Recuperação da economia será grande desafio de Temer, dizem analistas

Com tantas pressões de diferentes lados, analistas acham que o líder peemedebista não conseguirá promover reformas significativas e reativar a economia

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A situação que o presidente interino, Michel Temer (PMDB), terá que enfrentar nos próximos dias não é favorável. O Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços produzidos no país) encolheu 3,8% em 2015, a pior queda em 25 anos. A expectativa para 2016 é de que a retração se mantenha em torno de 3,8%. A inflação mais que dobrou em relação a 2007 e com isso a taxa básica de juros ultrapassou os 14%. O desemprego passou dos dois dígitos: 10,2% dos trabalhadores estão fora do mercado, o que representa 10,4 milhões de brasileiros.
Com o aprofundamento da recessão, milhões de brasileiros que ingressaram na chamada “nova classe média” durante a boa fase da economia estão retornando para a pobreza. Estudo da consultoria Tendências, com sede em São Paulo, prevê que 3,1 milhões de famílias, cerca de 10 milhões de pessoas, voltarão a integrar o grupo menos favorecido da população. A mobilidade social vista em sete anos (de 2006 a 2012) pode ser apagada em três (2015 a 2017), diz o estudo.
Um esforço muito grande terá que ser feito para reconquistar a confiança dos investidores e colocar a economia de volta nos trilhos. O fundador da consultoria para mercados emergentes EM+BRACE, Robert Abad, com sede na Califórnia, acha que o novo governo terá que começar tudo de novo e provar ao mercado que as políticas econômicas propostas são sólidas, o que levará tempo. Com a crise, o Brasil foi rebaixado pelas três principais agências internacionais (Standard and Poor's, Moody's e Fitch) e perdeu o título de bom pagador, o que afastou os investimentos estrangeiros.
A plataforma econômica apresentada pelo vice-presidente Michel Temer em outubro foi bem recebida pelos mercados financeiros, mas recebeu críticas de sindicalistas. Na Ponte para o Futuro estão previstas reformas, como a previdenciária e trabalhista, e mudanças na Constituição para permitir um corte profundo nos gastos do governo. O documento prevê ainda maior abertura ao capital estrangeiro. O objetivo é criar condições para que o Brasil alcance um desenvolvimento sustentado de 3,5% a 4% ao ano na próxima década, meta desafiadora para uma economia que deve sofrer contração de 3,8% este ano.
Muitos analistas, entretanto, estão cautelosos. “Vai haver uma boa vontade inicial, uma fase de lua de mel. Mas do ponto de vista das ruas, Temer não representa grande mudança. Não sabemos se as manifestações vão parar”, diz o cientista político Anthony Pereira, diretor do King's Brazil Institute, em Londres.
Com tantas pressões de diferentes lados, analistas acham que o líder peemedebista não conseguirá promover reformas significativas e reativar a economia. “Vejo uma recuperação lenta, pois os pilares do crescimento estão ruindo na nossa frente. A previdência social é insustentável, a dívida pública não para de crescer e há uma paralisia no setor produtivo”, afirma o economista Marcos Casarin, da Oxford Economics.
Para o ex-diretor do Banco Mundial e professor adjunto da Fundação Dom Cabral, Carlos Primo Braga, o Brasil tem muitas vantagens competitivas e não mergulhará numa depressão. “Eu não tenho dúvida de que, aos nos livrarmos da incerteza, aos poucos retomaremos o ritmo de crescimento. Esta não será uma década perdida”, afirma.
O britânico, filho de mãe brasileira, Daniel Hamilton, diretor sênior na consultoria global de negócios FTI Consulting, é mais pessimista. Ele acha que o Brasil nunca será capaz de promover as reformas necessárias ao desenvolvimento enquanto não tiver um número menor de partidos. “Há quase 40 partidos no Brasil. Pelo menos nove deles estavam representados no governo do PT, pedindo favores políticos e concessões aqui e ali. Não importa quem está no poder, pois as políticas resultarão na mesma coisa”, diz. A reforma política, entretanto, está em discussão no Congresso há mais de 20 anos.

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