Opiniões sobre Operação Lava Jato

Especialistas e lideranças comentam sobre nova fase da operação que teve como principal foco o ex-presidente Lula

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Beto diz que Brasil vive momento terrível

Presidente estadual do PSB, Beto Albuquerque, que esteve em Passo Fundo ontem, disse que a lei tem que ser cumprida por todos. “Este é um elemento importante para a democracia”. Afirmou que o PSB não condena nem absolve ninguém de maneira antecipada, e que o cumprimento do mandato de condução coercitiva contra o ex-presidente Lula, ocorreu com autorização da Justiça. “Espero que as dúvidas se esclareçam com estas investigações. Lula foi ouvido na condição de depoente, não é reu. Mas não está acima da lei. Não há nenhuma arbitrariedade nisso. O Brasil está vivendo um momento terrível, por outros fatos. É  uma desmoralização o fato de a  Câmara dos Deputados estar sendo conduzida por um réu. Também não podemos ficar somente na pauta policial.  Precisamos retomar o crescimento, a geração de empregos” definiu.

Neri diz que condução coercitiva de Lula foi sequestro

O presidente do diretório municipal do PT, em Passo Fundo, Neri Gomes, definiu como 'sequestro', o mandado de condução coercitivo cumprindo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã de ontem. Para ele, o recurso deve ser aplicado quando o suspeito recebe duas ou três intimações e se nega a depor.  “Foi totalmente ilegal. Não havia recusa em comparecer” define. Gomes disse ainda que o cenário atual no país é uma luta de classes e que a oposição não aceita as mudanças que estão em curso no país. “No aniversário do PT, semana passada, o partido bateu forte nas organizações Globo, questionando sobre o tríplex da família Marinho, em nome de uma empresa fantasma. Sabemos que a Globo está a serviço dos partidos da direita” argumenta. Gomes disse não ser contra o combate à corrupção, mas ressaltou que a lei deve valer para todos. “Aécio Neves já teve três delações. Não acontece nada com o PSDB” questiona. O presidente local afirmou que o Brasil começa a viver um 'golpe de estado', um período de exceção'. “A Argentina já está neste caminho como o novo presidente eleito. Não vamos deixar que isto aconteça no Brasil. Nossa militância vai para as ruas” declarou.  O partido pretende realizar às 14h, de hoje, na Câmara de Vereadores, um ato em defesa da democracia, envolvendo lideranças regionais

Sindicalista acusa tentativa de golpe

“O que estão fazendo com o maior líder político de nosso país é uma tentativa clara de golpe da direita e dos principais veículos de comunicação”. A afirmação é do coordenador regional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Alcidir Antonino de Andrade. Para ele, a corrupção precisa combatida “principalmente destas empresas de comunicação”, afirmou.  Na próxima terça-feira (8), às 14h, a CUT-RS realiza uma plenária de mobilização em defesa da democracia, da Constituição e contra o golpe, no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre. O objetivo é analisar a conjuntura e definir atividades de luta.

Mattos diz que é importante preservar a democracia

O presidente da Acisa, Marco Mattos, vê a operação Lava Jato como algo muito importante e saudável e defende que qualquer cidadão brasileiro pode ser investigado desde que haja indícios de ilicitude. O que se deve buscar nesse momento, de acordo com ele, é a preservação do estado de direito democrático, para que as investigações não sejam atropeladas em busca de um denuncismo e que por isso é preciso ter cautela e atenção, já que ninguém está acima da lei para não ser investigado. “Toda e qualquer investigação é sempre bem-vinda, principalmente porque nós precisamos a retomada da confiança. E a confiança se readquire a partir do momento em que não se tem restrição para demonstrar tudo aquilo que os nossos dirigentes têm de responsabilidade em abrir as suas contas e os seus atos em nome da transparência que seus cargos requerem”, ressaltou o presidente.

