Mobilidade em foco

A última reportagem da série que pede as propostas dos candidatos sobre questões pontuais de Passo Fundo trata do trânsito em Passo Fundo. Mesmo sendo uma cidade de porte médio, o município enfrenta problemas graves de mobilidade.

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Passo Fundo mantém atualmente uma frota superior a 119,2 mil veículos de diferentes categorias, conforme dados do Detran-RS. Desde 2013, até julho deste ano, o crescimento da frota no município é de quase 11 mil veículos. Somado a isso, diariamente uma quantidade difícil de ser mensurada é incorporada a esse número por pessoas que vêm até o município em busca de serviços em diversas áreas, especialmente saúde e educação. O trânsito por si só já causa diversos problemas de mobilidade urbana, mas, aliado a isso, existe uma série de outras situações que dificultam o cumprimento do direito de ir e vir de todos os cidadãos.

 

A mobilidade urbana não inclui somente o transporte por veículos automotores, mas sim, todas as formas de deslocamento, conforme explica o professor da UPF e coordenador do projeto UniverCidade Educadora Marcio Taschetto. Esses diferentes modais incluem pedestres, bicicletas, carros, motos, veículos leves sobre trilhos, ônibus, metrô, entre outros. “Reconhecida como um direito fundamental, a mobilidade é de extrema importância na promoção cidadã da utilização dos espaços”, pontua o professor.

 

Segundo ele, em Passo Fundo, apesar de ser uma cidade de porte médio, são enfrentados problemas graves de mobilidade. “O uso do carro individual e a concentração do trânsito na região central, somada as poucas possibilidades de uso de outros modais para a locomoção dos seus concidadãos, acaba por trazer inúmeras dificuldades. O fato de ser uma cidade polo e de referência em serviços como educação e saúde, promove uma densificação dos espaços que necessitam de uma gestão da circulação cada vez mais condizente com o crescimento e importância da cidade. Desta forma, a mobilidade passa ser uma questão central para a garantia do acesso aos serviços (se considerarmos os bairros), uso dos equipamentos públicos de lazer e convivência (como praças, parques), ou até mesmo para o uso cotidiano (trabalho, escola)”, justifica.

 

Os problemas enfrentados na cidade atingem a todos os cidadão, especialmente aqueles que têm alguma deficiência. Conforme o presidente da Associação Passo-Fundense de Cegos (Apace), Fábio Flores, a mobilidade urbana em Passo Fundo apresentou avanços, mas ainda oferece muitas dificuldades. Para quem é cego ou tem baixa visão os problemas enfrentados estão por toda a parte, desde a falta de padronização nas calçadas, calçadas esburacadas, colocação de placas ou propagandas em lugares indevidos e falta de sinaleiras sonoras, estão entre eles. “A sinaleira dá  autonomia para fazer a travessia, com maior segurança e qualidade e não temos isso em Passo Fundo”, justifica. Da mesma forma os ônibus do transporte público não possuem sistemas de identificação para pessoas cegas ou com baixa visão. Outro problema é a falta de representatividade de pessoas com deficiência nas decisões sobre as melhorias necessárias no município. “Tratam sobre nós, sem nós”, resume. Flores destaca que a acessibilidade precisa ser universal para que as pessoas cegas ou com outra limitação possam ter o seu direito de ir e vir respeitado.

 

E aí, candidato?

Com base neste cenário, qual é a sua proposta para melhorar a mobilidade urbana no município?

 

Antônio Rodrigues (PSTU)

“O município estimula o caos do trânsito quando deixa de investir no transporte coletivo urbano. O PSTU não faz distinção entre os problemas do trânsito excessivo de veículos leves e o serviço de péssima qualidade do transporte público. O sucateamento e o aparelhamento de cargos de confiança da Codepas é inaceitável, é preciso dar um basta nessa situação. Por isso, defendemos que a Codepas seja 100% pública e controlada pelos trabalhadores e usuários através dos conselhos populares. Enquanto os governos tratarem do transporte coletivo como mercadoria, o lucros das empresas privadas estará à frente da prestação de um serviço público essencial para milhares de pessoas. Mas é preciso ir além, municipalizar todo o transporte coletivo e praticar a tarifa zero. A falta de planejamento do trânsito se expressa também no caos da região central, a implantação de terminais circulares do transporte coletivo, com o aproveitamento da área do Parque da Gare como um terminal central pode amenizar a situação da Avenida Brasil e, enquanto isso não for feito, criar corredores exclusivos para os ônibus na região central é urgente para aliviar a situação atual”.

