Esquerda ou direita? A pergunta dualista muito vista nos últimos tempos é a que Saul Spinelli (PSB) evita responder. Ele está na sala de sua casa, no bairro Cohab II, onde recebe visitantes todos os dias. Alguns vão para conversar, trocar ideias, falar sobre questões pontuais dos bairros. Outros aguardam sua vez na roda do chimarrão enquanto falam sobre a divulgação de eventos da comunidade ou indicações em busca de um trabalho. As demandas não param; são múltiplas. E desde cedo Saul é, assim, considerado um líder comunitário. “Eu sou um homem que veio de dentro de um bairro, de dentro da vila, que acredita no ser humano, que devemos preparar os nossos jovens. Se isso é ser de esquerda, pois bem, sou de esquerda”, afirma o agora vereador eleito com mais de 2,5 mil votos. Nascido em Porto Alegre, Spinelli chegou em Passo Fundo aos sete anos. Morou nos bairros Santa Marta, Vila Fátima, Vera Cruz, Schisler e, agora, Cohab II. É casado e possui duas filhas – Roberta (12) e Vitória (6).
O que já fez
Seu trabalho como militante começou ainda em 1985, quando estudava na Escola Protásio Alves. Atuou no Grêmio Estudantil e no então chamado Grupo Alicerce – uma organização formada por jovens que reivindicava democracia nas escolas numa época em que diretores eram indicados pelos governos. O vínculo comunitário começou a dar seus primeiros sinais em uma reunião no bairro Ipiranga, onde moradores das imediações pediam por água no bairro Schisler; instalação de luz elétrica no Jaboticabal e a construção da nova escola Irmã Maria Catarina que, antes, era localizada em área de preservação permanente e vivia com problemas de umidade, insalubre aos seus usuários.
A partir daí foi um pulo para ocupar um dos cargos da diretoria da recém formada Associação de Moradores do Bairro Schisler, movimento do qual assumiu presidência em 1993. Foi por conta disso que entrou como coordenador de todas as associações de moradores do município, na gestão do prefeito Julio Teixeira (1997/2000), após a criação do bairro Integração. Em 2008, Spinelli assumiu a presidência da União de Associações de Moradores de Passo Fundo (UAMPAF) onde, junto dos líderes comunitários, iniciou-se um planejamento para instalar ambulatórios em diversos bairros do município. O movimento deu certo: nasceu, a partir daí, os ambulatórios dos bairros Nenê Graeff, Vila Independente, Vila Nonoai, Vila Nova e Victor Issler. Depois da UAMPAF, veio a coordenação da Codepas, no último ano do governo de Airton Dipp. Foi neste período que Spinelli concorreu a vereador pela primeira vez. Sua elegibilidade, no entanto, não foi efetuada. “Quando eu perdi as eleições em 2012, fui o 16º mais votado, mas ainda faltaram seis votos. Eu me resignei à vontade de Deus e dos eleitores. Naquele mês de outubro de 2012 estava escrito para eu não ganhar a eleição e dever continuar a minha caminhada no movimento comunitário: assim foi e assim eu fiz”, conta.
Em 2013, Saul assume como secretário de cidadania e assistência social (SEMCAS) da Prefeitura de Passo Fundo. Exonera-se no início deste ano para entrar como suplente do então vereador Wilson Lill (PSB) para, mais tarde, seguir os rumos da campanha que o elegeu nas eleições de outubro. “Hoje eu entendo que em 2012 era para eu ter ficado suplente, para ter conhecido outro viés que é o da assistência social, para ter aprendido a ter metas, metodologia de trabalho, então me dou por satisfeito. Temos mais é que acatar a vontade popular, agradecer. Chegou o momento e agora temos a obrigação de respeitá-la também com muita responsabilidade e humildade”, pontua.
Posicionamento
O debate atual entre direita e esquerda foi motivo de manifestos e violência durante o julgamento de afastamento da então presidente Dilma Rousseff. Spinelli não entra neste mérito. “Eu não diria que sou de esquerda e também não diria que sou de direita. Isso por que, quando se tem as coligações que temos; quando temos homens bons em ambos os lados e ruins nas duas correntes, não há por que separar. Eu sou um homem comunitário, que veio de dentro do bairro, de dentro da vila, que acredita no ser humano e que devemos preparar os nossos jovens, cuidar das nossas crianças e dos nossos idosos. Se isso é ser de esquerda, pois bem, sou esquerda”, define.
O pessebista se diz contra qualquer tipo de preconceito e é, também, contrário a atitudes políticas que queiram interferir na vida da comunidade. “Esquerda ou direita, não gosto desta definição. Na prática isso não se condiz há muito tempo. Acho que os políticos eleitos devem estar a serviço da população, fazer o debate amplo”, afirma. Para ele, o debate puramente partidário precisa ser evitado, já que fecha os olhos do legislador para os principais problemas da população. “É perigoso. Existem demandas a serem discutidas e resolvidas nas comunidades. Não posso ocupar meu tempo com o debate ideológico ao invés de fazer a construção de uma sociedade para todos”, finaliza.
O que pretende fazer na Câmara?
Entre as demandas levantadas por Saul, o destaque está na área de assistência social, consolidação dos direitos para crianças e idosos. Nas três semanas em que assumiu cadeira na Câmara – em abril deste ano – protocolou um projeto de lei sugerindo a criação do programa social “Centro Dia do Idoso”; um local que busca oferecer assistência multidisciplinar a idosos e familiares. O combate ao uso das drogas também é outro tema foco do agora parlamentar. “Se não nos unirmos de fato vamos perder esta guerra. Estamos perdendo jovens de 15 anos para o mundo do crime. Precisamos fazer este debate, implementar programas que ocupem os jovens”, declarou. Outro ponto a ser tratado é a saída do novo presídio de Passo Fundo. A construção da nova penitenciária permanece sem previsão. “Vou lutar para que saia, sim, o presídio de uma vez, por que também precisamos desta área de punição para os criminosos que são presos”, afirmou. Spinelli também afirma haver a necessidade de fazer um debate de até onde vai o papel da família na educação das crianças. “Muitas vezes, em momentos importantes [das crianças], a família não está presente. Por isso precisamos instrumentalizar todas as nossas organizações. Isso passa pelo Conselho Tutelar, pelo Conselho Municipal da Crianças e Adolescente, pela Secretaria de Assistência Social, pela Polícia Civil e Brigada Militar, que também precisam de apoio”, termina