Luiz Miguel Scheis já é uma figura conhecida em Passo Fundo. Foi radialista, policial militar e vereador – funções que, de uma forma ou outra, lhe alavancaram para a vida pública. Quando diz que esta é sua última legislatura na Câmara, não quer dizer que vá sair do cenário político da cidade – pelo contrário. “Não concorro mais à Câmara. Foi a última vez. E também não sou candidato a deputado estadual ou federal. Em 2020 ofereço meu nome ao partido para uma candidatura majoritária; para concorrer a prefeito de Passo Fundo”, define.
Aos 58 anos, é um dos vereadores com maior experiência prestes a assumir o mandato. “Quero aprender muito com a bancada jovem, mas também quero emprestar para ela a minha experiência. Deram o recado da renovação, então ainda bem que estou aqui de novo”. Antes da candidatura para a prefeitura, pretende colocar-se a disposição para presidir a Mesa Diretora novamente. “Mas em 2019. Em 2020 quero estar liberado para focar na campanha”. Enraizado no Partido Democrático Trabalhista (PDT) desde o início da vida política, dará ênfase à segurança pública no mandato que inicia em 2017.
O caminho público
Nascido e criado no bairro Vila Luiza, Luiz Miguel começou a trabalhar aos 11 anos, como engraxate, na praça Marechal Floriano. Foi no mesmo lugar que, mais tarde, aos 13, passou a vender cachorros quentes em uma das conhecidas carrocinhas centrais. Ali deu o primeiro passo para tornar-se radialista. “Comecei a conhecer as pessoas da imprensa. Sempre tive o sonho de trabalhar em rádio. Aos 17 anos atingi meu objetivo: fui um dos locutores mais jovens da extinta Rádio Municipal”, lembra. Fechada em 1978, foi contratado pela Rádio Passo Fundo – também extinta, que opera agora em outra emissora da cidade.
Chegou a ir trabalhar em rádios de Santa Catarina e Paraná, mas retornou a Passo Fundo para integrar de uma emissora nova que inaugurava no município. “O doutor Luiz Fragomeni queria uma programação na madrugada. Ele ouvia os programas que eu tinha na rádio Passo Fundo e sugeriu que eu fizesse a programação ao vivo da meia noite às 5h”, conta. Mais tarde, já com o programa no ar, Luiz Miguel prestou concurso público para a Polícia Civil, onde foi aprovado em 1981. Seu trabalho no funcionalismo público iniciou como investigador na Delegacia de Furtos, Roubos e Capturas – hoje conhecida como DEFREC – onde continuou atuando, concomitantemente, como radialista na programação noturna. “Era uma rotina pesada e, por fim, acabei optando por trabalhar com a Polícia”, completa. Há um mês, veio a aposentadoria após 34 anos de trabalho no setor.
Sua chegada na Câmara foi através do ex-prefeito Airton Dipp. “Em 1995 ele ainda era deputado federal e já pretendia concorrer a prefeito. Me procurou porque queria um candidato para concorrer a vereador que fosse da área da segurança. Fui um dos mais votados na minha primeira eleição, em 1996”, completa. Sua reeleição veio em 2000, 2004 e 2008 – eleito duas vezes presidente da Câmara: em 2006 e 2010. Em 2012 ficou de fora: os votos da legenda não foram suficientes para que Luiz Miguel seguisse na Casa. Em 2014 concorreu a deputado federal, quando somou pouco mais de seis mil votos.
O que já fez
O projeto de sua autoria que considera de maior repercussão foi o que proíbe as lojas de conveniência dos postos de gasolina a ficarem abertas após a meia noite. “Resolveu o problema do barulho de Passo Fundo? Não, não resolveu, mas amenizou”, declarou. Segundo ele, muitas pessoas entenderam que o fechamento foi dos postos em si – o que defendeu não ser verdade. “Os proprietários dos postos fecharam também porque entendem que somente a bomba de gasolina não é suficiente para dar lucro. Minha meta, desde o começo, foi fechar a conveniência por conta da algazarra”, apontou. Ele é favorável ao projeto de lei em trâmite na Câmara que pretende proibir o consumo de bebidas alcoólicas em via pública – de autoria do vereador Renato Tiecher (PSB). “Mas tem que ser posta em prática. De que adianta ter a lei se não tem quem fiscalize? A culpa não é da polícia: é do governo, porque não temos gente. E esse problema clama por solução imediata”, termina.
Planos para o mandato
“Como sou o único membro que representa a segurança pública, vou focar nisso”, começa Scheis. Sua primeira sugestão é buscar um convênio entre Município e Governo do Estado para trazer policiais militares inativos para cuidar dos espaços públicos de Passo Fundo. “Todo mundo fala em Guarda Armada, mas acho que não sabem como é a legislação. A Guarda só pode ser criada em municípios com mais de 500 mil habitantes – o que não é o nosso caso. Minha ideia é um convênio entre poderes municipal e estadual para reaproveitamento dos inativos e ponto final”. Além disso, também pretende tratar a implantação de um maior número de câmeras de videomonitoramento na cidade.
Outra questão a ser abordada é uma indicação à Mesa Diretora para que as sessões da Câmara iniciem às 18h. “As sessões sempre iniciaram às 17h, então eu tive uma surpresa quando soube da mudança. Disseram que era pela economia, mas não sei se é por isso. Nós vereadores fiscalizamos o Executivo e quem nos fiscaliza? Temos que trazer o povo para dentro da Câmara, fazer com que a população nos assista e acompanhe o que fazemos”, defende. Atualmente as sessões ocorrem às 15h, nas segundas e quartas-feiras.
Posicionamento
Tendo como líder o político gaúcho Leonel Brizola, o PDT surgiu em 1979 para levantar a bandeira do “novo Trabalhismo” – uma corrente que “contempla a propriedade privada, condicionando seu uso às exigências do bem-estar social”, como diz a Carta de Lisboa; documento que dá todas as diretrizes do partido. O PDT, portanto, defende a intervenção do Estado na economia, porém de maneira normativa. É, como definem, uma proposta baseada na liberdade e autonomia sindical, e uma sociedade socialista e democrática – posições que deixam o partido à centro-esquerda.
É o que segue Luiz Miguel. “Sempre fui do PDT; permaneci, estou e não saio do PDT. Tenho uma ideologia trabalhista muito grande, de raízes”, pontua. Ele o acompanhará também na oposição que o partido faz ao PSB do prefeito Luciano Azevedo. “Se o meu partido diz que sou oposição, então serei oposição. Mas qual oposição? Não serei contra apenas por ser contra. Torço, sim, para que o atual prefeito faça uma boa gestão”, termina.