Foram três tentativas até Rudimar dos Santos – também conhecido como Rudi da Vila Isabel – ser eleito pelo PCdoB como vereador de Passo Fundo. A primeira veio em 2008, com incentivo da mãe, a merendeira da Escola Salomão Iochpe, Maria Antônia dos Santos – falecida em 2010. Ela é destaque nesta história por ser seu ponto de partida para que chegasse ao Plenário. “Minha mãe dizia: por que você não se envolve na política? Eu não gostava muito, mas acabei entrando e, quando vi, ajudei a criar a Vila Isabel”, conta. É dela a casa onde Rudimar e uma das filhas, Sara (14), moram. O espaço, que é considerado uma área de direito, passa pela mesma situação das tantas que inspiraram-no a dar continuidade ao seu primeiro projeto da Câmara: o de regularização fundiária. A intenção é criar uma legislação que documente todas as residências passo-fundenses sem registro de escritura. Sua vontade passa pelo antigo sonho da mãe de registrar o terreno onde fica a casa em que criou Rudimar e seus quatro irmãos. Aos 42 anos, solteiro e pai de quatro filhos – além de Sara, Patrick (17), Yasmin (9) e Gustavo (6) – Rudimar elegeu-se com 1.151 votos. Ele conta que também pretende atender as comunidades que mais necessitam em Passo Fundo. Confira agora a sua trajetória.
O caminho até a Câmara
Rudimar estudou até a 7ª série e precisou parar: foi trabalhar como lavador de ônibus, onde permaneceu até os 18 anos. Formou-se no ensino médio alguns anos depois, quando fez a Educação para Jovens e Adultos (EJA). Dos 18 aos 22 serviu como cabo do Exército. No fim dos quatro anos voltou a Passo Fundo para se profissionalizar na área da manutenção de eletrônicos. Sua mãe foi quem lhe incentivou a ingressar na política. Mesmo sem afinidade com a área, assumiu a presidência da Associação de Moradores aos 22 anos, assim que chegou do quartel. Foi nesta época que Rudimar ajudou no desmembramento da Grande São Luiz Gonzaga criando, a partir daí, a Vila Isabel. “Resolvemos separar por que não recebíamos o recurso que ia para a São Luiz, já que eram muitas localidades [inseridas]”, lembra. A partir da Vila Isabel, desmembraram-se também os bairros Manoel Corralo, Santa Maria II e Bela Vista.
O mandato como presidente durou seis anos. Foi então que Rudi filiou-se ao PCdoB e decidiu tentar uma vaga na Câmara de Passo Fundo. “Da política eu não gostava, só via as coisas acontecerem. A primeira foi só para ver como eu me saía. Fiz 527 votos. Na segunda vez, em 2012, foram 865 e fiquei suplente. Agora conseguimos ganhar”, conta. A dona Maria Antônia teve papel essencial na caminhada mesmo depois de sua morte, aos 62 anos. “Sem ela não tive mais aquele empurrãozinho, mas os vizinhos abraçaram a causa. Minha trajetória começou assim, com minha mãe querendo que eu fosse político. Desde então viemos tentando e uma hora a gente consegue, né?”.
O envolvimento com a política fez com que largasse sua profissão de técnico em eletrônica. Com a rede de contatos estabelecida começou a trabalhar em diversas áreas da Prefeitura. Foi coordenador do Bolsa Família, trabalhou na Secretaria de Habitação, entre outras atribuições onde ocupou diferentes cargos de confiança. Isso, segundo ele, lhe garantiu experiência para atuar como vereador. “Eu acho que para um vereador se dar bem ele tem que passar por uma comunidade e também por várias secretarias. Precisa saber onde ficam as coisas, ter o conhecimento da cidade. Quando era presidente de bairro, cansei de ir pedir ajuda de vereadores e eles não sabiam onde ficavam as coisas. Todos da minha equipe vão ter que estar afiados”, pontua.
Posicionamento
No aspecto político, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) define-se como extrema esquerda. Fundado em 1922, é o mais antigo do país. Dos quase 100 anos de existência, viveu 60 na clandestinidade. Em Passo Fundo o partido é posição: concorreu às eleições coligado com o PSB, partido do prefeito eleito, Luciano Azevedo. No âmbito nacional, Rudimar defende que o impeachment da agora presidente afastada Dilma Rousseff foi golpe. “Mesmo que não estivemos [coligados] com o PT em Passo Fundo, somos esquerda e temos que defender a nossa bandeira. A Dilma não tem culpa de muita coisa que está acontecendo no Brasil, foi golpe sim, puxaram o tapete dela. O PCdoB é um fiel escudeiro do PT”, afirma. Rudimar afirma que escolheu o PCdoB por acreditar nas bandeiras levantadas pelo partido. Ao mesmo tempo também defende que toda população mereça atenção. “Não sou contra nada. Acho que cada um escolhe o que quer para si. Sempre digo que o povo que te coloca lá também é o povo que pode te tirar. Não me prejudicando, também não vou prejudicar”.
Ele ressalta o enfraquecimento do posicionamento esquerdista na próxima gestão da Câmara. Nenhum candidato do PT, por exemplo, foi eleito na cidade. Com 18 vereadores da situação e três da oposição, a previsão é que as discussões não sejam agitadas. “Se você tem uma oposição maior já tem um debate bom, mas com 18 na base não tem como. Não tem nem graça. Os debates vão ser tranquilos, sem briga. Cada um vai trabalhar pela sua comunidade, apresentar seus projetos e é isso”, opina.
O que vai fazer na Câmara?
Em fevereiro de 2015, ao assumir como suplente do reeleito Alex Necker, Rudimar começou a trabalhar em seu projeto de regularização fundiária – que acabou sendo arquivado, em decorrência do retorno do titular do partido. A intenção, como afirma Rudimar, é retomá-lo assim que chegar na Câmara, em janeiro. O projeto visa atender todas as famílias que moram em terrenos sem escritura. “Ele vai servir para que a população de baixa renda chegue na Caixa, mostre que seu terreno está regularizado e, com isso, possa fazer seu empréstimo e construir sua casa”, explica. A própria casa do vereador eleito não possui escritura – é considerada uma área de direito, herdada da família. “Passo Fundo tem quase 200 mil habitantes. Pelo menos 100 mil não tem documento de seu terreno”, argumenta.
Além disso, o plano é frequentar a Câmara essencialmente nos momentos das sessões e, no restante, sair às ruas para perceber demandas da comunidade. De acordo com Rudimar, todas as reivindicações serão levadas para o gabinete do prefeito. “O vereador precisa ver o que acontece. Talvez não consigamos resolver todos os problemas, por que o vereador não resolve, mas fiscaliza. [Ainda assim] podemos cobrar do prefeito que tome suas providências”, ressaltou. Além disso, Rudimar destaca os locais que devem receber maior cuidado em seu mandato. O destaque deve ficar para os bairros São José, Vera Cruz, Parque Farroupilha, Valinhos, Santa Marta, Grande São Luiz Gonzaga e, claro, Vila Luisa – locais de onde vieram os maiores percentuais de votos. “Vamos cuidar com carinho destes lugares”, pontuou.