Transparência gaúcha não é precária nem ideal, diz TCE

Em evento realizado em Passo Fundo, o conselheiro do TCE, Cezar Miola, falou sobre as principais deficiências dos municípios gaúchos quando relacionado a aplicação da Lei da Transparência

Por
· 4 min de leitura
Encontro reuniu gestores de 67 municípios da região no auditório da FEAC da UPFEncontro reuniu gestores de 67 municípios da região no auditório da FEAC da UPF
Encontro reuniu gestores de 67 municípios da região no auditório da FEAC da UPF
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Ainda que o acesso à informação nos municípios gaúchos tenha apresentado uma melhora gradativa ao longo dos anos, este índice ainda está longe do ideal. Foi o que afirmou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Cezar Miola, durante o 13º Encontro Regional de Controle e Orientação (ERCO), realizado em Passo Fundo nessa quinta-feira (22). Pelo menos 450 gestores públicos dos poderes Executivo e Legislativo de 67 municípios da região estiveram presentes. Na ocasião, o TCE apresentou um guia prático de questões referentes a Lei da Transparência, além de informar sobre atividades de controle e fiscalização externa; e promoção da prevenção de irregularidades na administração pública.

A prevenção de irregularidades é fator crucial nesta caminhada. De acordo com Miola, algumas situações acabam eventualmente se repetindo neste aspecto. As mais comuns são questões ligadas a licitações. Neste ponto, uma parte é por erros formais e outra por fraudes propriamente ditas. “Muitas vezes decorrem da aplicação irregular da lei. Nestes casos não geram só prejuízos financeiros ou aos cofres públicos, mas também afetam a competição e igualdade entre todos os que poderiam estar concorrendo”, disse o conselheiro. Outra irregularidade frequente atinge o campo  dos concursos públicos. Segundo ele, não é incomum ver contratações temporárias irregulares. Um exemplo: ao invés do município lançar edital de concurso, ele simplesmente contrata um servidor temporariamente repetidas vezes. Além de ilegal, isso faz com que os interessados e legalmente competentes não possam disputar igualmente a vaga através de concurso. A Lei da Transparência é outro fator que apresenta déficit no estado. A legislação – em vigor desde 2012 – mudou o conceito de entendimento das gestões: coloca a administração pública em público. “Ela é muito importante porque faz com que o cidadão exerça o controle social. O Tribunal acompanha este assunto anualmente. Sentimos que há, sim, um processo de melhora desde 2012, mas ainda há muito por avançar”, completou ele.

Efetividade em Passo Fundo é equilibrada

O IEGM/TCERS é um índice que avalia a efetividade das políticas públicas dos municípios gaúchos. Passo Fundo, neste sentido, possui esferas equilibradas. Os setores de Planejamento, Meio Ambiente e Cidades Protegidas, por exemplo, possui um baixo nível de adequação. Na prática, isso significa que o município possui IEGM menor ou igual a 49,9% de consistência entre o que foi planejado e efetivamente executado durante 2016. Nestes três aspectos, Passo Fundo segue a média estadual: no gráfico traçado pelo TCE, a maioria dos municípios carece nestas áreas. Por outro lado, os indicadores de Educação e Tecnologia da Informação estão bem colocados: os dois alcançaram o índice 'muito efetivo', o que representa estar entre 75% e 89,9% de coerência entre gastos e feitos municipais. Já nos índices de Saúde e Gestão Fiscal, o resultado é efetivo. De modo geral, o IEGM de Passo Fundo alcançou a efetividade em suas ações em 2016, como mostra o TCE. 

Déficit na educação

O cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE) ainda é uma “briga” dentro da fiscalização do TCE e do próprio Ministério Público no RS. A meta define que 100% das crianças de 4 a 5 anos devem ter espaço garantido no atendimento da pré escola. O prazo terminava em 2016, mas nem todos os municípios – e muito menos o estado – está perto do índice. De acordo com o último levantamento do Tribunal, o RS ainda precisa abrir 73,8 mil vagas nas pré escolas. Passo Fundo segue o mesmo rumo: a cidade está em 287º no ranking que mais avançaram no quesito em 2014. De acordo com o PNE, caímos 38 posições no atendimento em educação infantil desde 2013. Em 2015, como apontou um levantamento publicado no fim do ano passado pelo TCE, tínhamos 75,9% na cobertura das vagas de 4 a 5 anos – o que representa a necessidade da criação de mais de 1,1 mil vagas mesmo depois do prazo estipulado. A outra meta é que 50% das crianças de 0 a 3 anos sejam atendidas nas creches até 2024. Hoje a necessidade é por 98,3 mil vagas em todo RS.

“Muitos municípios já alcançaram estas metas, mas outros não. Por isso o Tribunal tem orientado os gestores e falado muito sobre esta matéria. Precisamos dar atenção para esta exigência profissional e legal, sobretudo porque é o nosso mecanismo de desenvolvimento e mitigação das desigualdades que só a educação pode – efetivamente – proporcionar”, declarou Miola.

Gestores preocupados = transparência efetiva

É perceptível uma melhora no quesito transparência, diz Miola. Segundo ele, é notável o processo de evolução, mesmo que ainda exista muito a se avançar. O que acontece é que o TCE acompanha todos os passos do gestor: faz um mapeamento global, identifica as situações e, se houver um caso concreto de irregularidade na prestação de contas, o gestor é intimado a adotar medidas para solucionar isso. Uma das consequências, neste caso, é a responsabilização pela Lei de Improbidade Administrativa – a mesma responsável pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. É preciso lembrar, no entanto, que cada caso é um caso – e passa por uma detalhada avaliação antes que apareçam fatos devidamente comprovados. A aplicação de multa e reprovação das contas são outros métodos de coibir irregularidades na transparência dos municípios. Esta última situação, no entanto, não é exatamente comum no RS. “Há problemas, sim, mas eles são pontuais e em escala menor”, detalhou Miola.

Sobre o Encontro

Passo Fundo é a 10ª e última cidade do estado a receber a visita do TCE. O encontro acontece desde a década de 1990 durante o primeiro e último ano de mandato das gestões municipais. A ideia é colocar os novos gestores a par dos trâmites legais referentes a prestação de contas, etc. 

Gostou? Compartilhe