A rotina das sextas-feiras na Prefeitura de Passo Fundo é sempre a mesma: quando o relógio marca 18h, pelo menos 20 relatórios precisam estar na mesa do prefeito, onde devem constar detalhadamente todos os trabalhos realizados durante a semana. Eles pertencem as diferentes secretarias e departamentos do município que, obrigatoriamente, prestam contas de seus afazeres ao prefeito, agora reeleito, Luciano Azevedo (PSB).
O modelo adotado ainda no início de seu primeiro mandato, em janeiro de 2013, diz muito sobre quem é a principal figura política do município: “eu sou uma pessoa de rotinas”, começa ele, em entrevista concedida ao Jornal O Nacional na última quinta-feira (6). Ter horário marcado é um fator determinante em sua vida. Azevedo acorda todos os dias as 6h, pratica exercícios físicos ao menos três vezes por semana – uma hora por dia, iniciando às 6h30 – e procura cultivar uma boa noite de sono.
Aos 47 anos, já foi duas vezes vereador – a primeira vez em 1992, aos 23 anos, tornando-se até hoje um dos mais novos a assumir vaga no Legislativo passo-fundense; duas vezes deputado estadual – o mais votado na história do município – e, há uma semana, novamente escolhido como prefeito de Passo Fundo. Sua veia política já se mostrava desde cedo, quando morava no bairro Santa Terezinha e aprendeu, por influência do pai (Juarez Azevedo), a gostar de ler e acompanhar os principais jornais do estado. Daí veio também seu estímulo pelo jornalismo: Luciano é formado pela primeira turma de comunicação e também em Direito, ambas na Universidade de Passo Fundo.
Sua personalidade metódica o acompanha por toda trajetória pessoal e política. “Me atrapalho um pouquinho quando saio da rotina, mas isso é uma deficiência minha, algo que tenho que melhorar”, conta. Justamente por isso estabeleceu uma forma para funcionamento da Prefeitura. As manhãs de segunda-feira são destinadas para despache com a equipe de gabinete: a agenda, pedidos de audiências, demandas que chegam e projeções são estabelecidos neste momento, que serve para ancorar o restante da semana.
As tardes são reservadas para receber secretários, Procuradoria-Geral do Município (PGM), administração e comunicação, por exemplo. Pelo menos duas vezes por semana Azevedo assina documentos que chegam aos montes na Prefeitura. Eventos e situações extras são encaixados na agenda – ainda que esta não seja a atividade favorita do prefeito eleito. “Chega alguém aqui e diz: preciso falar contigo cinco minutos. Não existe conversa de cinco minutos. Aí você já está empurrando alguém pra frente ou pra trás e isso já me incomoda. Quem trabalha comigo sabe disso. Por exemplo, ontem [quarta-feira, 5] me avisaram no final da tarde da interdição do lixo”, contou ele. Ele se refere a decisão do Ministério do Trabalho, que interditou os trabalhos da empresa Via Norte – responsável pelo recolhimento de lixo dos bairros. A empresa só poderá operar novamente após o cumprimento de uma série de adequações que garantem a segurança dos garis durante a atividade. Até o fechamento desta edição, a situação não havia sido normalizada. “Isso é algo importante que tem que ser tratado agora, não pode ser resolvido daqui 10 dias.
O domingo, por fim, é o dia em que lê todos os relatórios recebidos na sexta-feira. “Estes relatórios me ajudam a saber tudo o que está acontecendo na cidade. Não me deixam perder de vista o que está sendo tratado. As vezes eu recebo o relatório e me acende uma luz: poxa, tal secretário não colocou aqui a estrada do Capinzal que estava no relatório anterior. Eu então cobro dele”, define. Seu método de trabalho, os projetos para os próximos anos de mandado e seu futuro político não são incógnitas: Luciano conta com exclusividade o que pretende, quais projetos terão continuidade e quais serão remodelados daqui em diante.
