Senador Paulo Paim está decidindo se permanece no PT

Em entrevista concedida através da Associação dos Diários do Interior (ADI), o senador Paulo Paim fala de sua possível saída do Partido dos Trabalhadores (PT) e afirma que continua sendo candidato ao Senado

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ADI – O senhor está decidido a deixar o PT?
Paim - Eu comecei a tomar essa decisão no fim do ano passado, a partir do momento em que ganhamos as eleições e o governo que eu elegi começou a mudar o discurso. Isso é fato e é real, queiramos ou não, tanto que encaminharam de imediato duas medidas provisórias que vão na contramão da nossa própria história, mexendo em direito de trabalhador, de aposentado, de pensionista, de pescador. Fiquei muito chateado. Então fui conversar com o governo, disse que as propostas eram inadmissíveis e que não levariam a nada, e eles começaram a levantar a situação de crise que o País estaria. Eu disse: “Sim, mas nas eleições vocês não disseram isso. Nas eleições vocês disseram que estava tudo bem, muito obrigado, e a gente podia ir para a rua defende-los e assim nós o fizemos”. Eu sou coerente, disse que não podiam contar com nosso apoio e, de fato, alteramos bastante coisa, mas não tudo o que queríamos. De lá para cá, a política econômica do governo continuou nessa linha, que eu não chamo de ajuste fiscal e sim de arrocho social. Inúmeros projetos que trabalhamos durante toda uma vida para aprovar, a presidente vetou, como a desaposentadoria, o fator previdenciário, o reajuste para aposentados. Isso tudo aumentou o nosso desconforto e o nosso constrangimento e eu falei: se for para o bem das causas que eu defendi e sempre vou defender, independente de quem seja o governo, eu saio.

ADI – Então é uma decisão tomada?
Paim – Eu tenho uma decisão a tomar e tenho dialogado com muito com a Rede, o PDT, o PTB, o PV, o PSB. Tem também o PT de raiz, que quer a retomada do partido e não quer que eu saia. Eu dei para mim mesmo o prazo até o Natal para tomar a decisão final. Antes, eu vou conversar ainda com o PT do Rio Grande do Sul.

ADI – Em que momento o governo e o PT se perderam, na sua avaliação?
Paim – O erro principal começa a partir da reeleição da presidente Dilma. Nos primeiros oito anos, o Lula estava em sintonia com a sociedade, os movimentos sociais, o mercado e, inclusive, com uma grande projeção em nível internacional. A partir do momento em que nós tentamos mostrar ao Brasil e ao mundo que estava tudo bem e não estava, ali começou o erro. Quando se começou a perceber que a situação não estava boa, que a crise mundial estava chegando aqui e que tínhamos cometido alguns erros, nós devíamos ter falado a verdade, mesmo no processo eleitoral. Quando se faltou com essa verdade, começou a degringolar. E, claro, quando alguns companheiros nossos erraram no campo da ética e da moral, isso também contribuiu para o descrédito do governo.

ADI – O PT de hoje não é o mesmo de quando o senhor começou a militar?
Paim – Infelizmente não. O PT dos nossos sonhos, que embalou a nossa juventude e militância, era aquele PT que veio para fazer a diferença. E nós estávamos fazendo a diferença mas nos perdemos no caminho. Nos perdemos na condução de um projeto que era referência para o mundo e entramos na vala comum de fazer política como todos os outros partidos fazem. Fomos levados pela correnteza e aí deu no que deu. Mas se voltarmos na história, erramos também lá atrás. Quando o Lula chegou ao governo, o movimento social, que sempre cobrava e fiscalizava, soltou as bandeiras, pensando que agora estava tudo bem porque estavam representando. E não é assim, a história mostra que a população tem que ficar em vigilância permanente.

ADI – O movimento sindical ainda se sente representado pelo PT ou esse elo se perdeu?
Paim – Eu diria que o movimento sindical não se sente representado no governo, tanto que pediram que eu votasse contra a todas essas MPs que eu citei. O movimento sindical está afastado do governo, inclusive é o primeiro a dizer que não quer essa política econômica defendida pelo (ministro da Fazenda Joaquim) Levy.