 

Celso Dalberto (PSOL)

“Passo Fundo sofre com a falta de planejamento urbano. O planejamento atual é marcado por obras eternamente inacabadas e que privilegiam a lógica dos grandes empreendimentos imobiliários, shoppings, à revelia das pessoas, da garantia dos espaços públicos e do respeito ao meio ambiente. Além disso, as parcas contrapartidas dos grandes empreendimentos (que deveriam minimizar o impacto das construções nas regiões) não são fiscalizadas e, muitas vezes, sequer executadas. Para isso apresentamos as seguintes propostas: 1) buscar apoio na inteligência da cidade, entre arquitetos, engenheiros e urbanistas, para dar assistência técnica à moradia popular, incentivando a participação das comunidades para desenvolver um planejamento de médio e longo prazo, baseado na sustentabilidade e nos direitos da cidadania; 2) valorizar, ampliar e qualificar os espaços públicos como lugar do encontro e de convivência social, com garantia de acessibilidade universal às pessoas portadoras de deficiência; e 3) promover uma política pública de mobilidade urbana multimodal e solidária por meio da implantação de uma rede eficiente de ciclovias, da qualificação dos percursos de pedestres e da prioridade ao transporte coletivo, com vistas a reduzir os congestionamentos e diminuir o peso do transporte individual no cotidiano da cidade”.

 

Luciano Azevedo (PSB)

“Pretendemos seguir trabalhando com técnica, na busca de um trânsito seguro e racional, com intervenções pontuais nas diferentes regiões da cidade. Ainda, aprofundar o debate sobre meios alternativos de transporte como a bicicleta e assegurar a licitação do transporte coletivo, que está em fase de elaboração do edital. O mais importante no trânsito é a segurança para os motoristas, pedestres e usuários e, nesse sentido, vamos continuar trabalhando. Temos consciência do desafio que é a busca de um trânsito cada vez mais organizado, com foco na mobilidade urbana. Mas é importante ressaltar que já avançamos com obras como a ligação da São Cristóvão a Petrópolis e da Vera Cruz com o Boqueirão, que, somadas a outras medidas, encurtaram distâncias e ajudaram a reduzir o número de mortes no trânsito”.

 

Osvaldo Gomes (PP)

“Mobilidade urbana é tema de grande relevância para as grandes e médias cidades. Em Passo Fundo esse desafio existe e é real. Precisamos olhar para o futuro, o futuro de crescimento populacional e as mudanças demográficas. O futuro passa por articular todos os agentes públicos, econômicos e sociais para que se permitam integrar e diminuir as sobre posição de linhas do transporte coletivo urbano em Passo Fundo. Com isso, seria possível diminuir o fluxo de ônibus no centro da cidade e melhorar a circulação de veículos e pessoas. Olhar para o Futuro é propor a criação do Plano Municipal de Mobilidade Urbana Sustentável que possibilite planejar e ajustar o setor de transportes, de modo que garantam condições adequadas de acessibilidade e mobilidade a nossa população. Seguiremos os padrões de sucesso no Brasil, como em Curitiba e buscaremos as soluções propostas por Medellin na Colômbia. Olhar para o Futuro é integrar os bairros ao centro o centro aos bairros. É integrar todos os meios de transporte que existem”.

 

Rui Lorenzato (PT)

“A melhoria da mobilidade urbana em Passo Fundo, passa por ampliar o uso do transporte coletivo sobre o transporte individual. Atualmente, somente 29,4% dos deslocamentos motorizados são feitos em transporte coletivo. Esta realidade só mudará quando conseguirmos ter um transporte coletivo eficiente, com ônibus novos e confortáveis, com regularidade nos horários e preços mais acessíveis. Para isto vamos investir na criação de um corredor exclusivo de ônibus na Avenida Brasil e fazer uma nova licitação para o transporte coletivo urbano. Hoje esta licitação está engavetada na mesa do prefeito. Defendemos um novo modelo de transporte coletivo em que a prefeitura tenha controle e exerça a fiscalização sobre o sistema: com bilhetagem eletrônica, para permitir passagem integrada e evitar desvios; monitoramento da frota por GPS para garantir pontualidade; exigência de ônibus novos com ar condicionado e reestruturação da linhas atuais. A ampliação das ciclovias e ciclofaixas devem ser feitas como obras de mobilidade e não apenas com fins de lazer. Devem ser planejadas para compôr uma rede que permita o efetivo uso da bicicleta para os deslocamentos cotidianos ao trabalho e não somente como recreação nos finais de semana. Na infraestrutura, o prefeito Luciano prometeu realizar duas grandes obras para resolver o problema do trânsito e não fez. Foram somente mais semáforos instalados na Avenida Brasil que diminuíram ainda mais a fluidez. Vamos concluir o projeto iniciado no governo DIPP/CECCONELLO do anel viário e binários, permitindo uma melhor fluidez ao trânsito e desafogando o centro”. 

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