Pesquisa de opinião trimestral
Como saber se uma gestão está dando certo? A gestão do prefeito reeleito busca saber, a cada três meses, a opinião da população passo-fundense. Desde dezembro de 2012 uma empresa contratada pesquisa e computa impressões sobre diferentes aspectos do município. “É uma ferramenta que não abro mão. Isso por que a pesquisa me diz qual o grau de satisfação em relação a iluminação pública, estradas do interior, atendimento da saúde, por exemplo”, explica Azevedo. Mais que isso, ela gera uma nota para cada área de cada secretaria, individualmente. “[O secretário] ganha uma nota e os outros estão enxergando a que o colega recebeu, que também é comparada com a nota anterior. Tem limpeza do centro e limpeza dos bairros, por exemplo. Aí a gente define, de acordo com os resultados da pesquisa, os bairros que este trabalho precisa melhorar. É uma ferramenta bem eficiente”, defende. Os resultados da pesquisa são divulgados internamente em reuniões trimestrais que reúnem todos os secretários, coordenadores e prefeito. “Trazemos um palestrante, para ouvirmos alguém de fora, algo diferente; trato dos assuntos que considero de maior importância, as cobranças mais maduras, até que comportamento devemos adotar entre os secretários”, conta.
E o sucesso da eleição?
Luciano Azevedo foi reeleito com mais de 85,5 mil votos – 76% de aprovação entre cinco candidatos. A quê pode ser atribuído estes números? “O sucesso da gestão está, na minha opinião, explicado em outubro ou novembro de 2012, quando definimos a forma que os secretários seriam escolhidos. Quando você escolhe secretários técnicos, você lhes dá responsabilidades. Eles precisam chegar em um resultado e você colocou pessoas que estão preparadas para isso. A explicação é a qualidade dos secretários, que é notável. Outra questão importante é a avaliação que fazemos e a busca do resultado. Eles são cobrados: precisam me avisar até quando não vão estar na cidade. Se for para Porto Alegre no aniversário de um familiar ele precisa me avisar com antecedência, senão vai ser chamado a atenção. Não pode desligar o telefone celular, que é público: são chamados à responsabilidade a todo momento”, pontua.
Organização e metodologia
O que pode-se perceber no governo de Luciano Azevedo é que cada programa possui um nome diferente. O motivo para isso, segundo ele, é estimular que cada um possua suas próprias regras de condução. “Assim eu consigo enxergar o que está acontecendo. Cada um dos programas têm um gerente e cada um destes gerentes é cobrado dentro de outros programa que acompanha os medidores de desempenho, entrega de prazos, etc. Tudo isso é para que possamos fazer um trabalho organizado, com estrutura facilitada”, definiu. É para isso que serve, também, o Grupo Especial de Trabalho (GET), que trabalha para centralizar, reunir e filtrar as informações que envolvem trabalhos internos da Prefeitura. “Quando tem um assunto importante, que não é do dia a dia, mas precisa amadurecer, ele passa pelo grupo. Por exemplo, a publicação do edital da compra dos ônibus da Codepas. Este é um assunto que demandou muito tempo. Tinha que licitar a instituição bancária que ia dar o crédito para depois licitar os ônibus e isso demorou muito. As instituições bancárias não queriam, tivemos que negociar, isso tudo é tratado por esse grupo até chegar o edital”, pontua. O pregão de compra de 10 novos veículos acontece nesta segunda-feira (10).
Próximos projetos
Tempo de reeleição é, também, sinônimo de renovação. Alguns dos projetos serão mantidos, reformulados e outros sairão do cronograma. Até então, a gestão de Luciano trabalhou com 25 programas. Um deles, o Cidade Luz – que pretende melhorar a iluminação públicas das avenidas, em torno de escolas e no acesso aos bairros – deve ser rediscutido. “Por quê? Porque ele não foi executado durante o mandato como eu gostaria. Na minha opinião, [sua intenção] não ficou visível, o resultado não foi o esperado. É provável que este programa seja recolhido e venhamos a estudar outra forma de implementar esta medida”, aponta Azevedo. Já o “Um olhar para as crianças” – que concede óculos de grau para crianças passo-fundenses – deve ser ampliado, assim como o do Uniforme Escolar e o Bairro a Bairro.
Este último, muito criticado pela oposição, não deve deixar de existir, como afirma o prefeito. “O Bairro a Bairro começa quase um mês antes. Escolhe-se o bairro a partir de uma lista de pedidos muito grande. As lideranças, igrejas, escolas, comércio são visitados e ajudam a escolher onde e quais intervenções são necessárias. Tem iluminação pública, pintura de faixa, colocação de lombadas, limpeza do bairro e, em alguns casos, tem obra. Vai ser mantido com toda certeza. Talvez discutamos um pouco a questão da estrutura. Não temos intenção de achar que está tudo certo. Temos intenção de melhorar, tudo pode ser examinado. Não ter show ou ter, por exemplo. No início a intenção era ter apresentações das escolas, de CTGs do bairro. As vezes não se consegue isso”, defendeu.
