Sandro Mabel (PMDB-GO), assessor especial do presidente Michel Temer, pediu demissão na noite desta terça-feira. Em carta ao presidente, Mabel não justifica a saída do governo e agradece Temer pela "luta". O assessor especial, que despachava no mesmo andar do presidente, ocupava o mesmo cargo de Tadeu Filippelli, preso nesta terça-feira, Rodrigo Rocha Loures, flagrado recebendo R$ 500 mil da JBS, e José Yunes, que depois de sair do governo acusou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, de tê-lo usado como "mula" para uma "encomenda".
Segundo delatores da Odebrecht, Mabel teria recebido caixa 2 da empreiteira na campanha de 2010. O ex-executivo Benedicto Barbosa disse aos investigadores que a empresa repassou R$ 140 mil não declarados a Mabel. Também em colaboração premiada, João Antônio Pacífico e Ricardo Roth afirmaram que o dinheiro enviado por caixa 2 chegou a R$ 100 mil.
Ainda em delações da construtora, o ex-assessor especial de Michel Temer foi implicado por José Carvalho Filho. Mabel teria feito parte de um esquema para aprovar uma medida provisória, com vistas a reduzir alíquotas do PIS/PASEP e da Cofins. Em troca, a Odebrecht pagaria R$ 2 milhões a Sandro Mabel, o ex-ministro Mario Negromonte (PP-BA), e os ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE) e Pedro Henry (PP-MT).
Segundo o assessor, Temer teria lhe dado o aval para sair do governo no último dia 18. Na véspera, o GLOBO mostrou que o presidente deu aval para que Joesley Batista, dono da JBS, comprasse o silêncio de Eduardo Cunha.
Na carta que mandou a Michel Temer, Mabel diz que havia pedido para deixar o governo ainda em dezembro. “Precisava voltar para casa, como havia prometido à minha mulher e a meus filhos”, escreveu. Temer teria, então, lhe pedido para ficar por mais quatro meses. No fim de março, Sandro Mabel voltou a pedir a saída ao presidente.
“Saiba que tenho o maior apreço por você, meu amigo, e me orgulho de sua competência e capacidade em arrumar soluções de pontos importantes para que o Brasil dê um grande salto em direção a uma nova era de prosperidade e desenvolvimento. Tenho certeza que esse será seu legado para nosso povo”.
O ex-colega de Rocha Loures, Tadeu Filippelli e José Yunes no mesmo andar do presidente no Palácio do Planalto ainda mencionou, na carta, que foi um dos que convenceu Temer a dar uma "mudança urgente" no governo em 2015. No ano seguinte, a ex-presidente Dilma Rousseff foi afastada por impeachment e Temer, vice, assumiu a Presidência.
De acordo com Mabel, Michel Temer, "com sua discrição peculiar, não admitia nem mesmo falar sobre o assunto”, mas o "senso de responsabilidade falou mais alto".
ASSESSORES DEIXAM O GOVERNO
Nesta terça-feira, Filippelli foi demitido depois de ser preso em operação da Polícia Federal que investiga superfaturamento nas obras do estádio Mané Garrincha, em Brasília, para a Copa do Mundo. A operação foi baseada em delação premiada da construtora Andrade Gutierrez.
O superfaturamento na construção chega a quase R$ 900 milhões — com custo previsto de R$ 600 milhões, o estádio saiu a R$ 1,575 bilhão ao fim de 2014. Trata-se da arena mais cara de toda a competição. Também foram presos o ex-senador José Roberto Arruda (PR), que governou o DF de 2007 a 2010, e seu sucessor, o petista Agnelo Queiroz, que já foi ministro dos Esportes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Já na última semana, o também ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures, em imagens reveladas pelo GLOBO, foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, diretor da JBS. No começo de março, ele saiu do Planalto e foi exercer o cargo de deputado federal, já que era suplente do atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio.
Outro funcionário que despachava no mesmo andar do presidente da República, José Yunes saiu do governo depois de ser citado em delação da Odebrecht como beneficiário de dinheiro da construtora. Ele e Temer eram amigos de longa data.
Yunes deixou o governo em dezembro do último ano. Depois, em fevereiro deste ano, afirmou que foi usado como "uma mula", em 2014, pelo ministro Eliseu Padilha, e que Temer tinha conhecimento. Segundo relato de Yunes, o ministro da Casa Civil o procurou e pediu se uma pessoa poderia deixar no escritório dele um "documento" para, posteriormente, outra pessoa retirá-lo. A pessoa era Lúcio Funaro, doleiro ligado a Eduardo Cunha e preso desde julho do ano passado.
Funaro, que tem a Medalha Tiradentes, maior honraria concedida pela Alerj, aparece na delação de Joesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS. Segundo o empresário, o presidente Temer diz que é importante manter a mesada de R$ 400 mil ao doleiro para "garantir seu silêncio".
Na última quinta-feira, a irmã de Lúcio Funaro, Roberta Funaro, também foi presa em operação da PF. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa do doleiro.
Fonte: Jornal O Globo