ADI – O senhor disse que houve erros do governo na economia e que a crise não foi reconhecida, mas ao mesmo tempo diverge da política adotada neste segundo mandato. Como resolver essa crise senão por esse caminho?
Paim – Uma crise dessa envergadura não se resolve tirando dinheiro de pescador, da viúva ou do seguro-desemprego. Uma crise dessa dimensão é para a macroeconomia, é para política arrojadas, e não para tirar dinheiro do porão, do andar debaixo. Eu disse em dezembro pro governo que isso não ia resolver nada. E não resolveu nada. Por que não enfrentaram o debate para tributar as grandes fortunas, o debate da taxa de juros, por que não combateram a sonegação? Essa política do Levy é suicida. Além do País estar um caos, a presidência está sob impeachment.

ADI – E como o senhor vê a possibilidade de impeachment?
Paim - Foi uma chantagem feita pelo presidente da Câmara para salvar a cabeça dele. Nenhum governo que se preze vai submeter o País a uma chantagem de um homem. O impeachment é um instrumento da democracia, mas não dos moldes que foi feito. Nos moldes da chantagem, é uma violência ao processo democrático.

ADI – O senhor conhece muito bem o Congresso Nacional. Acredita que o impeachment possa prosperar?
Paim ­– Quando foi levantada a hipótese de impeachment do presidente Collor, havia quem achasse que tudo era uma bobagem e não ia dar em nada. E acabou dando. Eu vi gente que jantou com o Collor, jurou fidelidade até embaixo d’água, e naquela noite votou pelo impeachment. Em qualquer parte do mundo, impeachment acaba sendo um ato mais político do que técnico. Se a população abraçar essa proposta, pode dar samba. Isso aconteceu com o Collor. Acho que hoje a situação é diferente. Se fosse hoje, não haveria possibilidade alguma de passar, nem Câmara nem Senado. Mas o tempo é o tempo, o futuro a Deus pertence.

ADI – A presidente Dilma hoje tem uma taxa de aprovação muito abaixo, menos de 10%. O ciclo do PT está chegando ao fim, vai terminar em 2018?
Paim – Não dá para negar que o PT está um momento muito difícil. O PT vai ter muita dificuldade em 2016 e em 2018.

ADI – Mesmo se o candidato for o ex-presidente Lula?
Paim – Diria que, se o candidato for o Lula, a dificuldade será menor, mas terá dificuldade também. No passado, nós dizíamos: que venha a onda vermelha. Essa turbulência toda criou uma onda anti-PT, nós sentimos isso. É uma onda contra o governo, mas como o governo está em um momento difícil, leva junto o PT. Nós temos que ter essa clareza, que o PT passará por um ciclo de muitas dificuldades.

ADI – Para sair dessa situação, o PT precisará romper com o PMDB?
Paim – Acho que é o PMDB que vai romper com o PT. Há quem diga que o PMDB desembarca do governo já em 2016. Por tudo que eu vejo e percebo, o PMDB não estará com o PT em 2018.

ADI – O senhor foi um dos únicos que votou, na semana passada, pela manutenção da prisão do senador Delcídio do Amaral. Como foi tomar essa decisão?
Paim – O Delcídio era meu amigo. Antes de ser líder do governo, ele era do time dos rebeldes também. Mas aí recebemos aquelas gravações e aquele dossiê, que mostram uma operação, eu diria, das mais encrencadas do mundo, e não havia um parlamentar que não dizia que era gravíssimo o que constava ali. Tanto que a direção nacional do PT soltou uma nota dizendo que não tinha nada a ver com aquilo. Eu e o Walter Pinheiro, depois de analisar tudo, decidimos que não tinha como votar diferente. Nós não tínhamos direito de criar obstáculo para a Justiça investigar fundo o que aconteceu. Claro que doeu, foi como admitir que um filho cometeu um erro e terá que responder por ele, mas tivemos que decidir.

ADI – Como o PT pode se reerguer?
Paim – Como eu digo sempre, só se retornar às suas raízes e, da forma mais original possível, começar a encantar a juventude. E também levar como eixo também a questão do combate a todo desvio de conduta. Se não tiver esse retorno ao passado, assumindo os erros e começando de novo, não chega a lugar nenhum.

