Alex Necker não titubeia: “sou esquerda”, afirma. Ele faz parte do reduzido grupo de vereadores eleitos para o próximo mandato que se posiciona ao lado esquerdo do mapa ideológico. Filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) há mais de 20 anos, tem ali sua total identificação: deu os primeiros passos na política através do movimento estudantil, onde militava pela União da Juventude Socialista (UJS). O que vê hoje, como conta, é um cenário onde o político tem receio em ter posição ideológica. “Muita gente acha que se eu dizer que sou de esquerda vou ser rotulado. Na verdade acredito que a sociedade espera que as pessoas tenham posição. Elas tem que assumir o que defendem”, opina. Aos 42 anos é formado em Direito pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Já atuou como diretor do Hemocentro de Passo Fundo e foi coordenador administrativo da Secretaria de Cultura, no governo de Airton Dipp.
O caminho até a Câmara
Antes da carreira pública, Alex trabalhou dos 14 aos 24 anos em um hotel da cidade. Começou como mensageiro – levando os hóspedes e suas bagagens até os apartamentos –, passou pelas funções de garçom, recepcionista e, por fim, auxiliar administrativo. Foi quando começou o ensino médio no Instituto Estadual Cecy Leite Costa que conheceu o agora deputado estadual Juliano Roso, do mesmo partido. Surgia ali uma parceria de anos: tempo depois Necker foi assessor de Juliano na Câmara de Vereadores. Já interessado pelo movimento estudantil, ingressou na universidade, onde chegou a disputar eleição para a presidência do Diretório Central de Estudantes (DCE), porém sem sucesso. Já envolvido com a UJS, em 1992 se filiou ao PCdoB. “De lá para cá, minha militância sempre foi ligada aos movimentos juvenis, tanto com os secundaristas quanto com a universidade”, conta. Sua estadia na universidade durou outros 10 anos. “Eu era um jovem de classe média baixa e na época não existiam tantos programas de financiamento como vemos hoje. Tinha que fazer um número reduzido de cadeiras para pagar menos. Comecei em 1997, e tranquei no final de 1998. Retornei em 2001 e me formei em 2008. O que meus colegas faziam em um semestre, eu conseguia fazer em um ano”, lembra.
Foi depois do assessoramento de Juliano que Alex ingressou de vez na vida pública. Primeiro foi coordenador administrativo da Secretaria de Cultura, no governo de Airton Dipp. Assumiu mais tarde a direção do Hemocentro de Passo Fundo e, posteriormente, como secretário municipal de cultura. “Ser vereador não foi planejado nem desejado; apenas foi acontecendo, em grande parte pela minha atuação em espaços públicos. Meu planejamento mesmo era ter me graduado e seguido os estudos para, mais tarde, me tornar professor”, revela. Hoje se dedica integralmente ao mandato, mas pretende ingressar o mestrado na próxima legislatura. Líder do governo, Alex deve seguir na posição em 2017.
Trabalho no Legislativo
O projeto de sua autoria que considera mais importante é a criação da legislação específica da parceria público-privada, já sancionada pelo Executivo. “Existem segmentos da administração pública que não podem ter iniciativas do gênero, mas outros são liberados. Por isso fizemos uma legislação que resguarda isso, que foi aprovada e virou lei”, aponta. Como líder de governo, defendeu ações da administração de Luciano Azevedo (PSB) na restauração de espaços públicos. “Tenho o foco de atuação que me transformou em agente político que é o trabalho com a juventude, com a educação, com a tentativa de modernizar a cidade e a vida das pessoas. Isso tudo passa pelo avanço da mobilidade urbana. Para uma cidade ser democrática, ela precisa pensar nos mais variados aspectos e hoje vemos que a população sofre muito com o tempo perdido em deslocamento”, começa. Por isso, sua intenção é dar continuidade ao acompanhamento do processo de licitação do transporte público. Uma de suas primeiras ações do mandato foi apresentar pontos para tratar deste ponto na cidade.
Ainda assim, Alex abordará as bandeiras próprias do partido – desta vez em companhia do vereador da mesma bancada, Rudimar dos Santos, vulgo Rudi da Vila Isabel. Com a inexistência do PT na próxima legislatura, as bandeiras de esquerda se resumem ao PCdoB. “Daremos atenção para segmentos que precisam de atenção, como a questão de combate a intolerância religiosa, homofobia e racismo”, aponta. O vereador é suplente da Frente Parlamentar Mista da Câmara que trata do assunto. Para auxiliar no fomento dessas ideias, Necker pretende contar com a ajuda de dois mecanismos: o primeiro é a intensificação da interação através das redes sociais; seguido da criação de um Conselho de Mandato. “Vamos nos aproximar muito mais do movimento comunitário e dos bairros. Estamos planejando ações como o Gabinete Móvel, onde o mandato vai estar mais vinculado a alguns setores da sociedade, em especial das associações de moradores”, destaca.
Posicionamento político
Guiado pelas teorias científicas de Karl Marx, Friedrich Engels e Vladimir Lenin, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) é o mais antigo do país. De acordo com a cartilha formadora da sigla, a ideia é aplicar os pensamentos desses teóricos “criativamente à realidade do Brasil e desenvolvê-la sem cessar”. Alex compartilha deste posicionamento: desde que começou no movimento estudantil pertenceu à esquerda. Mesmo que a ideologia traga em si marcas populares, o processo eleitoral de 2016 demandou doses extras de trabalho na conquista pelo voto. Alex sintetiza o período pela necessidade da tão comentada renovação – independente da linha de pensamento. “Foi 'renovar por renovar' da forma mais variada possível. Onde eu ia as pessoas pediam 'você está concorrendo pela primeira vez' ou 'já é vereador?' e, em alguns locais, quando dizíamos que já estávamos na Câmara, independente do que tínhamos apresentado, já recebíamos um 'não', diziam que queriam algo novo”, relata. O desgaste do cenário político em geral foi o que rendeu dificuldade aos candidatos já eleitos. “Muitas pessoas achavam que por eu exercer a função de líder de um governo bem avaliado e por ter uma inserção nos movimentos sociais, teria uma eleição mais fácil”, avalia. Alex foi eleito com 1.051 votos – 136 a mais que em 2012, quando somou 915 votos.