O ato de retirada do poder da agora ex-presidente, Dilma Rousseff, divide opiniões desde as ruas até os parlamentos. De um lado, aliados escancaram as perdas de direitos trabalhistas propostos pelo governo Temer. Do outro, contrários a permanência de Dilma no poder comemoram a 'retomada da economia' e 'estabilidade política'. Do ponto de vista econômico, o especialista e professor do Instituto Meridional (IMED), Adriano José da Silva, defende que a população em geral não deve ter euforia no mercado, já que o impeachment já foi precificado. Os passos a seguir, segundo ele, devem levar em conta as ações do governo Temer, uma vez que não se pode culpar seu governo interino para propôr medidas necessárias para a retomada da economia brasileira. “Certamente o governo irá cozinhar assuntos polêmicos em setembro e somente anunciar medidas positivas de impacto na confiança do mercado, visando passar as eleições municipais”, aponta. A retomada da economia, ele acresce, deve ser definida no mês de outubro, com base no envio de medidas ao Congresso Nacional – como a reforma da previdência. “Propostas claras que permitam aos agentes acreditarem de fato no ajuste fiscal. Se isso acontecer, o ambiente de negócios no Brasil melhora e pode-se acreditar na retomada do crescimento econômico em 2017”, afirma.
O economista destaca que deve-se observar se o governo Temer conseguirá manter o apoio que obteve até o momento no Congresso Nacional e, principalmente, como fará para questionar seu próprio partido – que tem figuras como Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha. “Se ele dobrar seu partido e conseguir aprovar as medidas fiscais que evitem o crescimento da trajetória da dívida brasileira, certamente ganharemos 2017 em 2018. Minha dúvida reside não na nova oposição, mas no comportamento do PMDB”, pontua.
Representando o partido, o deputado estadual, Vilmar Zanchin (PMDB), diz que o Brasil entra em um novo momento. “O que todo brasileiro espera é a estabilidade da área política, já que viemos de um período muito confuso, de instabilidade. Uma consequência do governo Temer será a retomada do crescimento da economia. Estes dois fatores são o binômio que o Brasil necessita”, frisa. Em suas palavras, o deputado diz que, ao contrário do que ocorria, o novo governo traz um clima de tranquilidade política. “Economia estagnada, recessão e instabilidade. Tudo isso parava o país, já que não se aprovava nenhuma medida pelo fato do governo não ter nenhum alcance no Congresso. Esperamos que tudo se tranquilize com ajuda de Michel Temer”, termina.
Do outro lado
No sentido oposto, o deputado estadual Juliano Roso (PCdoB) segue em desacordo com o impeachment. “O mais estranho é que o mesmo Senado que cassa seu mandato, também permite que possa concorrer na próxima eleição. Essa é a prova que ela não cometeu crime de responsabilidade”. Pela frente, Roso diz ver dificuldade principalmente para a massa trabalhadora e aposentados. “Ao que tudo indica primeiro veremos o aumento do tempo de aposentadoria dos trabalhadores. Veremos uma redução brutal nas aposentadorias, milhões de aposentados passarão para a condição de desapontados”, começa. Em seguida, ele cita a desvinculação do aumento do salário mínimo com o dos aposentados, além da retirada significativa de direitos trabalhistas. “Estas são as principais bandeiras deste grupo que se apropria do poder e, com isso, retira o dinheiro da saúde, da educação e dos serviços públicos”, finaliza.
O senador gaúcho, Paulo Paim (PT), diz que, a partir do recesso que antecede as eleições municipais, o novo governo deve adotar medidas drásticas – como o desmantelamento do SUS e demais mudanças no setor previdenciário. “A partir disso deve se intensificar o embate. No ano que vem começam as manifestações para as eleições diretas. Até lá a crise política, econômica e social, infelizmente, continuará, até que consigamos fazer uma reforma política, eleitoral e partidária e elejamos o novo mandatário de baixo para cima, com apoio da população”, afirma. O papel dos senadores, após a votação que tirou Dilma definitivamente do poder, é pressionar os congressistas para que não aceitem as propostas encaminhadas pelo governo e que, como afirmou o petista, fere os direitos do povo. “Se for necessário uma greve geral, sei que o movimento sindical saberá dar a voz de comando no momento adequado”, pontua.