"O que podia ser feito, eu fiz"

Reeleito, Aristeu Dalla Lana vai para o quinto mandato. Ele torna-se, assim, o vereador com maior número de reeleições ininterruptas da Câmara passo-fundense

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Aristeu Dalla Lana divide-se entre as funções de vereador e mecânicoAristeu Dalla Lana divide-se entre as funções de vereador e mecânico
Aristeu Dalla Lana divide-se entre as funções de vereador e mecânico
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Já são 16 anos que o vereador reeleito Aristeu Dalla Lana (PTB) senta no mesmo lugar da Câmara de Vereadores. Reeleito com 1.515 votos, ele torna-se um dos legisladores com maior tempo ininterrupto de Casa: ao final de 2020, completará duas décadas de bancada. É a partir daí que ele questiona se deve continuar, ou não, seu trabalho como vereador.

“O que podia ter feito pela Câmara já fiz. Se eu não morrer – porque o futuro a Deus pertence – quero continuar na Câmara até terminar esse mandato. Depois a gente vê o que acontece”, disse. Nascido e crescido em Passo Fundo, Dalla Lana divide suas tarefas entre a Câmara e uma oficina mecânica no bairro Boqueirão.

O caminho até a Câmara

A relação com a política era inexistente até antes da primeira eleição, em 2000. O que existia, na verdade, era o trabalho de recolhimento de meninos de rua. Como Dalla Lana aprendeu desde cedo a profissão de mecânico, quando ficou mais velho e teve sua própria oficina começou a recolher meninos que vinham de outras cidades ou que tinham problemas na família para que trabalhassem com ele. “Nosso sonho era profissionalizar a gurizada de rua. Chegamos a ter 20 meninos morando nesse galpão e trabalhando na oficina. Eles chegavam em Passo Fundo para estudar e não tinham onde morar, então dávamos um lugar para eles. Hoje tenho aqui na cidade até 30 oficinas de guris que aprenderam a trabalhar comigo”, conta.

Por ser conhecido na região do bairro Boqueirão, alguns amigos o chamaram para fazer parte do PTB na época da primeira eleição. “Me convidaram porque sabiam que eu fazia um trabalho social e que já era conhecido. Pediram ‘vai aí e faz uns votinhos’ e eu fui. Na campanha, anotava meu número em qualquer carteira de cigarro, papel ou jornal. Eu dizia: ‘está aqui o meu número, se quer votar em mim, vota’. E quiseram”, lembra. Na época, Dalla Lana ficou suplente de um vereador reeleito que foi chamado para assumir uma das secretarias da Prefeitura. Desta forma, assumiu o lugar dele e desde então não saiu da Câmara. Hoje com 58 anos, é o único vereador com cinco mandatos ininterruptos de Passo Fundo. 

Seu trabalho com os jovens, por outro lado, terminou por determinação da Justiça do Trabalho. “As leis não permitem que um homem de 16 anos, que já escolhe presidente da república, possa aprender uma profissão porque ela é insalubre. Digo isso aqui e digo na tribuna: as leis trabalhistas são o câncer desse país”, defende. Na época da proibição, Dalla Lana chegou a pagar multa pela condenação. “Mas não desisti. Sei que de todos os guris que atendi, se não fosse pelo meu trabalho, 80% deles teria virado bandido. Dizem que as companhias não influenciam, mas influenciam, sim”.

O que já fez

Uma das frases mais repetidas por Dalla Lana na tribuna é a que diz que “Passo Fundo vai virar a crackolândia do Brasil”. Por isso, auxiliou o vereador Sidnei Ávilla (PP) a criar o Comitê de Combate ao Crack. “Mesmo que eu tenha ajudado a criar, sempre digo que isso não vai resolver nada. Para combater a droga só tem um caminho: a prevenção”. Por isso, um dos projetos que considera de maior importância nos seus anos de mandato é o que inclui no currículo escolar uma matéria alertando as crianças sobre os malefícios da droga. “Muitos pais têm medo de falar sobre isso, então acho que a criança tem, sim, que saber. A droga é o começo do fim de tudo”, destaca. O projeto – protocolado em 2002 – não chegou a ser aprovado. Já o PAC – Programa Apoiar e Comprometer – saiu do papel. No governo de Dipp e Ceconello, Dalla Lana participou dos trabalhos que tinham como tema a frase “Criança e adolescente com profissão é certeza de cidadão”.

Ainda assim, seu projeto maior é tentar acabar com as diárias dos políticos. “Eu nunca tive sequer um vereador que me ajudou nisso, exceto o doutor Ernani Laimer (PPS). E olha que por mim já passaram mais de 50 vereadores e vai passar ainda mais – se Deus quiser – e nenhum vai aprovar”. Para Dalla Lana, é desnecessário viajar em busca de emendas. “Eu trouxe milhões de emendas para Passo Fundo sem nunca ter usado nenhuma diária. Diária de político é o início de todas as falcatruas. Hoje você conversa com quem quiser sem sair do lugar”. Segundo ele, o Hospital de Olhos e o Hospital Municipal foram dois locais que já receberam investimentos com base em emendas de sua autoria.

Posicionamento político

O PTB foi o partido fundado com base nas ideologias de Getúlio Vargas – figura política que governou o país de 1930 a 1945. Foi ele quem deu início a uma série de medidas conhecidas como direitos trabalhistas – desde férias remuneradas até o 13º salário. Mesmo que Dalla Lana ressalte que não gosta de partidos políticos, ele afirma que, ideologicamente, compactua com as diretrizes do PTB. “Escolhi esse porque acho que Getúlio Vargas foi o maior ícone de uma época. Nunca pretendo sair deste partido – só se me atropelarem de lá”, diz. Para ele, Getúlio Vargas é o parâmetro da verdade. “Foi o único homem que realmente acabou com a escravidão deste país. Ele deu todos os direitos aos trabalhadores, mas também tinha uma coisa que eu gosto: energia. Deu todos os direitos, mas na primeira greve já mandou os ‘milicos’ tomarem providência. Isso é algo correto de se fazer. Poxa, os trabalhadores não tinham nada e agora têm tudo. Quando você era escravo, não fazia greve”, termina. 

 

O que pretende fazer

Para o próximo mandato, Dalla Lana ainda não tem nada específico definido. “Como dá para ver, eu uso pouco papel; uso muito da razão, mas vou mais pelo coração. As demandas a gente vê durante o mandato”, pontua. 

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