ADI – Quando o senhor ingressou na política, no fim da década de 50, imaginava que iria tão longe?
Simon – Naquela época eu fui vereador até meio forçado lá em Caxias. Mas logo que entrei começou a crise no Brasil com a renúncia de Jânio Quadros. Tivemos então o movimento do (Leonel) Brizola pela Legalidade e o movimento pela posse de João Goulart. E aí vieram as eleições e eu me elegi deputado estadual em 1962. Depois foi o golpe de 1964 e foi uma catástrofe no Rio Grande do Sul. Cassaram, prenderam, mataram, suspenderam direitos políticos. Quando eu vi, eu era um guri no primeiro mandato e estava no comando do partido. Tudo diferente do que eu imaginava. Eu tinha escritório de advocacia em Caxias e em Porto Alegre, trabalhava no Tribunal do Júri e lecionava, e imaginava que seria deputado mas que levaria uma vida normal. Mas mudou completamente. Comecei a andar pelo interior, correr atrás de um que estava na cadeia, outro que estava sendo torturado, outro que o marido estava desaparecido e a família passando fome, e assim foi.