O plenário do Senado manteve, ontem à noite, a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Em votação aberta, os senadores decidiram que o líder do governo deverá ser mantido preso por 59 votos contra 13 e 1 abstenções.
Delcídio está preso na carceragem da Polícia Federal (PF) em Brasília após decisão unânime da segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi levado para a PF ontem pela manhã, na 21ª fase da Operação Lava Jato, quando também foram presos seu chefe de gabinete Diogo Ferreira e o presidente do banco BTG Pactual, André Esteves.
A prisão foi embasada por uma gravação apresentada pelo filho do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, em que o senador oferece R$ 50 mil por mês para a família dele e mais um plano de fuga para que Cerveró deixasse o país. O objetivo de Delcídio era evitar que o ex-diretor fizesse acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
Procuradoria-Geral da República (PGR) usou depoimentos da delação premiada do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e do filho dele, Bernardo Cerveró, para pedir a prisão dos três. As prisões foram autorizadas na terça-feira pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e executadas ontem (25) pela Polícia Federal.
A procuradoria diz que Delcídio tentou dissuadir Nestor Cerveró de aceitar o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), ou que, se isso acontecesse, que evitasse delatar o senador e também André Esteves. Em um trecho do processo, a PGR afirma que Delcídio ofereceu dinheiro para evitar a citação de seu nome nas investigações. “O senador Delcídio Amaral ofereceu a Bernardo Cerveró auxílio financeiro, no importe mínimo de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais, destinado à família de Nestor Cerveró, bem como prometeu intercessão política junto ao Poder Judiciário em favor de sua liberdade, para que ele não entabulasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal”, diz a PGR.
O documento diz ainda que o banqueiro André Esteves arcaria com o custo do auxílio financeiro e que parte desse valor seria justificado como pagamento de honorários advocatícios “a serem convencionados em contrato de prestação de serviços de advocacia entre André Esteves e/ou pessoa jurídica por ele controlada com o advogado Edson Ribeiro”.
Cópia de acordo
Segundo a procuradoria, André Esteves tinha uma cópia de minuta de anexo do acordo de colaboração premiada assinado por Nestor Cerveró, “confirmando e ilustrando a existência de canal de vazamento na Operação Lava Jato que municia pessoas em posição de poder com informações do complexo investigatório” diz o texto. As investigações também citam encontros entre o filho de Cerveró, Bernardo Cerveró, o senador Delcídio Amaral, o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira, e o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, em um hotel em Brasília.
Plano de fuga
Em outro trecho, o senador discutia o suposto plano de fuga de Cerveró. "Hoje eu falo, por que eu acho que o foco, o seguinte, tirar, agora a hora que ele sair tem que ir embora mesmo".
Segundo documentos da PGR, foram realizados vários encontros entre o filho de Cerveró, Delcídio, Ferreira e Ribeiro. Em um deles, realizado em um hotel em Brasília no dia 4 de novembro, na qual teria sido discutida a possibilidade de uso de habeas corpus para que Nestor Cerveró fosse colocado em liberdade. Nesse mesmo encontro, os participantes teriam tratado também da possibilidade de fuga de Cerveró para o Paraguai.