"Posso ter recebido votos de protesto, mas desta vez foi diferente"

O vereador conhecido popularmente como Palhaço Uhu conta o que planeja para os próximos anos de mandato e sua surpresa ao ser eleito pela segunda vez como um dos mais votados. Para ele, resultado das urnas foi surpreendente. ?EURoeNão imaginava?EUR?, revela. Confira mais uma reportagem da série 'Quem são eles?'

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Não passa um minuto sem que o Palhaço Uhu seja requisitado enquanto dança e canta no canteiro central da Avenida Brasil nas tardes de sexta-feira. Deste fato pode ser explicado o porquê de Gleison Consalter – o nome real de quem encarna o personagem há mais de 10 anos – ter emplacado novamente como o segundo mais votado da cidade. Pela segunda vez, sua popularidade o deixou apenas 23 votos atrás do representante com maior número de votos – Mateus Wesp, do PSDB, que somou 2.710 votos no pleito. Gleison, que agora é filiado ao PSB, nunca imaginou que poderia um dia ser vereador, sequer teve parentes envolvidos com política. A fusão surgiu naturalmente, assim como surgiu Uhu. Com 33 anos, além de vereador e personagem, Gleison é professor de Educação Física para crianças de dois a cinco anos. Seu próximo desafio, no entanto, é ser pai: o primeiro filho, Gabriel, deve nascer no início de 2017. No segundo mandato a intenção é ampla: pretende buscar desde a implantação de novas escolas infantis em diferentes bairros da cidade até criar uma sede para os mais de 40 grupos de Terceira Idade de Passo Fundo.

O caminho até a Câmara
O convite para viver o Palhaço Uhu veio depois de formado em Educação Física, pela Universidade de Passo Fundo (UPF), ainda em 2005. O Uhu – como o próprio se chama – nasceu de uma brincadeira que já fazia antes, entre a comunidade do bairro São Cristóvão, onde mora até hoje. “Fui abordado pelo gerente de uma loja do comércio para trabalhar como um divulgador da marca; um personagem que iria tentar aumentar as vendas. Era pra ser só na época dos trabalhos temporários, de outubro a dezembro, mas acabou dando certo e fiquei o ano todo”, lembra. Na época nem passava pela cabeça de Gleison ser vereador. Ele já era professor e passou a se manter com o salário da sala de aula e do Palhaço. “É um trabalho, tenho até carteira assinada. Comecei a gostar e toda a comunidade passou a gostar também”, conta. Quando viu, Gleison já era abordado na rua como o Palhaço Uhu. “Essa é uma história muito legal, porque eu não estava desempregado nem procurando emprego na época. Tive a oportunidade e descobri que tinha talento com o público. Daí em diante nascia o Uhu e, depois, o vereador”.

Como nunca teve relação alguma com a política, foi surpreendido com a primeira eleição, em 2012. Sem nunca ter concorrido, foi o segundo mais votado. Na época, era filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), mas mudou-se para o Partido Socialista Brasileiro (PSB) na troca de janelas deste ano. “Fui convidado [para ser candidato] pelo fato de eu ter um relacionamento bom com as pessoas. Querendo ou não, já fazia um serviço para a comunidade. Nunca fui presidente de bairro ou coordenador de algo ligado à comunidade, mas sempre que alguém precisa de ajuda eu estou disposto a ajudar”, afirma ele, que tem a fala confirmada pela dona de casa Emanuelle Ferreira. Enquanto passava pela Avenida Brasil, na tarde dessa sexta-feira (28), atravessou até o canteiro central para levar a filha Aysla, de cinco anos, conversar com o Palhaço Uhu. “Vou fazer uma festinha para a Raiane lá em casa, vai ter as crianças da rua, bem simples. Pode aparecer?”, pediu.

Mas o fato de ser conhecido em Passo Fundo não significava uma campanha ganha. Gleison entende, com o cenário político desgastado, sua candidatura sempre possui dois lados muito distintos. “Eu poderia ser um dos mais votados ou ser inexpressivo. Acredito que, sim, na primeira eleição possa ter recebido muitos votos de protesto: vamos votar no palhaço. Mas desta vez foi diferente”, afirma. Para ele, mesmo que não tenha usado seu espaço na Câmara para elaboração de projetos, apenas, realizou ações a serviço da população passo-fundense. “Por isso acredito que desta vez já não tenha recebido tantos votos de protesto como no início. As pessoas viram que sou uma pessoa honesta”, termina.

Posicionamento
Gleison assumiu seu primeiro mandato, em 2013, como oposição – a bancada petista da Câmara tinha, na época, quatro representantes. No início deste ano migrou para o PSB – partido do prefeito Luciano Azevedo. Ele enfatiza que fez a troca por uma série de acontecimentos que, entre outros, também incluem o impeachment da presidente destituída Dilma Rousseff (PT). Este, no entanto, não foi o único motivo. “Foram questões partidárias municipais. O andamento do PT daqui é muito raivoso, um PT antigo. Posso me considerar ainda novo na política, mas esta questão de criticar tudo é duvidosa. Tem, sim, que fiscalizar, mas e você, como vereador, faz o quê para melhorar? Pense na sua própria casa antes de criticar o vizinho”, defende.

Planos para o mandato
Em seu primeiro mandato conseguiu que fosse aprovado o projeto que faz com que pessoas idosas tenham direito a acompanhantes nas salas de emergência de hospitais públicos e privados de Passo Fundo. A lei, que possui respaldo de definição federal, foi sancionada pelo Executivo e já está em vigor no município. A ideia para o próximo ano é seguir trabalhando com a Terceira Idade. Desta vez, no entanto, com um enfoque diferente. O principal plano de Gleison é construir uma sede para os mais de 40 grupos de idosos da cidade. “Vamos propôr a construção de uma sede própria. Hoje cada grupo realiza sua atividade em ginásios e salões da comunidade, mas alguns não possuem locais do tipo. É uma conversa antiga que pretendo colocar em prática”, explica.

Outro plano é continuar trabalhando com educação infantil. “Estamos tratando com a Secretaria Municipal de Educação (SME) a possibilidade de ampliação do número de escolas infantis nos bairros de Passo Fundo. Estou fazendo o mapeamento de bairros que precisam”, revela. Além disso, ele lembra que, durante sua primeira legislatura, auxiliou as escolas municipais de educação infantil com questões pontuais, como reparos em espaços físicos e auxílio pedagógico. A intenção agora, sendo ele, é ampliar este atendimento. Outra ideia que envolve crianças é a realização da Festa do Palhaço Uhu. “Vão ser todas beneficentes. Selecionaremos os bairros mais humildes, teremos parceiros e vamos realizar ações com as crianças destes lugares. É um plano para 2017”, pontua.

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