“Quero dizer a todos vocês que foi aberto pelo Senado Federal o processo de impeachment que determina a suspensão do exercício do meu mandato pelo prazo máximo de 180 dias”. A fala é de Dilma Rousseff, no seu primeiro pronunciamento público após decisão do Senado, transmitido ao vivo na tarde de ontem (12) para todo país. Entre vaias e aplausos, a presidente se despediu do Palácio do Planalto acompanhada da dualidade que permeia o atual cenário político. Cercada de dezenas de ex-ministros, parlamentares e servidores, admitiu que pode ter havido erros, mas jamais cometeu crimes. “Não cometi crime de responsabilidade. Não tenho contas no exterior, jamais compactuei com a corrupção. Este processo é frágil, juridicamente inconsistente, injusto, desencadeado contra pessoa honesta e inocente. A maior das brutalidade que pode ser cometida por qualquer ser humano: puni-lo por um crime que não cometeu”, declarou.
Próximo dali, no Palácio Jaburu, o senador Vicentino Alves (PMDB-TO) anunciava oficialmente a posse do vice-presidente Michel Temer como presidente interino da República para, pelo menos, os próximos 180 dias. Assim como fez com Dilma, notificando-a do seu afastamento, Alves passou para Temer o título que dá poder de nomear sua própria equipe de governo e gerenciar todo o Orçamento da União. Desde o seu início, portanto, o dia de ontem (12) foi marcado como uma data histórica: pela primeira vez no país uma presidente eleita era afastada de seu governo. Caso semelhante aconteceu apenas uma outra vez, em 1992, com o então presidente Fernando Collor de Melo. A diferença é que, antes da votação do Senado, Collor renunciou ao cargo, que passou a ser ocupado pelo seu sucessor direto, Itamar Franco.
O pronunciamento de Dilma
Servidores e imprensa se reuniram no Salão Leste do Palácio do Planalto, ainda pela parte da manhã, para seu primeiro discurso. Em seu pronunciamento, Dilma salientou que o que está em jogo não é apenas seu mandato, mas o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição. “São conquistas dos últimos 13 anos. O que está em jogo é a proteção às crianças, jovens chegando nas universidades e escolas técnicas. O que está em jogo é o futuro do país, esperança de avançar cada vez mais. Quero mais uma vez esclarecer fatos e denunciar riscos de um impeachment fraudulento. Um verdadeiro golpe”, declarou. A presidente afirmou que, desde a sua reeleição, parte da oposição pediu recontagem de votos, tentou anular as eleições e passou a conspirar, posteriormente, pelo impeachment. “Mergulharam o país num estado de instabilidade e impediram recuperação da economia, com o único objetivo de tomar à força o que não conquistaram nas urnas”, disse.
Dilma voltou a dizer que seus antecessores também usaram o artifício da pedalada fiscal como medida para ajustar contas de governo. Segundo ela, os atos praticados foram legais e corretos. “Tratam como crime um ato corriqueiro de gestão, me acusam de atraso no pagamento do Plano Safra. É falso. A lei não exige minha participação na execução deste plano. Meus acusadores sequer conseguem dizer que ato eu teria praticado. Nada restou para ser pago, nem dívida há”, defendeu. A presidente enfatizou seu orgulho em ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil e afirmou que continuará usando instrumentos legais para continuar exercendo seu mandato. “Nesses anos exerci meu mandato de forma digna e honesta, honrei os votos que recebi. Em nome desses votos e em nome de todo o povo do meu país, vou lutar até o fim, até o dia 31 de dezembro de 2018”, afirmou.
Em momento de emoção, Dilma lembrou da tortura nos tempos de ditadura e do câncer enfrentado antes do início da campanha em que disputou o primeiro mandato. “Eu já sofri a dor indizível da tortura, a dor aflitiva da doença. E agora eu sofro mais uma vez a dor inominável da injustiça. O que mais dói neste momento é a injustiça. É perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política. Mas não esmoreço”, finalizou.