ADI – Assim como o Executivo, o Congresso também está muito desacreditado. As pessoas têm razão em não esperar nada do Congresso?
Paim – O pior de tudo é dizer que as pessoas têm razão. Se você analisar as pautas que surgiram no Congresso nos últimos dois anos, são só pautas negativas. A Câmara aprovou um projeto que permite a terceirização da atividade-fim. Eu não gostaria de fazer parte de um Congresso que rasgou a CLT. Outro projeto coloca o negociado acima do legislado, ou seja, cria um estado de anarquia. Tem projeto lá que reduz o horário de almoço do trabalhador de uma hora para 15 minutos, outro quer revogar as normas de segurança e higiene do trabalho. Além de outros tantos, como a redução da maioridade penal. E o problema também é a forma de fazer política. Política não é algo para se dar bem, é para se dar para alguém. Mas isso vem da alma, vem dos olhos, vem da... (emociona-se). Isso vem de dentro da gente. Infelizmente, muitas pessoas entenderam o contrário. O povo só quer que a gente faça a coisa certa. E é tão fácil fazer a coisa certa. É só trabalhar e ser honesto.

ADI – Fala-se muito em reforma política, mas todas as tentativas foram frustradas. O que é mais importante mudar, na sua opinião?
Paim – Não pode ter financiamento privado de campanha. Esse é o número um para mim. Tu acha que quando alguém dá R$ 20 milhões para alguém, é por que virou bonzinho? A conta vai vir depois. Tem leis que são aprovadas para favorecer um único setor. Em segundo lugar, se quisermos uma mudança profunda, precisamos acabar com o voto obrigatório. É preciso conquistar o eleitor. E por que não pode ter candidatura avulsa também? Essa liberdade, que existe em muitos países, deveria acontecer aqui também. E acho ainda que precisamos de um instrumento que é do Parlamentarismo. Acho que quando o país chega a uma situação como essa de agora, deveríamos chamar eleições gerais novas, inclusive do Congresso.

ADI – Então o senhor acha que hoje, considerando essa crise, o ideal seria convocar novas eleições?
Paim – Considerando a crise, seria um ato de grandeza, faríamos um bom debate de recuperação nacional. Tenho certeza que, se tivéssemos esse instrumento, o povo chamaria eleições gerais.

ADI – Voltando ao início da conversa. O PT não é o único partido que tem problemas e está desgastado. Adianta trocar de partido?
Paim – A minha filha, que sempre me acompanha, me escreveu o seguinte no WhatsApp. “Pai, parabéns. Os grandes homens da história da humanidade sempre são chamados a tomar grandes decisões. Coragem, abra os braços, fique com as causas e voe”. O que eu traduzi disso é o seguinte. Quando você arranca o melhor de si para fazer o melhor pelas pessoas, você tem que acreditar que é possível mudar. E aí é preciso buscar o melhor cenário. Hoje eu não estou conseguindo ver, nessa realidade em que nos encontramos, que é possível recuperar e construir tudo de novo. Se puder ajudar a construir novos tempos em outro partido, não posso me omitir dessa responsabilidade. Somente ficar onde está e achar que não dá para mudar, aí seria uma decepção comigo mesmo.

ADI – O senhor, então, acredita hoje no mesmo que acreditava nos tempos de sindicalista, ou seja, é o mesmo homem de esquerda que era?
Paim – Meus ideais são os mesmos. Uma fotógrafa que está fazendo um trabalho no Congresso me chamou na semana passada e me perguntou como eu gostaria de ser fotografado. Eu disse que, se pudesse, gostaria de ser fotografado de macacão, capacete e cutina dentro do Congresso. Ela perguntou por quê, eu disse: “Porque não quero esquecer nunca as minhas raízes, da onde eu vim...(emociona-se), porque eu estou aqui e desse compromisso que eu tenho”.

ADI – O que o senhor ainda tem em termos de pretensões pessoais e políticas?
Paim – Pessoalmente, me sinto realizado. Mas tudo que eu sentir que posso contribuir para o meu País, quero estar junto. As pessoas me veem viajando pelo País todo e acham que eu sonho em ter um cargo executivo maior, mas eu nunca tive isso, nunca tive pensamento de carreira. Eu sou candidato ao Senado.

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