Formalmente denunciado por corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Michel Temer resolveu sair da defensiva e atacou o grupo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pela denúncia, na tentativa de desqualificar a delação premiada do Grupo JBS que o levou à mais grave crise de seu governo. Repetindo por diversas vezes que tem “formação de jurista”, Temer apontou fragilidades na denúncia e mencionou um dos procuradores que, há até pouco tempo, trabalhava com Janot na PGR e depois foi contratado pela JBS.
Antes de citar o nome do acusado, Temer disse que o faria porque seu nome havia sido “usado deslavadamente na denúncia”. “Marcelo Miller, homem da mais estrita confiança do senhor procurador-geral. [...] Ele abandona o Ministério Público para trabalhar na empresa que faz delação premiada com o procurador-geral!”, acusou Temer, acrescentando que Marcelo sequer cumpriu a quarentena imposta a membros do Ministério Público Federal (MPF). “Ele ganhou, na verdade, ganhou milhões em poucos meses.”
Temer iniciou o discurso capitalizando o fato de que diversos de seus apoiadores o acompanhavam no pronunciamento oficial, em um auditório do Palácio do Planalto. “Se eu fosse presidente da Câmara dos Deputados, eu faria uma sessão. Há quórum, né?”, ironizou.
No discurso sem leitura, Temer se fez acompanhar de parlamentares e ministros que o aplaudiram ao final da fala, que durou cerca de 15 minutos. Foi a maneira que o presidente, que já sofre baixas em sua base de sustentação parlamentar, encontrou para transmitir para a opinião pública – e, principalmente, para a própria base – a impressão de solidez da sua gestão.
“Vocês sabem que estou na área jurídica. Eu não me impressiono com a falta de fundamentos jurídicos. Sei quando a matéria é substanciosa, não tem fundamentos jurídicos”, discursou o peemedebista, no início do pronunciamento, por ele justificado por se sentir “no dever de fazer”.
Para Temer, abriu-se um precedente perigosíssimo no Direito Penal com a denúncia de Janot. “Se fosse só o aspecto jurídico, eu não estaria fazendo esse pronunciamento. Eu o faço em função da repercussão política”, reclamou o presidente, dizendo-se vítima de “ataque injurioso, infame”. “Nunca vi o dinheiro [mala de R$ 500 mil, constante da denúncia], não participei de acertos par acometer ilícitos. Onde estão as provas concretas sobre o recebimento desses valores”, ironizou, voltando a carga para Joesley Batista, o empresário que o colocou na situação de denunciado no STF.
“Quem deveria estar na cadeia está viajando livremente para Nova York ou para Pequim, e pode voltar para o Brasil e ainda criar uma nova história”, acrescentou Temer, em referência indireta à entrevista que Joesley deu à revista Época, que estampou em sua capa a declaração de que Temer chefia a “maior e mais perigosa” quadrilha do país.