Juliano Roso diz que é preciso reforçar a vigilia

Em nota, o deputado Juliano Roso salientou ser um defensor intransigente da democracia. “Desde a época da Ditadura Militar, foi o PCdoB que sempre lutou pelas liberdades democráticas. Construímos uma nação livre para opiniões e ideologias com o suor, e até mesmo o sangue, de todos os brasileiros”, disse. Juliano acrescentou ainda que, apesar de ser intolerante com qualquer ilicitude, não se pode transferir o futuro do país para as mãos de uma pequena parcela da elite que faz da política um espetáculo e que nesse momento não se pode esquecer que o direito de defesa é fundamental na sociedade. “Queremos deixar claro nosso apreço aos valores das instituições democraticamente construídos, mas frisar que essas mesmas instituições não podem se deixar seduzir por paixões ideológicas e partidárias”, destacou.

O deputado frisou também que é preciso reforçar a vigília para que não ocorra perseguição política ou qualquer outro artifício golpista para minar um mandato eleito democraticamente nas urnas. “Os fatos de hoje, que ainda precisam ser esclarecidos dentro dos mais transparentes ritos legais, não podem parar o Brasil. Por isso, devemos estar atentos para que essa euforia míope não coloque em xeque todo um processo democrático construído com muita luta pelos brasileiros”, finalizou. 

Para historiador, democracia dá sinais de vitalidade

O historiador e cientista político Antônio Kurtz Amantino acredita que o Brasil vive um momento ímpar no cenário político. “Nós nunca passamos por um processo de corrupção da dimensão que estamos vendo agora. É de se lamentar que lideranças políticas tenham se envolvido em um esquema tão grande de desvio de dinheiro público. Mas, ao mesmo tempo, é salutar porque indica que a democracia dá sinais de vitalidade. Tenho grande esperança que isso sirva de lição aos brasileiros”, afirma.

De acordo com Amantino, as causas da crise política e financeira no país estão relacionadas à forma como a economia é gerida pelo atual governo. “Ao que tudo indica, o PT criou um sistema bem estruturado de carrear dinheiro das estatais para benefícios pessoais e do partido”. Para ele, essa situação fomenta a corrupção. “Empresa estatal só serve pra desvios de recurso público. Se a Petrobras não fosse uma estatal, não tinha ocorrido isso [o esquema de corrupção denunciado na Lava Jato]. Se ela fosse uma empresa privada, nós estávamos pagando R$ 2 pelo litro da gasolina”, projeta. “Quem produz riqueza numa sociedade é o cidadão, e não o estado. Por isso, quanto menor o estado, melhor.”

Sociólogo vê acirramento na disputa

Para o sociólogo e professor universitário Vinicius Rauber, a 24ª fase da Lava Jato “faz parte do jogo político”. “É uma manobra política. Porque não se trata simplesmente de um depoimento do Lula ou de uma investigação puramente técnica na casa dele. Foi um instrumento político de maneira a construir a deslegitimarão do atual governo, projetando as próximas eleições. Existem interesses políticos por trás.”

De acordo com Rauber, a investigação de Lula pode “transformar a política brasileira” porque pode influenciar na possível candidatura de Lula em 2018 e no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O cientista político projeta também um acirramento entre apoiadores e opositores do governo. “Vamos ver um clima ainda mais tenso e de polarização nas redes sociais, que vai motivar mais gente a ir às ruas. De um lado, um pessoal ainda mais motivado para protestar. Do outro, as pessoas ligadas ao governo também vão se manifestar”, afirma.

OAB diz que procedimentos da PF está correto

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, defendeu a nova fase da Operação Lava Jato. Para ele, não há "problema algum" na condução coercitiva do petista para depor. "Nós vivemos num Estado Democrático de Direito e as nossas normas devem ser cumpridas por qualquer pessoa. Nenhum cidadão brasileiro deve estar isento de responder pelos seus atos se cometeu algum ato ilícito", disse.

Lamachia deu as declarações ao chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde protocolou um pedido para ter acesso à delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Ex-líder do governo, Delcídio fez acordo com Procuradoria-Geral da República. A delação do petista ainda tem de ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e é mantida em segredo de Justiça.

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