Mas o resultado que reduziu a mortalidade infantil no município ainda é o preferido de Luciano. O conhecido como “Meu bebê, meu tesouro” é entendido por ele como um case de sucesso. “[A taxa de mortalidade] já chegou a ser de 22 crianças por mil e agora está em oito por mil; um padrão quase da Europa. Vamos trabalhar com uma nova meta, que é de seis por mil, bastante ambiciosa. Uniforme escolar é outro. As pessoas não admitem mais em falar que não tem uniforme escolar. É um programa caro, que tem um custo elevado, mas que dá um resultado social significativo. As escolas estão conosco, tivemos um pouco de dificuldade no início, mas já estão insistindo o uso do uniforme, os pais compreenderam”, ressalta.
Avenida Brasil e ciclovia
O plano é que a Avenida Brasil seja o próximo alvo de reformas no início do próximo ano. O processo só depende da liberação da Caixa Federal Econômica – o que deve acontecer, segundo ele, de 30 a 40 dias. A obra deve durar um ano e precisará contar com a paciência dos motoristas: são previstas readequações no trânsito e nos canteiros centrais. “Não é uma simples pavimentação: é uma substituição em toda estrutura. Aqueles ‘calombos’ vão acabar, mas tem que ter paciência. Optamos por não fazer em época de eleição justamente por isso, tanto que a obra não foi anunciada”, afirma. Outro ponto geralmente citado é o da continuidade da ciclovia. De acordo com Luciano, existem, sim, intenções de aumentá-la em, pelo menos, mais 10km, mas as questões ainda estão sendo estudadas. “Se tem um projeto muito adiantado de leva-lá até a Gare, pela Sete de Setembro, mas ainda não está maduro o suficiente. Outro projeto coloca a ciclovia na Av. Presidente Vargas. Depende um pouco de examinar se cabe. A ciclovia é algo para adiante”, define. Existe possibilidade, também, de ampliar o projeto das Bicicletas Compartilhadas. “Quando foram colocadas eu mesmo tinha dúvida em relação a aceitação, mas a equipe insistiu muito, tinham muita convicção e eu fui convencido. Hoje temos 16 mil pessoas acessando as bicicletas. Acho que ainda temos que passar por um processo para entender que aquilo é um bem público, que tem que preservar, cuidar. Ainda tem vandalismo, temos que melhorar isso”, termina.
Redução de despesas tende a se repetir?
Logo que assumiu, Luciano publicou portaria que definia um limite de gastos para celulares públicos, diárias e outras despesas da administração. A medida segue. “Nossa tentativa é economizar sempre”, afirmou. Segundo ele, os salários dos servidores municipais estão em dia e a primeira parcela do 13º salário já foi paga – o que implicou em cerca de R$ 7 milhões aos cofres públicos. “O que acontece é que normalmente na metade do ano a receita do município cai. Isso é normal e estamos vivendo um momento de desaquecimento da economia. Por exemplo, a gente trabalha com a projeção da receita. A parcela do ICMS que vem na próxima terça-feira (11), a FAMURS prevê que sejam R$ 260 milhões; já a Secretaria da Fazenda do RS prevê que sejam R$ 640 milhões. É uma diferença muito grande, de mais de 100%. Isso muitas vezes acontece: você está esperando um recurso e ele pode não vir. Como no estado, não entra o recurso, não paga a despesa. Mas nós vamos terminar o ano dentro daquilo que o Brasil está vivendo hoje”, disse. Segundo ele, a Prefeitura deve terminar 2016 em equilíbrio. “Em um momento de crise como o que vive o país, é plenamente compreensível um descompasso de cerca de 0,2% ou 0,3% entre a receita esperada e a realizada”.
Deputado federal: “Penso, sim”
A pergunta que não quer calar: pensa em ser deputado federal? “Penso, sim. Penso em concorrer a deputado federal, mas não em 2018”, frisa. “Para mim a atividade política é permanente, todo mundo sabe disso. É claro que eu espero poder continuar, mas depois que sair da Prefeitura. A ideia é ficar na prefeitura até o final”, está dito.