"Não queremos nos incomodar e isso é um erro"

Novato na política, o cabeleireiro recém-eleito conta seus motivos para ingressar na política passo-fundense e as expectativas para o mandato. Em sua legislatura pretende trabalhar com maior ênfase pelos bairros Zacchia e São Luiz Gonzaga, além de também levantar a bandeira do tradicionalismo gaúcho

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Evandro herdou a profissão do pai: é cabeleireiro e barbeiro desde os 12 anosEvandro herdou a profissão do pai: é cabeleireiro e barbeiro desde os 12 anos
Evandro herdou a profissão do pai: é cabeleireiro e barbeiro desde os 12 anos
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A ligação entre o cabeleireiro Evandro Meireles e a política brasileira era praticamente nula até pouco tempo atrás. Ele, que filiou-se ao Partido Trabalhador Brasileiro (PTB) há pelo menos um ano e meio, andava descontente com o cenário. “O que me despertou foi o fato de assistir, ler os jornais e ouvir falar em corrupção, roubo, desvio. Com isso nós, pessoas de bem, trabalhadores, vamos nos acoando, não queremos nos incomodar e isso é um erro”, começou. “Temos que nos envolver e, por isso, decidi que encararia. Estou aí, né? Vamos ver no que vai dar”. Sua candidatura acabou dando certo: Evandro elegeu-se com 1.425 votos. Os planos para a Câmara, a partir do próximo ano, no entanto, não envolvem projetos já planejados. A prioridade dele estará voltada para três questões em específico: os bairros José Alexandre Zacchia e São Luiz Gonzaga; e o movimento campeiro e tradicionalista gaúcho. Cabeleireiro e barbeiro de profissão, Evandro evita posicionar-se politicamente e baseia sua filiação ao PTB pela identificação com Getúlio Vargas. “Um homem que fez um ótimo trabalho no Brasil, um homem da fronteira, um gaúcho nato”, explica.

O caminho até a Câmara
Aos 36 anos, Evandro herdou a profissão do pai. “Corto cabelo desde os 12 anos. Meu pai me disse: 'filho, eu não te dou estudo, mas te dou um profissão: cortar cabelo e ser barbeiro'”, lembra. Além disso, também trabalhou em açougue de supermercado e numa loja de tecidos e armarinhos. Morou 19 anos no bairro Zacchia e decidiu mudar-se para o São Luiz há 17. Casado, tem dois filhos – Evander (12) e Evanderson (2 meses) – e um enteado – Mateus (13). O pequeno Evanderson, inclusive, nasceu dois dias depois de iniciada a campanha eleitoral, em 18 de agosto. “Tive que conciliar para aproveitar os momentos bons do nascimento, o que deixou tudo muito mais corrido”, conta.

Sua ligação com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) tem mais de 10 anos: atualmente é patrão do Piquete de Laçadores Caminhos da Tradição e narrador de rodeios, credenciado à entidade. Foi, inclusive, desta última experiência que se envolveu com o rádio, onde apresentou programas de auditório e operou pela equipe técnica em uma emissora da cidade. Para ele, todos estes fatores lhe dão bagagem para exercer seu mandato como vereador. “Sempre lidei com as pessoas, com o público. Isso te dá conhecimento. Me sinto preparado para representar o povo passo-fundense na Câmara de Vereadores por que sei do que ele precisa”. Esta relação aprofundou seu interesse em política. “O que me despertou foi o fato de assistir, ler os jornais e ouvir falar em corrupção, roubo, desvio. Com isso nós, pessoas de bem, trabalhadores, vamos nos acoando, nos queremos nos incomodar e isso é um erro. Temos que nos envolver e, por isso, decidi que encararia”, termina.

Posicionamento político
O vereador eleito diz não ter lado: “para mim, política é administração”, afirma. Ele acredita que os eleitores não se interessam em saber a ideologia do político, desde que este trabalhe. “Não importa para eles [os eleitores] se você é de direita, esquerda ou centro. Eles querem saber de trabalho. Querem que o vereador veja o que é emergencial e trabalhe sobre isso”, completa. A filiação ao PTB veio há um ano e meio, a partir de um amigo em comum que sabia do interesse de Evandro ingressar no meio político.

Sua identificação com o partido vai de encontro da relação que Evandro tem com a cultura gaúcha. “Gosto muito da minha cultura, da tradição gaúcha. Se olharmos o histórico do PTB, quem fundou foi Getúlio Vargas, um homem que fez um ótimo trabalho no Brasil, um homem da fronteira, um gaúcho nato”, explica. Vargas governou o país de 1930 a 1945, em três fases históricas: a do Governo Provisório – de 1930 a 1934 – e do Constituinte, de 1934 a 1937. O reconhecido como 'Golpe do Estado Novo' tornou-o presidente-ditador até 1945. Foi o responsável por instaurar o populismo – um método de governo em que o Estado intermediava as relações entre patrões e trabalhadores, muito comum na América Latina na época. Em seu governo colocou em prática, pela primeira vez na história brasileira, os direitos trabalhistas como férias remuneradas e salário mínimo. Foi também um dos responsáveis na briga contra a ideologia comunista, que teve como principal líder a figura do também gaúcho Luiz Carlos Prestes. O PTB foi fundado em 1945, inspirado nos feitos ideológicos de Getúlio Vargas, após sua retirada do governo, e se considera um partido posicionado ao centro.

Projetos para a Câmara
Evandro não tem um projeto específico para sua estadia na Casa: ele pretende construí-los no decorrer do tempo, de acordo com as demandas recebidas em seu gabinete. Ainda assim, três pontos receberão maior atenção de sua parte: o bairro Zacchia, o São Luiz Gonzaga e o meio tradicionalista. “No Zacchia, temos questões bem sérias. Tem a canalização, a escolinha infantil que precisa ser ampliada, o pessoal de invasão que precisa de regularização. Isso tudo é emergente. Tanto no São Luiz quanto no Zacchia pretendo ver da questão de iluminação pública, que está precária”, afirma. Já no meio tradicionalista, o foco é o Parque de Rodeios da Roselândia. “Lá temos um parque bonito que recebeu investimentos, mas que precisa de manutenção. Por exemplo, a cancha de laço da área campeira precisa de dreno e areia nova; e o palco principal das invernadas artísticas também precisa de reforma”, acrescenta. Isso, segundo ele, não é uma crítica ao governo de Luciano Azevedo – do qual é aliado. “São apenas bandeiras que defendo e necessidades que vejo”, termina.

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